16 de agosto de 2012

SANTA CHATA
Quando guri, na década de 50 do Século passado, ouvi, muitas vezes, histórias da “ Santa Chata “ contadas por mineiros mais antigos. Talvez o valoroso e querido companheiro Cídio Jacobs também tebha ouvido e as conheça.

Eram histórias tristes, deprimentes, de desemprego, de queda nos rendimentos dos mineiros, de demissões, de angústias e depressão.

Naquela época já havia preconceito para com o carvão mineral. O petróleo entrara na concorrência. Muitas fábricas, como as de ladrilhos, tintas e outras, passaram a usar o novo combustível no lugar da hulha negra. A nossa tradicional e querida “Maria Fumaça” passou a ser substituída pela locomotiva a óleo. Houve enorme redução na utilização e as minas tiveram que reduzir as jornadas de trabalho.

O carvão era transportado por trens movidos a vapor, produzido pelo carvão mineral, até o Porto do Conde onde era transferido para barcaças que, ao receber a carga negra, quase submergiam. Daí seu apelido de “ Chatas”.

Com a redução do consumo do carvão, ao invés de atracarem no embarcadouro do Porto do Conde ( município de São Jerônimo ) todos os dias, como era antes, aparecia uma vez, ou duas  vezes, por semana. Quando isso ocorria era um rebuliço. O sorriso voltava aos rostos sofridos dos mineiros pois isso significava um dia, talvez dois dias, de trabalho naquela semana e uns “pilas” no bolso, mesmo que muito pouco. Essa era a SANTA CHATA. A Chata salvadora, que trazia, um pouco, de esperança, que diminuía, um pouco, a angústia e jogava, um pouco, de luz no tenebroso horizonte.

Encontrei, hoje, no Jornal do Comércio, um texto, na Coluna “Artigos”, de autoria do jornalista Isnar Ruas que faz lembrar daquelas histórias. Sob o título “ Carvão, um fracasso” ele conta um episódio dessa longa saga, turva, tortuosa e claudicante desse nosso Ouro Negro. ocorrido na década de 70, quando o mineiro Aureliano Chaves era o vice-ditador deste País. Abaixo vai o texto para conhecimento.

Carvão, um fracasso

Isnar Ruas

Nem todas as iniciativas dão certo, especialmente por falhas e total incompetência governamental. Nossa história teve início há cerca de 60 anos, quando surgiu a Companhia Riograndense de Nitrogenados (CRN), com a função principal de dar um destino nobre ao carvão, produto que despertava atenção mundial, enquanto aqui enfrentava bom índice de rejeição. A CRN, dirigida por dois técnicos de alto gabarito e ambos de projeção mundial, o economista e professor Roberto Pires Pacheco, e o engenheiro-químico Nissin Castiel, assessorados  pelo também competente advogado e jornalista Roberto Eduardo Xavier, deu  viabilidade ao projeto de produzir energia a partir do uso do carvão, dentro de um processo que eliminava o excesso de cinzas. A utilização inicial seria na indústria de Rio Grande. A estrutura foi edificada mesmo naquela cidade litorânea.

Lá estiveram visitantes técnicos de várias partes do mundo, aprovando o que estava sendo feito. A fábrica iniciou com êxito o seu trabalho, significando ampla possibilidade de economia de óleo. Mas, de repente, o governo federal, sem explicações, decidiu parar o empreendimento. O equipamento lentamente foi transformado em sucata.  A única coisa aproveitável foi o conhecimento que, se disse, seria comercializado com a Universidade da Índia. Esteve em Porto Alegre o vice-presidente Aureliano Chaves, desmentindo especulações de que teria havido pressão das Sete Irmãs (sete maiores fabricantes mundiais de combustível). Mas, na real, o vice-presidente nada explicou. Acentuou que o tema não teria volta. E, no mais, foi um sonho que acabou.                                                                                                                                        

Jornalista