31 de maio de 2012

No Dia Mundial sem Tabaco, Brasil aborda danos à saúde e ao meio ambiente

31/05/2012
Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil


Brasília – O tema definido pelo governo brasileiro para o Dia Mundial sem Tabaco, lembrado hoje (31), é "Fumar: Faz Mal pra Você, Faz Mal para o Planeta". Dados do Ministério da Saúde indicam que o percentual de fumantes no país passou de 16,2% em 2006 para 14,8% no ano passado. É a primeira vez que o índice fica abaixo dos 15%.

A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada em abril, indica ainda que a frequência de fumantes continua maior entre os homens: 18,1% contra 12% entre as mulheres. Mesmo assim, a população masculina lidera os números sobre a redução do tabagismo no país, já que 25% deles declararam ter deixado de fumar, contra 19% entre pessoas do sexo feminino.

Humberto Fernandes dos Santos, 44 anos, é um dos brasileiros que conseguiram largar o vício. O aposentado começou a fumar aos 16 anos, por curiosidade. Depois disso, tentou parar por três vezes, mas só conseguiu abandonar o cigarro em 2008, aos 41 anos. “Apresentei alguns problemas de saúde, inclusive arritmia cardíaca. De lá para cá, não fumei mais”, contou.

As primeiras semanas na tentativa de cortar o vício, segundo ele, são as mais difíceis. “Você sempre se lembra do cigarro. Para me controlar, parei de beber café, comecei a fazer exercícios e passei a estudar regularmente para ocupar a mente. É uma luta diária, mas desde que parei de fumar, percebi que estou mais tranquilo e respirando melhor”.

As secretarias de Saúde em todo o país têm atividades agendadas para hoje, com o objetivo de reforçar o combate ao tabaco. No Distrito Federal, representantes da Coordenação do Programa de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer participam de ações na Ala Mário Covas da Câmara Federal. Servidores e visitantes poderão fazer exames, como o que mede a capacidade respiratória, o teste de dependência química, a aferição de pressão arterial e ocular e a avaliação odontológica para câncer de boca.

Na capital paulista, das 10h às 15h, profissionais do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas estarão no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) distribuindo folhetos informativos sobre o uso do tabaco, do álcool e de outras drogas. Serão realizados também testes de dependência, avaliação odontológica e testes para avaliar o índice de monóxido de carbono no pulmão de fumantes. As pessoas que apresentarem alto risco de dependência serão encaminhadas a serviços especializados para tratamento gratuito.

No Ceará, o Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes promoverá exposição das substâncias prejudiciais à saúde contidas no cigarro, das 11h às 14h. De acordo com a Secretaria de Saúde local, a fumaça do cigarro contém mais de 4.700 substâncias tóxicas, incluindo arsênico, amônia, monóxido de carbono (o mesmo que sai do escapamento dos veículos), além de substâncias cancerígenas, corantes e agrotóxicos em altas concentrações.

Edição: Graça Adjuto

Um bilhão devem morrer por causa do fumo até o final do século, prevê Fundação Mundial do Pulmão

21/03/2012
Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil


Brasília – Um bilhão de pessoas devem morrer por uso e exposição ao fumo até o final deste século. O número é equivalente a uma morte a cada seis segundos. A previsão consta de relatório da Fundação Mundial do Pulmão e da Sociedade Americana do Câncer divulgado hoje (21).

Na última década, as mortes pelo uso de tabaco triplicaram, chegando a 50 milhões. Somente em 2011, 6 milhões de pessoas morreram, sendo 80% delas em países pobres e em desenvolvimento. De acordo com a fundação, o cigarro e outros derivados de tabaco são responsáveis por 15% das mortes de homens em todo o mundo e 7% entre as mulheres.

As projeções se baseiam no fato de que estudos indicam que o organismo de quem fuma continuadamente fica mais propenso a desenvolver doenças como câncer, ataques cardíacos, diabetes, doenças respiratórias crônicas, dentre outras.

A China é o país onde há mais vítimas do fumo. A cada ano, 1,2 milhão de pessoas morrem em decorrência do uso do tabaco. Esse número deve saltar para 3,5 milhões até 2030, segundo as entidades, que elaboram um atlas com dados sobre os efeitos do tabaco desde 2002.

Conforme o relatório, a indústria do tabaco tem trabalhado em todas as partes do mundo para postergar ou abolir a adoção de medidas contra o hábito de fumar, como propagandas de advertência, leis de restrição ao consumo e introduzindo no mercado produtos ditos de baixo teor. Nos últimos dez anos, 43 trilhões de cigarros foram consumidos e a produção cresceu 16,5% no mesmo período.

No último dia 13, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a fabricação e venda de cigarros com sabor no país, entre eles, os mentolados e de cravo. Os produtos sairão das prateleiras dentro de dois anos. Para a agência reguladora e entidades de combate ao tabagismo, os cigarros com sabor são usados pela indústria para atrair jovens e adolescentes. Os fabricantes rebatem a crítica e alegam que a proibição vai aumentar o comércio ilegal desses produtos no Brasil.

Edição: Lana Cristina

Tabaco é segunda causa de mortes no mundo

31/05/2012
Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil


Brasília – No Dia Mundial sem Tabaco, lembrado hoje (31), a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o uso de produtos derivados do fumo é a segunda causa de mortalidade no mundo, respondendo por um em cada dez óbitos registrados entre adultos. O fumo só perde, em número de mortes, para a hipertensão.

O tema deste ano é Interferência da Indústria do Tabaco. O objetivo é expor e combater tentativas consideradas pela OMS como “descaradas e cada vez mais agressivas” de minar os esforços no controle da substância.

Umas das críticas aborda, por exemplo, ações para acabar com as campanhas de advertências sanitárias que ilustram as embalagens de cigarro. As empresas, de acordo com a OMS, têm processado países, utilizando como argumento tratados bilaterais de investimentos e alegando que as imagens e os dizeres atingem o direito de utilizar marcas legalmente registradas.

Outro problema citado pela entidade trata das tentativas, também por parte da indústria do tabaco, de acabar com leis que proíbem o fumo em locais públicos fechados e que limitam a publicidade de produtos derivados da substância.

O fumo é considerado pela OMS como uma das principais causas preveníveis de morte em todo o mundo. Entretanto, o cenário traçado pelo órgão é de epidemia global, já que o tabaco mata quase 6 milhões de pessoas todos os anos – mais de 600 mil delas são fumantes passivos.

“A menos que tomemos uma atitude, o tabaco vai matar mais de 8 milhões de pessoas [ao ano] até 2030, sendo mais de 80% em países de baixa e média renda”, ressaltou a OMS, em nota
.
Edição: Graça Adjuto

Brasil gastou R$ 21 bilhões com doenças relacionadas ao tabaco no ano passado

31/05/2012           
 
Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Pesquisa divulgada pela Aliança de Controle do Tabagismo indica que R$ 21 bilhões foram gastos no ano passado em saúde pública e privada com doenças relacionadas ao fumo. De acordo com a entidade, o montante representa quase 30% do valor destinado ao Sistema Único de Saúde (SUS).

O estudo revela ainda que o tabagismo é responsável por 130 mil óbitos ao ano no Brasil, o equivalente a 13% do total de mortes registradas no país.

Para a diretora da Aliança de Controle do Tabagismo, Paula Johns, é preciso desfazer o mito de que o tabaco é ruim para saúde, mas bom para a economia do país, “A realidade é outra. Os custos são enormes”, ressaltou.

O estudo, segundo Paula, demonstra, que o país gasta mais com o tratamento de doenças consideradas evitáveis do que o montante que é recolhido pela indústria do tabaco na forma de impostos.
Ela alertou ainda que o estudo considerou apenas os custos diretos gerados pelo consumo de produtos derivados do tabaco para a saúde no país e não contabilizou, por exemplo, os casos registrados entre fumantes passivos. “Os valores seriam ainda maiores”, disse.

Entre as recomendações listadas pela Aliança de Controle do Tabagismo para o combate ao fumo no Brasil está a necessidade de novas pesquisas que incluam doenças como a tuberculose na lista de enfermidades relacionadas ao fumo, além de levantamentos sobre os custos ambientais provocados pela produção do tabaco no Brasil.

O secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, avaliou que o governo se sente “confortável e, ao mesmo tempo, preocupado” com o enfrentamento ao tabaco no país. Ele lembrou que foram registrados avanços como a queda no número de fumantes - o percentual passou de 16,2% em 2006 para 14,8% no ano passado. Ele lembrou, entretanto, que o país ainda contabiliza 25 milhões de pessoas que fumam.

“Precisamos aperfeiçoar o aspecto legal que trata do banimento do fumo em ambientes fechados, da taxação inibidora e do avanço no combate à pirataria”, destacou.

30 de maio de 2012

A Força da Imagem do PT

Por Marcos Coimbra *
www.cartacapital.com.br

Ao contrário do que se costuma pensar, o sistema partidário brasileiro tem um enraizamento social expressivo. Ao considerar nossas instituições políticas, pode-se até dizer que ele é muito significativo.
Em um país com democracia intermitente, baixo acesso à educação e onde a participação eleitoral é obrigatória, a proporção de cidadãos que se identificam com algum partido chega a ser surpreendente.
Se há, portanto, uma coisa que chama a atenção no Brasil não é a ausência, mas a presença de vínculos partidários no eleitorado.

Conforme mostram as pesquisas, metade dos eleitores tem algum vínculo.

Seria possível imaginar que essa taxa é consequência de termos um amplo e variado multipartidarismo, com 29 legendas registradas. Com um cardápio tão vasto, qualquer um poderia encontrar ao menos um partido com o qual concordar. Mas não é o que acontece. Pois, se o sistema partidário é disperso, as identificações são concentradas. Na verdade, fortemente concentradas.

O Vox Populi fez recentemente uma pesquisa de âmbito nacional sobre o tema. Deu o esperado: 48% dos entrevistados disseram simpatizar com algum partido. Mas 80% desses se restringiram a apenas três: PT (com 28% das respostas), PMDB (com 6%) e PSDB (com 5%). Olhado desse modo, o sistema é, portanto, bem menos heterogêneo, pois os restantes 26 partidos dividem os 20% que sobram. Temos a rigor apenas três partidos de expressão. Entre os três, um padrão semelhante. Sozinho, o PT representa quase 60% das identidades partidárias, o que faz com que todos os demais, incluindo os grandes, se apequenem perante ele.

Em resumo, 50% dos eleitores brasileiros não têm partido; 30% são petistas e 20% simpatizam com algum outro – e a metade desses é peemedebista ou tucana. Do primeiro para o segundo, a relação é de quase cinco vezes.

A proeminência do PT é ainda mais acentuada quando se pede ao entrevistado que diga se “simpatiza”, “antipatiza” ou se não tem um ou outro sentimento em relação ao partido. Entre “muita” e “alguma simpatia”, temos 51%. Outros 37% se dizem indiferentes. Ficam 11%, que antipatizam “alguma” coisa ou “muito” com ele.

Essa simpatia está presente mesmo entre os que se identificam com os demais partidos. É simpática ao PT a metade dos que se sentem próximos ao PMDB, um terço dos que gostam do PSDB e metade dos que simpatizam com os outros.

Se o partido é visto com bons olhos por proporções tão amplas, não espanta que seja avaliado positivamente pela maioria em diversos quesitos: 74% do total de entrevistados o consideram um partido “moderno” (ante 14% que o acham “ultrapassado”); 70% entendem que “tem compromisso com os pobres”(ante 14% que dizem que não); 66% afirmam que “busca atender ao interesse da maioria da população” (ante 15% que não acreditam nisso). Até em uma dimensão particularmente complicada seu desempenho é positivo: 56% dos entrevistados acham que “cumpre o que promete” (enquanto 23% dizem que não). Níveis de confiança como esses não são comuns em nosso sistema político.

Ao comparar os resultados dessa pesquisa com outras, percebe-se que a imagem do PT apresenta uma leve tendência de melhora nos últimos anos. No mínimo, de estabilidade. Entre 2008 e 2012, por exemplo, a proporção dos que dizem que o partido tem atuação “positiva na política brasileira” foi de 57% a 66%.


O sucesso de Lula e o bom começo de Dilma Rousseff são uma parte importante da explicação para esses números. Mas não seria correto interpretá-los como fruto exclusivo da atuação de ambos.

Nas suas três décadas de existência, o PT desenvolveu algo que inexistia em nossa cultura política e se diferenciou dos demais partidos da atualidade: formou laços sólidos com uma ampla parcela do eleitorado. O petismo tornou-se um fenômeno de massa.

Há, é certo, quem não goste dele – os 11% que antipatizam, entre os quais os 5% que desgostam muito. Mas não mudam o quadro.

Ao se considerar tudo que aconteceu ao partido e ao se levar em conta o tratamento sistematicamente negativo que recebe da chamada “grande imprensa”- demonstrado em pesquisas acadêmicas realizadas por instituições respeitadas – é um saldo muito bom.

É com essa imagem e a forte aprovação de suas principais lideranças que o PT se prepara para enfrentar os difíceis dias em que o coro da indústria de comunicação usará o julgamento do mensalão para desgastá-lo.

Conseguirá?


* Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
A avaliação de sua contribuição para o crescimento do País também se mantém elevada: em 2008, 63% dos entrevistados estavam de acordo com a frase “O PT ajuda o Brasil a crescer”, proporção que foi a 72% neste ano.

28 de maio de 2012

Cotas sim, mas para quem?

José Carlos Sturza de Moraes

As muitas polêmicas sobre as cotas sociais, raciais, de inclusão etc., estão servindo para que a sociedade possa discutir mais amplamente a questão da educação no Brasil. É uma possibilidade de aprofundarmos uma de nossas mais consensuais mazelas, mas que atinge desigualmente a população e, em regra, faz mal ao desenvolvimento de nosso País. Segundo informações oficiais da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul, com base no Censo Escolar da Educação Básica 2010 (MEC/INEP), 411.485 estudantes estavam matriculados em 2010 para o Ensino Médio no Estado. Destes 43.912 (11,95%) em escolas privadas e 367.573 (88,05%) em escolas públicas, predominantemente estaduais. Com essa informação, e tendo em vista que a Ufrgs está em processo de reavaliação da política de cotas, após coincidente decisão do Supremo Tribunal Federal, de que tal política é constitucional (não fere direitos assegurados), gostaria que ponderássemos sobre a possibilidade de um erro histórico cometido pela política de cotas. Um erro basilar.

 Falamos de cotas (reserva de vagas a ser ocupada por determinado público, mediante determinadas condições) que, no caso da Ufrgs, significa reservar 30% das vagas a estudantes oriundos de escolas públicas. Por que 30% de vagas para estudantes oriundos de escolas públicas? Por que não reservar 15% para estudantes provenientes de instituições privadas? Sim, seria mais lógico e justo. Afinal, se menos de 15% de estudantes oriundos de escolas privadas têm assegurada a possibilidade de disputa de 70% das vagas, estamos, apenas e novamente, reproduzindo e mantendo o status quo. Uma injustiça! No sistema atual, embora um avanço frente aos mais de 90% antes destinados aos egressos do ensino privado, ou de escolas públicas autorizadas a fazer seu ‘pré-vestibular’ de ingresso (selecionando os ‘mais aptos’ a manter a ‘excelência’ da instituição), ainda se dá privilégio a uma minoria da sociedade. Uma minoria que, por inúmeras razões, não precisa de privilégios, pois já os têm. Não necessita ser ainda mais apoiada pelo dinheiro público, mas também não pode ser discriminada e impedida de entrar na universidade pública!

 Assim, uma possibilidade para a Ufrgs poderia ser reservar um percentual de vagas, avaliável a cada período, para estudantes oriundos do ensino privado. Claro, até termos uma sociedade em que tais distinções não signifiquem privilégios desmedidos. Inclusive porque muitos estudantes oriundos de escolas públicas que não conseguem entrar na Ufrgs também não conseguem pagar uma faculdade particular. O inverso é, no mínimo, raro.

Cientista social e professor

27 de maio de 2012

 

Tsipras: "Refundar a Europa e derrotar o poder financeiro"

Em visita a Paris, onde se reuniu com Jean-Luc Mélenchon, o líder da esquerda radical grega, Alexis Tsipras, fez duras críticas à política europeia conduzida pela chanceler alemã Ângela Merkel e ao setor financeiro. "Esse poder é o grande inimigo dos povos, não governa mas decide sobre todas as coisas", afirmou. Tsipras acusou Merkel de “estar levando a Europa a uma espécie de suicídio coletivo”. As últimas pesquisas dão ao partido de esquerda radical 28% dos votos, a frente da direita da Nova Democracia, que apresenta 24%. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.

Paris - O homem que colocou em xeque o mega plano de austeridade que o Fundo Monetário Internacional e a União Europeia impuseram a Grécia enviou, desde Paris, uma mensagem muito clara: Alexis Tsipras, o líder da esquerda radical grega, Syriza, disse na capital francesa que era urgente “refundar a Europa e derrotar o poder financeiro. Esse poder é o grande inimigo dos povos, não governa mas decide sobre todas as coisas”.

Alex Tsipras veio a Paris para se encontrar com Jean-Luc Mélenchon, o líder da Frente de Esquerda francesa, candidato nas eleições presidenciais de abril e maio e, hoje, adversário direto da líder da extrema-direita, Marine Le Pen, nas eleições legislativas de 10 e 17 de junho.

Tsipras chegou na França em posição de força. A Grécia volta a realizar eleições legislativas no próximo dia 17 de junho e as sondagens indicam a vitória de seu partido, o que faria dele o próximo primeiro ministro. Dirigindo-se diretamente à chanceler alemã Angela Merkel, o homem que faz tremer a Europa fustigou com paixão e virulência os programas de austeridade e ajustes promovidos por Berlim, ao mesmo tempo em que desqualificou aqueles que não deixam a Atenas outra alternativa além de aceitar a austeridade ou morrer: “não se negocia com o inferno”, disse o responsável da Syriza. Quanto a Merkel, Alexis Tsipras acusou a chanceler alemã de “estar levando a Europa a uma espécie de suicídio coletivo”.

Para este político de 37 anos que surgiu no primeiro plano em plena hecatombe, o que está ocorrendo na Grécia não é uma crise passageira acompanhada por um enésimo plano de austeridade, mas sim um experimento que pretende ser ampliado: “não se trata de um simples programa de austeridade, mas sim de um experimento neoliberal de choque que conduz a Grécia a uma crise humanitária que, logo em seguida, deverá ser exportado a toda Europa”. O diagnóstico que Tsipras formulou em Paris é claro e combativo: “estamos vivendo uma guerra entre as forças do trabalho e as forças invisíveis da finança e os bancos”, disse ele junto a Mélenchon, que completou a mensagem dizendo que “a cadeia de resignação e de servidão que unia os povos europeus está se rompendo”.

O panorama eleitoral do partido Syriza tem contornos favoráveis para mudar as regras do jogo impostas pelo mundo financeiro. Esse “inimigo”, disse Tsipras, pode “cair” graças às eleições legislativas de 17 de junho. Segundo ele, a consulta eleitoral não será “um pseudo dilema entre o euro e o dracma – a antiga moeda grega -, mas sim uma escolha entre o memorando de austeridade e a esperança. Longe de ser um inimigo do euro, Tsipras se apresentou em Paris como um “partidário” da moeda única mas, ao mesmo tempo, como um adversário da “chantagem praticada pelos partidários da austeridade”. Os argumentos do Syriza ganharam muitos eleitores na Grécia. As últimas pesquisas dão ao partido de esquerda 28% dos votos, a frente da direita da Nova Democracia, que apresenta 24%.

O crescimento do Syryiza tem sido espetacular. Desde as eleições legislativas realizadas no último 6 de maio, quando surgiu como a segunda força política do país, o partido ganhou 16 pontos em intenções de voto.

Comparativamente, nas eleições de 2009, o Syriza havia obtido só 4%. Alexis Tsipras deixou bem claro em Paris que, em caso de vitória nas eleições de junho, não aceitará nenhuma negociação sobre o pacote de austeridade que a UE e o Fundo Monetário Internacional impuseram a Grécia em troca dos 130 bilhões de euros de resgate financeiro. Neste sentido, Tsipras defendeu os argumentos do presidente francês, o socialista François Hollande, a favor do crescimento como estratégia para sair da crise. “Se seguirmos como estamos agora, em seis meses será preciso aprovar um terceiro plano de ajuda e uma segunda reestruturação da dívida. Os governos europeus devem deixar de pedir aos contribuintes que sigam colocando seu dinheiro em um poço sem fundo. Sem crescimento, jamais poderemos pagar o dinheiro que nos emprestarem”.

Os cerca de 200 jornalistas credenciados na Assembleia Nacional nunca tinham escutado um discurso tão cirúrgico contra o sistema financeiro pronunciado dentro do sacrossanto recinto parlamentar. Tsipras definiu o plano de austeridade aplicado a Grécia como um “desastre humanitário”, como um “ato de barbárie ineficaz”. Tanto Tsipras como Mélenchon fustigaram a Europa por sua conduta em relação a Grécia e a condenação coletiva de Atenas no que diz respeito à crise. Ambos pediram uma “solução comum para um problema comum” porque, senão, a tragédia grega alcançará inevitavelmente outros países. “Ameaçar a Grécia é ameaçar a nós mesmos”, disse Mélenchon que, de passagem, recordou que 60% da dívida grega está em cofres públicos.

Apoiados pela brisa de uma mudança, Tsipras e Mélenchon defenderam uma associação completa da esquerda europeia destinada à “refundação da Europa baseada na coesão social e na solidariedade”. A linguagem juvenil e combativa de Alexis Tsipras não é angelical. O líder do Syriza sabe que, mesmo com a vitória política nas urnas, a estrada será árdua: “formar um governo não equivale a ter o poder. Se conseguirmos ser majoritários nas urnas teremos contra nós os bancos, os meios de comunicação e uma parte do Estado”, disse Tsipras.

O político grego se comprometeu em Paris a tomar uma série de medidas imediatas em caso de ganhar as eleições de junho: “um governo de esquerda – explicou – colocará fim imediatamente as medidas mais insustentáveis como a diminuição dos salários e das aposentadorias”. Tsipras reconheceu que para tirar a Grécia do marasmo será preciso fazer “sacrifícios”, mas também esclareceu que “do mesmo modo que todos os povos da Europa os gregos querem ter o sentimento de que seus sacrifícios são úteis e que os mais pobres não serão os únicos a pagar a conta”.

Tradução: Katarina Peixoto

Grécia: o desespero da riqueza de papel

www,cartamaior.com.br


A Grécia representa apenas 2% do PIB europeu; seu peso demográfico não é muito maior que isso. E no entanto os olhos do mundo se voltam para Atenas nesse momento. Nesta 4ª feira as bolsas despencaram em quase todos os mercados; o euro queimava nas mãos dos investidores; vendas maciças espremiam a cotação da moeda da UE em meio a fugas e saques de bancos, sobretudo espanhóis, entalados na pantanosa zona da insolvência.

A palavra Grécia basta para gerar calafrios nos guardiões das posições ocupadas pelo dinheiro especulativo na Europa. Ao elo mais fraco da corrente cabe frequentemente a distinção de expressar o esgotamento sistêmico de um ciclo. É essa lógica paradoxal que reserva ao povo grego o camarote da história, até aqui ocupado bovinamente por carcaças complacentes com os aguilhões que tangem a nação ao matadouro.

Esse tempo se esgota. A incerteza sobre o passo seguinte da história se instalou definitivamente na contabilidade fria das aplicações financeiras: as posições de hoje em euros valerão quanto amanhã? E depois de amanhã? Mas sobretudo, e depois do dia 17 de junho?

As urnas gregas talvez derrotem os 'yes men' e tragam ao vocabulário da crise palavras como soberania, dignidade e direito ao desenvolvimento. Os correspondentes de Carta Maior em Paris e Berlim, Eduardo Febbro e Flávio Aguiar, constataram a diferença de tratamento dispensada a Alexis Tsipras em sua recente viagem aos centros de poder da UE (leia as reportagens nesta pág).

O Syriza, a frente de esquerda anti-neoliberal pode até não se sagrar vencedora na diferença apertada dos votos. Mas a blindagem desfrutada pela riqueza financeira na UE, graças à austeridade suicida imposta a povos e nações, está definitivamente comprometida. Na cúpula desta 4ª feira, em Bruxelas, a França demarcou uma nova referência que implode a coesão ortodoxa cobrando sacrifícios de quem até agora só lucrou com a moeda comum.

A Alemanha de Merkel personifica o privilégio nesse enredo de colapso e tensão. Mas a realidade que as urnas, cúpulas e ruas afrontam é mais ampla que seus personagens e ventríloquos oficiais. E é ela que se liquefaz e dissolve tudo o que parecia sólido na integração monetária européia. A Grécia tem dívidas da ordem de 400 bilhões de euros com governos, bancos e instituições. Na real, os papéis correspondentes a esses débitos não valem mais a cifra carimbada na face.

Assim como não valem o que prometem as ações de bancos que tem títulos a receber da Grécia, bem como o patrimônio de corretoras e fundos que investiram nessa rede e assim sucessivamente. Merkel e a truculência ortodoxa formam o tampão dessa espiral dissolvente também conhecida como deflação de ativos.

A ruptura do tampão no caso grego pode gerar perdas em cadeia da ordem de um trilhão de euros --duas vezes o fundo de estabilização financeira reunido por Bruxelas. Mas a Grécia, e os mercados sabem disso, é só o elo mais frágil da corrente: ao quebrar ele transfere toda a tensão da crise sistêmica para a alça seguinte.Quem será o próximo?
Postado por Saul Leblon às 21:26

Como o sistema financeiro mundial criou a dívida

Ao contrário da crença popular, o dinheiro que circula pelo mundo não é criado pelos governos, mas sim pela banca privada em forma de empréstimos, que são a origem da dívida. Este sistema privado de criação de dinheiro tornou-se tão poderoso nos últimos dois séculos que passou a dominar os governos em nível mundial. No entanto, este sistema contém em si próprio a semente da sua destruição e é o que estamos experimentando na crise atual. Dados os seus níveis colossais, trata-se de uma dívida impagável.



O colapso econômico é iminente. Os países mais industrializados do mundo enfrentam uma grande crise da dívida provocada pela crise do crédito de 2008, após a crise das hipotecas imobiliárias e a queda do Lehman Brothers. Estas crises originadas por um colapso do crédito costumam ser muito mais prolongadas e profundas que as crises desencadeadas por um surto inflacionário. Grande parte do mundo enfrenta este tsunami da dívida à beira da bancarrota, como acontece com Grécia, Irlanda e Portugal. No entanto, podemos falar de bancarrota quando estes países possuem enormes riquezas em capital humano e recursos produtivos? De acordo com o atual sistema financeiro, sim. E é por isso que os serviços públicos estão sendo cortados e os bens públicos privatizados.

Ao contrário da crença popular, o dinheiro que circula pelo mundo não é criado pelos governos, mas sim pela banca privada em forma de empréstimos, que são a origem da dívida. Este sistema privado de criação de dinheiro tornou-se tão poderoso nos últimos dois séculos que passou a dominar os governos em nível mundial. No entanto, este sistema contém em si próprio a semente da sua destruição e é o que estamos a experimentar na crise atual: a destruição do sistema financeiro que temos conhecido, dado que não tem nenhum tipo de saída pelas vias convencionais. Dados os seus níveis colossais, trata-se de uma dívida impagável.

Para compreender isto, há que referir que o sistema financeiro tem funcionado sempre como um gigantesco esquema ponzi, onde os novos devedores permitem manter a velocidade do crédito. Se se produz um colapso dos novos devedores, o sistema fica sem a opção de conceder mais crédito e, à medida que esta opção se cristaliza com o tempo, o sistema inteiro entra em colapso e requer injeções de liquidez na esperança de que os fluxos voltem à normalidade. A habituação do dna coletivo à dependência do crédito produziu este retorno à normalidade durante várias décadas. Mas até o dna acusa fadiga e nesta co-dependência ao crédito recorda os sintomas da escravatura: é a escravatura da dívida.

A criação de dinheiro através do sistema de reserva fracionada
Os bancos centrais são os responsáveis pela oferta monetária primária, ou base monetária, conhecida também como dinheiro de alto poder expansivo. Este dinheiro de alto poder expansivo é o que chega aos bancos privados, que são quem o reproduz pela via do crédito. A reprodução do dinheiro original depende da taxa de encaixe, ou reservas mínimas requeridas, que produz o efeito inverso: quanto menor é a exigência de reservas, maior é a quantidade de dinheiro que a banca privada cria. Isto conhece-se como o multiplicador monetário e a sua fórmula, muito simples, é m=1/r, onde m é o multiplicador monetário e r o nível de reservas exigidas em percentagem.

Deste modo, perante um nível de reservas de 50% (r=0,5 na equação), o multiplicador monetário é 2, como era nas origens da banca inglesa no ano de 1630. Se o nível de reservas é de 20%, o multiplicador monetário é 5 e se as reservas exigidas são de 10%, o multiplicador é 10 (m=1/0,1), o que indica que está a multiplicar-se dez vezes a quantidade de dinheiro real oferecida pelo banco central.

Grande parte da desregulamentação financeira promovida desde os anos 80 consistiu em dar aos bancos a maior das liberdades para o montante das suas reservas. Deste modo, a clássica norma de reservas em torno de 10% ou 20% foi reduzida a níveis de 1%, e mesmo inferiores, como aconteceu com Citigroup, Goldman Sach. JP Morgan e Bank of America, que, nos momentos mais sérios, afirmavam ter uma taxa de encaixe de 0,5%, com o qual o multiplicador (m=1/0,005) permitia criar 200 milhões de dólares com um só milhão em depósito. E no período da bolha, as reservas chegaram a ser inferiores a 0,001%, o que indica que por cada milhão de dólares em depósito real, se criavam 1.000 milhões do nada.

Esta foi a galinha dos ovos de ouro para a banca. Uma galinha que era de todas as formas insustentável e que foi assassinada pela própria cobiça dos banqueiros que se aproximaram do crescimento exponencial do dinheiro até que este entrou em colapso, demonstrando que toda a ficção se asfixia na conjectura e nada é senão o que é. A solução que os bancos centrais ofereciam era muito simples: mal havia um aumento da inflação, elevavam a taxa de juro para assim encarecerem o crédito e bloquearem os potenciais novos empréstimos (cortando, desta forma, potenciais novos empréstimos) e incentivando, a taxas mais altas, o “aforro” seguro dos prestamistas.

Entende-se agora o abismo em que estamos e por que razão governos e bancos centrais correm a tapar esses enormes buracos que o dinheiro falsamente criado deixou? Entende-se por que razão a Fed e o BCE correm a resgatar o lixo dos ativos tóxicos criado neste tipo de operações? Se ainda há dúvidas, deixo aqui este vídeo (ver acima) que pode ajudar a compreender parte importante deste fenômeno. Este documento foi realizado em 2006 e contém sérias advertências que não foram ouvidas nem pelos governos nem pelas pessoas. Por algo será.

(*) Artigo publicado em El Blog Salmón, traduzido por Ana Bárbara Pedrosa para esquerda.net