Novo polo naval em Jacuí coloca RS como segunda maior indústria oceânica do Brasil
Rachel Duarte
O Rio Grande do Sul passou a ser o segundo polo da indústria oceânica do Brasil, atrás somente do Rio de Janeiro. A consolidação se dá com a descentralização da produção naval no estado, confirmada em cerimônia oficial no Palácio Piratini, nesta terça-feira (21), na presença da presidente da Petrobras, Graça Foster. Na ocasião, o governador Tarso Genro assinou os contratos para instalação do Polo Naval do Jacuí, que começa a funcionar com a produção de 24 módulos para seis plataformas de exploração marítima pela empresa Iesa.
Há menos de um mês, a Iesa assinou contrato com a Petrobras, no valor de US$ 720,4 milhões. Para executar esses contratos, a empresa investiu R$ 100 milhões na unidade industrial em Charqueadas, às margens do Rio Jacuí. “A essência desta escolha pela Petrobras é a nossa atenção aos prazos contratuais. Tenho certeza de que não vamos decepcionar”, diz o presidente da Iesa, Valdir Lima Carreiro.
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster confirma a preocupação do governo federal com os prazos. “Nós valorizamos na Petrobras questões de conteúdo local. Tudo que pode ser feito no Brasil, deve ser feito no Brasil, com preço, prazo e qualidade. Sempre que temos um grande ou pequeno projeto sendo assinado, independe a escala, trabalhamos rigorosamente com os prazos. É uma ação gerencial nossa”, afirma.
Em 2016 devem começar a ser entregues os módulos produzidos no Polo Naval de Jacuí. A produção é 60% local e a estimativa é gerar 1,2 mil empregos diretos e 5 mil indiretos na região. Os módulos serão empregados para compressão de gás, injeção de gás natural, e CO2 nos poços para incrementar a produção de petróleo e para exportação ao continente.
A mão de obra será qualificada com formação no Senai e outros parceiros. “O Polo Naval Jacuí tem toda condição de dar muito certo. A escolha do local foi muito acertada para que não fiquem todos polos no mesmo local, empacotados. Isso acaba criando alguma ineficiência. Quando pega uma nova região com capacidade de escoamento faz enorme diferença”, analisa a presidente da Petrobras, considerando a existência do polo de Rio Grande.
A ligação entre os dois polos navais gaúchos será feita por meio de hidrovias. Além da logística, a proximidade com a Região Metropolitana facilita a contratação de mão de obra, um dos principais desafios para a indústria oceânica. “Com a estratégia de deslocamento da Indústria Oceânica, vamos utilizar de maneira inteligente e planejada o potencial hídrico do estado, promovendo a descentralização do desenvolvimento econômico e permitindo a ampliação da cadeia de fornecimento da indústria off-shore e de exploração de petróleo e gás no RS”, afirma o secretário de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (SDPI), Mauro Knijnik.
Além da Iesa e da UTC (investimento de R$ 118 milhões) que já assinaram a Licença de Instalação (LI) com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), empreendimentos como a Engecampo, Tomé Engenharia e Metasa, estão em processo de licenciamento. Outros municípios ao longo da bacia do Rio Jacui, banhadas pelo Rio Taquari, também dispõem de áreas voltadas para o desenvolvimento da indústria oceânica.
“Com o contrato entre a Iesa e a Petrobras, o setor ganha um impulso extraordinário no estado, e garantimos o deslocamento de investimentos para uma região com potencial, mas que ainda não experimentava um desenvolvimento industrial”, explica Knijnik.
Com a descentralização da produção naval no Rio Grande do Sul, segundo o governo gaúcho, nenhum outro estado brasileiro terá uma indústria tão diversificada, atuando desde materiais leves a pesados, do parafuso ao casco, o que é fundamental para a sustentação e fortalecimento de toda a cadeia do setor.
“Não falamos isso porque queremos ser melhores. Sabemos que estados têm políticas análogas as nossas, mas fazemos esta exposição para dizer que o Rio Grande do Sul não está estagnado aos fluxos e refluxos da economia global. Está interferindo nesta economia e de forma integrada com as regiões. Estamos sendo compreendidos pelo movimento social, empresários, trabalhadores e pela academia com na nossa política de desenvolvimento industrial para o estado, que galopa nos projetos condicionantes do governo Dilma, onde a Petrobras tem uma contribuição extraordinária”, disse o governador Tarso Genro.
Revitalização da indústria naval brasileira tem crédito petista
Os canteiros para construção de módulos e outros equipamentos continuarão crescendo no país, com as novas licitações previstas pela Petrobras, como as da P-74 e P-76. “Entendemos a indústria naval como estratégica pela capacidade de mobilização de mão de obra e capacidade de multiplicação da base produtiva”, explica a presidente da Petrobras, Graça Foster.
A produção naval servirá tanto para a construção de navios como nas encomendas de sondas e plataformas para exploração marítima de petróleo, na camada pré-sal. A frota brasileira contabiliza 397 embarcações (navios de longo curso, de cabotagem e de navegação interior), mas a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) estima demanda para mil embarcações até 2020.
Os números da Antaq mostram que o Brasil tem hoje a quarta maior frota do mundo e é o terceiro mercado em produção, já como resultado da reativação possibilitada pela estabilidade financeira e pela decisão política de recuperar a indústria naval. “Sou uma entusiasta da indústria naval desde o começo da minha carreira na Petrobras”, fala a presidente, com 33 anos de empresa.
Os estaleiros voltaram à ativa com mais investimentos e reativação da navegação de cabotagem (costeira), durante anos relegada ao abandono. “Queremos alcançar a meta de 2,5 milhões em barris de petróleo por dia até 2016. Construir 38 novas unidades de operação e 36 novas sondas de perfuração”, informa Graça Foster.