22 de junho de 2013

RETOMADA DA LUTA POPULAR

Carta aberta dos movimentos sociais à Presidenta Dilma.

http://www.cartamaior.com.br
blog das frases


São Paulo, 19 de junho de 2013

Carta aberta à presidenta Dilma Rousseff
Cara Presidenta,


O Brasil presenciou nesta semana mobilizações que ocorreram em 15 capitais e centenas cidades. Concordamos com suas declarações que afirmam a importância para a democracia brasileira dessas mobilizações, cientes que as mudanças necessárias ao país passarão pela mobilização popular.

Mais que um fenômeno conjuntural as recentes mobilizações demonstram a gradativa retomada da capacidade de luta popular. É essa resistência popular que possibilitou os resultados eleitorais de 2002, 2006 e 2010. Nosso povo insatisfeito com as medidas neoliberais votou a favor de um outro projeto. Para sua implementação esse outro projeto enfrentou grande resistência principalmente do capital rentista e setores neoliberais que seguem com muita força na sociedade.

Mas enfrentou também os limites impostos pelos aliados de última hora, uma burguesia interna que na disputa das políticas de governo impede a realização das reformas estruturais como é o caso da reforma urbana e do transporte público.

A crise internacional tem bloqueado o crescimento e com ele a continuidade do projeto que permitiu essa grande frente que até o momento sustentou o governo.

As recentes mobilizações são protagonizadas por um amplo leque da juventude que participa pela primeira vez de mobilizações. Esse processo educa aos participantes permitindo-lhes perceber a necessidade de enfrentar aos que impedem que o Brasil avance no processo de democratização da riqueza, do acesso a saúde, a educação, a terra, a cultura, a participação política, aos meios de comunicação.

Setores conservadores da sociedade buscam disputar o sentido dessas manifestações. Os meios de comunicação buscam caracterizar o movimento como anti Dilma, contra a corrupção dos políticos, contra a gastança pública e outras pautas que imponham o retorno do neoliberalismo. Acreditamos que as pautas são muitas, como também são as opiniões e visões de mundo presentes na sociedade. Trata-se de um grito de indignação de um povo historicamente excluído da vida política nacional e acostumado a enxergar a política como algo danoso à sociedade.

Diante do exposto nos dirigimos a V. Ex.a para manifestar nosso pleito em defesa de políticas que garantam a redução das passagens do transporte público com redução dos lucros das grandes empresas. Somos contra a política de desoneração de impostos dessas empresas.

O momento é propício para que o governo faça avançar as pautas democráticas e populares, e estimule a participação e a politização da sociedade. Nos comprometemos em promover todo tipo de debates em torno desses temas e nos colocamos à disposição para debater também com o poder público.

Propomos a realização com urgência de uma reunião nacional, que envolva os governos estaduais, os prefeitos das principais capitais, e os representantes de todos os movimentos sociais. De nossa parte estamos abertos ao diálogo, e achamos que essa reunião é a única forma de encontrar saídas para enfrentar a grave crise urbana que atinge nossas grandes cidades.

O momento é favorável. São as maiores manifestações que a atual geração vivenciou e outras maiores virão. Esperamos que o atual governo escolha governar com o povo e não contra ele.

Assinam:

ADERE-MG

AP

Barão de Itararé

CIMI

CMP-MMC/SP

CMS

Coletivo Intervozes

CONEN

Consulta Popular

CTB

CUT

Fetraf

FNDC

FUP

Juventude Koinonia

Levante Popular da Juventude

MAB

MAM

MCP

MMM

Movimentos da Via Campesina

MPA

MST

SENGE/PR

Sindipetro – SP

SINPAF

UBES

UBM

UJS

UNE

UNEGR

21 de junho de 2013

NÃO HÁ DEMOCRACIA SEM PARTIDOS

Adilson Filho: Globo usa jovens como massa de manobra para manipular

publicado em 21 de junho de 2013 às 12:34
por AdilsonFilho

http://www.viomundo.com.br

Hoje é um dia triste para a História do nosso país. Não foram em um ou dois pontos isolados. O que se viu nas ruas de todo o país (principalmente Rio e SP) foram jovens ensandecidos partindo pra violência contra pessoas que carregavam suas bandeiras da luta social.

Não foram só os partidos políticos (importantes numa democracia) os atacados, mas queimaram bandeiras do MST, da central única dos trabalhadores,  bandeiras de outros sindicatos, e baixaram a porrada sem perdão em quem se atrevia a levantá-las.

Por favor, é preciso ter equilíbrio também para separar as coisas nesse momento. Há uma massa de jovens desiludidos com a política, pois não encontram nesse modelo arcaico uma representatividade à altura de seus novos sonhos e anseios.
 Esses  são a maioria, e isso é legítimo. Foi dessa turma bem intencionada que surgiu o MPL. Mas aonde que está o nó disso tudo? Aonde a coisa esquenta e fica incontrolável?

Esses mesmos jovens cresceram bombardeados pela mídia e sua demonização sistemática da atividade da politica. Essa mesma mídia que protege o Daniel Dantas, o Gilmar Mendes, o Gurgel, os Empreiteiros, banqueiros, os barões do transporte público, todos os trilhardários corruptos e corruptores que sugam o país a séculos assim como os seus próprios pares, os donos desse oligopólio nefasto dos meios de comunicação brasileira.

São esses jovens, de coração puro e novas ideias, que têm seus sonhos sequestrados por essa gente reacionária, manjados colunistas  de Globo, Veja etc_que ditam há anos a toada da opinião publica, escondendo seus pares, e colocando na linha de frente da população a ira contra a classe política, que é, como sabemos, apenas as ponta disso tudo…Mal comparando, Renans, Sarneys, Severinos, Felicianos e Jorginhos do Posto da vida, são como o menino negro que vende droga na favela, é gente  que mal sabe se expressar, são gangsters-fantoches nas mãos de PEIXES MUITO maiores…

Mas existe uma diferença fundamental: Estes, são provisórios, descartáveis pelos sistema representativo democrático (com todas as suas falhas!!!) —  assim como o garoto segurando um fuzil maior que ele na favela —  enquanto que as famílias de Cavendishs, Jacobs, Dantas e outros barões serão barões para sempre como foram seus pais e avós!

Portanto, atacar essa gente é tudo que A DIREITA MIDIÁTICA CONSERVADORA quer…Mirar o foco no Agripino, no Cafeteira, no Severino, no Tiririca, é TUDO que eles querem pois além de ocultar da população quem são os verdadeiros estupradores da nação, (pergunte a 95% dos que estão nas ruas quem é Daniel Dantas, agora perguntem quem é a Inês Pandeló lá de Barra Mansa) além disso, promovem aquilo que mais faz mal a uma democracia que é a despolitização do cidadão. Cidadão despolitizado, é presa facilmente manipulável. E é aí que eles entram como ninguém..

Col0cando a turma na rua pra gritar contra a PEC 37, contra o fulano e o beltrano, o impeachment da presidenta, eles zombam do movimento social na TV (teve repórter com sorriso irônico ao ver a bandeira do MST queimada)

Pergunte, novamente, a 95% desses jovens se eles sabem o que significa PEC 37, do perigo enorme pra democracia de dar plenos poderes a um Ministério Publico prevaricador e seletivo, que só investiga uma parte da atividade política e esquece por exemplo, as condições desumanas de nossos presos amontoados em verdadeiras masmorras medievais. Imaginem inchar de poder essa caixa-preta, que precisa hoje, muito mais de uma reforma rigorosa do que de superpoderes.

Mas isso pouco importa, eles querem é usar os jovens como massa de manobra dessa droga de informação manipulada que empurram dia e noite e goela abaixo e fazem rolar essas e outras pautas reacionárias  pelos Facebooks da vida.

Assim, a Globo , Veja etc_deram a sua enorme contribuição para o país, ajudando, durante esses anos, a criar (parte de) uma geração pronta para o combate e a partir até pra violência (como vimos) contra instituições democráticas  que muitos não tem nem a mais vaga ideia do que significou na História do Brasil.

Quem está nas ruas, há anos sabe como funciona..Muitas vezes, basta um palito de fósforo para botar fogo em Roma! Como podemos presenciar ontem aqui no Rio. Um grupo vem com suas bandeiras, pacificamente exercendo seu direito, e alguns “inocentes” começam a gritar “Sem partido”, “Sem partido”, Sem partido”!! Logo dois ou três mais exaltados correm pegam uma bandeira, tacam fogo e pronto: Começa a gritaria já se juntam dez, quinze , cinquenta pra bater tacar pedra e agredir sem nem saber porque, muitos apenas por que ouviram  -meu Deus do céu  - dizer que aquelas bandeiras ali são dos “inimigos”!

Eu vou parar de falar, fico um pouco emocionado ao ver isso acontecendo, jamais imaginei viver aqui no Brasil, depois das Diretas, de 92, de tantas e tantas marchas e lutas históricas, que na mesma rua de lutas, no mesmo chão o perigo, além das forças policiais de governadores psicopatas, pudesse também vir do “colega” que está ao meu lado!

Eles conseguiram, essa mídia doente e assassina! Agora, é tentar ir na luta do dia a dia, mostrando pra essa galera nova aí o quanto de perigo que pode existir quando atacamos nossos movimentos, partidos etc, que deram a vida inteira seu quinhão para que hoje pudéssemos estar ali pisando e protestando naquele solo.

Por fim um pedido de paz:

Um viva a você que acordou, mas por favor, respeite a quem nunca dormiu!

19 de junho de 2013

A SOCIEDADE PREFERIU APOIAR SEUS JOVENS

A mídia reacionária e a repressão foram derrotadas nas ruas

terça-feira 18 de junho de 2013,
 por Rita Freire
htp://www.ciranda.net/article7097.html
A sociedade preferiu apoiar os jovens e não uma imprensa que criminaliza os movimentos sociais e quer reduzir a idade penal. País precisa perder o medo de ouvir a juventude e garantir, em novas leis e políticas, sua liberdade de expressão

Foto: Protesto de sexta (14), em SP, por Daniel Mello/ABr

Ontem o país registrou uma das mais expressivas mobilizações nas ruas, particularmente da sua juventude, para defender o direito essencial ao transporte público de qualidade. De modo geral, foram demonstrações pacíficas, longas e reunindo multidões.

"Que coincidência, sem polícia não tem violência", foi uma das frases repetidas em lugares onde a polícia realmente ficou de fora, como foi o caso ontem na capital de São Paulo, que registrou marchas simultâneas nas Avenidas Faria Lima, Paulista, Marginal Pinheiros e Ponte Estaiada. Não foi isso que ocorreu nas protestos anteriores

Na semana passada, ao deparar-se com milhares de jovens tomando as ruas contra os aumentos na tarifa dos ônibus e metrô, a polícia paulista não vacilou em partir para a repressão violenta. Feitos alvos de bombas de borracha e gás lacrimogêneo, os jovens também reagiram. O espetáculo de repercussão internacional mostrou o despreparo da Segurança Pública de São Paulo, ainda regida por um pensamento autoritário que age para reprimir aquilo que não quer ouvir.

O que os jovens estão dizendo é que precisam ser ouvidos, que sabem que o transporte público pode ser melhor e acessível a todos, se houver vontade poítica para mudanças e transparência nos custos, subsídios e contratos. Eles e elas descobriram que são as pressões sociais que fazem o governo agir na adversidade e o Estado se transformar.

O autoristarismo da semana passada também foi insuflado por uma imprensa que criminaliza a juventude pela violência no Brasil. Vários telejornais e apresentadores de TV no mínimo aceitam confortavelmente o pensamento torto de que as falhas na atenção da sociedade e do Estado à infância e à juventude, que no fim da linha resultam no aumento da criminalidade, sejam resolvidas com a redução da idade penal.

O ódio à juventude propagado por essa mídia se expressou nas garras da polícia exibidas na última semana, e em alguns lugares, como Belo Horizonte, também na segunda-feira. A boa notícia é que a sociedade vem aprendendo a reconhecer a manipulação midiática e preferiu apoiar seus jovens, reconhecer seus direitos e juntar-se a eles nas marchas por redução da tarifa, em lugar de chamá-los de vândalos e clamar por mais políciamento e trânsito livre para os automóveis. Ontem, foram derrotadas a política de segurança repressiva e a imprensa, ambos forçados a recuar.

Também os governantes foram obrigados a recuar em seus discursos, moderando as críticas ao movimento e reconhecendo que a luta política nas ruas exige respostas democráticas e soluções concretas. Refém da "indústria" do transporte, o Poder Público na verdade depende do poder das ruas para mudar as coisas. Mas no pano de fundo, o que os governantes perceberam é que o movimento vem incorporando novas ferramentas de comunicação, mobiização e informação política muito mais poderosas que os velhos carros de som ou os editoriais dos jornalões.

Já passa da hora do Estado brasileiro também perder o medo da mídia e apostar em sua juventude, que sabe se expressar e não se vê nos meios de comunicação de massa que o Brasil tem hoje,

Para demonstrar respeito à essa juventude, o Congresso precisa votar o Marco Civil da Internet, sem cortes de garantias e liberdades. O governo precisa enviar e o Congresso precisa discutir e votar urgentemente um novo Marco Regulatório das Comunicações. Já existe um Projeto de Lei de Iniciativa Popular que reúne as principais propostas da primeira e única Conferencia Nacional de Comunicação realizada até agora, à revelia da grande mídia, que fez de tudo para boicotá-la.

O povo brasileiro merece o direito de reconstruir suas comunicações e, por meio delas, discutir e assegurar políticas públicas para o transporte, saúde, educação e aprofundar sua democracia, em sintonia com a vontade das ruas. Ontem multidões gritaram que "o povo acordou". Que o povo ajude o governo e o congresso a que acordem também.

18 de junho de 2013

Manifestações pelo transporte coletivo revigoram juventude e lutas sociais do país

 Escrito por Gabriel Brito, da Redação/Correio da Cidadania   
Sexta, 14 de Junho de 2013 

 Tal como estava cantado, o governo de São Paulo e a prefeitura da capital do estado anunciaram conjuntamente o reajuste das tarifas dos ônibus (municipais), trens e metrô (estaduais) para R$ 3,20. O Movimento Passe Livre (MPL) foi às ruas protestar e pedir revogação do aumento da tarifa em manifestações nos dias 6, 7, 11 e 13 de junho, no Centro, Faria Lima/Pinheiros e Paulista/Consolação.

 Da mesma forma que nos protestos de 2011, uma forte repressão militar foi mobilizada para combater os mais de 30 mil manifestantes (na soma dos quatro dias, sendo praticamente metade no dia 11), tachados pela grande mídia de “vândalos” e  de “baderneiros” pelo governador Geraldo Alckmin, expostos ao público como meros desocupados, desobedientes, riscando do caderno a completude de suas pautas e proposições políticas. De Paris, o prefeito declarou que “os atos de violência eram praticados por pessoas inconformadas com o ‘Estado de Direito’”.

Certamente, nem Alckmin e nem Haddad andam nos trens da CPTM (em greve), nas linhas de metrô e ônibus em horário de rush, onde há pisoteamentos, milhares de homens e mulheres encaixotados em latas de sardinha, pagando-se uma das mais caras tarifas de transporte da América Latina.

Esta violência e falta de respeito com direitos elementares de milhões de pessoas – como o direito a um transporte público digno, de qualidade e com tarifas baratas – não entram no discurso destes governantes como desrespeito ao “Estado de Direito”.  Como mote central, os comunicadores nortearam seus ferozes ataques aos manifestantes em função da obstrução do trânsito (que não estaria muito diferente se não estivessem ocorrendo as manifestações) e dos danos ao patrimônio público, uma vez que guaritas e lixeiras foram reviradas, e vidraças de bancos e prédios comerciais quebradas (também por bombas e balas de borracha, como evidenciam diversas imagens).

 Primordialmente, é importante lembrar que protestos e revoltas em torno da questão do transporte coletivo (e privatizado) têm sido uma das pautas mais recorrentes de luta da juventude brasileira. Tal como já descrito por diversos analistas, trata-se de uma juventude difusa, que busca livrar-se do esquema partidário, por vezes negando as próprias bandeiras de partidos e organizações tradicionais nas manifestações, e adepta de mecanismos mais horizontais de organização, ainda que de formas pouco solidificadas.

  É importante ressaltar tal aspecto, pois os atuais donos do poder, de lado a lado, se apressaram em desqualificar o movimento e seu ideário. Para a direita, uma corja arruaceira que pode e deve ser varrida à força pela Polícia Militar, talvez simbolizada pela histeria do sempre polêmico promotor (?) de justiça Rogério Zagallo, que assim se posicionou frente ao protesto:

 “Estou há 2 horas tentando voltar pra casa e um bando de bugios revoltados parando a Faria Lima e a Marginal Pinheiros. Por favor, alguém poderia avisar a Tropa de Choque que essa região faz parte do meu Tribunal do Júri e que, se eles matarem esses filhos da puta, eu arquivarei o inquérito policial? Petista de merda. Filhos da puta. Vão fazer protesto na puta que pariu. Que saudade do tempo em que esse tipo de coisa era (?) resolvida com borrachada nas costas”.. 

 Não cabe aqui discutir a compreensão de democracia do burguês tradicional, muito menos de seus colegas de rede social, até porque a corregedoria do Ministério Público já abriu procedimento contra o temperamental juiz e a Universidade Mackenzie o demitiu de seus quadros. No mais, vale ressaltar que cerca de 1500 manifestantes andando 15 minutos na Marginal Pinheiros, em sua pista lateral, travaram menos o trânsito do que o desfile de todo o aparato policial, com dezenas de viaturas e caminhões da Tropa de Choque parados, em esquinas fechadas durante mais horas que a duração da marcha. O espetáculo de guerra foi repetido de forma especialmente exibicionista no dia 13, quando dezenas de prisões foram efetuadas antes mesmo de a manifestação dar qualquer passo e um brutal aparato sitiou a cidade, inclusive horas depois de encerrado o ato. 

 O mesmo tipo de protesto vem ocorrendo em diversos estados brasileiros nestes últimos anos, inclusive com alguns casos de reversão do reajuste, como em Natal, Porto Alegre, Goiânia e em Florianópolis - que, aliás, têm seus trabalhadores do setor em greve neste exato momento.

  Porto Alegre também caminha nesta direção. ~~
E no Nordeste, ao menos em Aracaju, Fortaleza, Teresina e Natal (que aumentara de R$ 2,20 para R$2,40 e acaba de recuar a R$2,30), fortes protestos foram registrados, com a mesma repressão do poder público-militar. 

 Nesta segunda, 10, manifestação semelhante no Rio de Janeiro, cidade que passa por um violento processo de privatização de espaços e patrimônios públicos, terminou com a prisão de 31 pessoas.

No mesmo dia, liminar deferida pela 1ª Vara da Fazenda Pública Estadual de Goiânia determinou a suspensão imediata da cobrança de R$ 3 a tarifa. 

 Diante disso, soa contraditório, pra dizer o mínimo, a crítica de setores governistas, ávidos em defender o petista recém-eleito Fernando Haddad, tratando de qualificar os manifestantes de “filhinhos de papai”, “extremistas da velha esquerda a fazer o jogo da direita”.

Além de os protestos contarem com a presença de eleitores de Haddad, como evidenciaram as bandeiras da UNE, estes setores governistas apoiaram idêntico protesto nos anos de Kassab, conclamando todos a lutarem contra mais esse instrumento de exclusão social.

  É evidente que, além dos trabalhadores – que, por passarem de 3 a 6 horas presos nos coletivos, sequer possuem tempo de protestar com visibilidade -, os atuais preços pesam fortemente sobre os bolsos do estudante médio.

Além do mais, ao invés de produzirem avaliações políticas precipitadas, seria mais produtivo conferir de perto as facetas do movimento. Bastaria observar as janelas dos arranha-céus comerciais, portas de estacionamentos, lava-rápidos, guaritas e bares para notar que os trabalhadores, aclamados em discursos pela ala governista, estavam atentos, com sorrisos e gestos de alento e aprovação à marcha dos “pequeno-burgueses universitários”.

  Por fim, alguns bairros periféricos, com destaque pra M’Boi Mirim, na zona sul, contam com manifestações, que incluem bloqueios, confrontos com a polícia e queima de ônibus, há pelo menos uma década. Neste caso, a invisibilidade midiática cuida de bloquear a repercussão destas manifestações que ocorrem  para além das regiões centrais, contempladas por políticas públicas.  A mesma invisibilidade, por sinal, que omite as centenas de crimes covardes cometidos pela polícia legada pela ditadura militar, à qual é autorizada a utilização de um monumental aparato de guerra e o uso abusivo da força. Estes são o Estado e a polícia festejados pela mídia e seu público. 

Com uma mídia dessa estirpe, o extinto DOPS não teria, muito provavelmente,  necessidade de enviar diariamente seus agentes às redações, a fim de revisarem todo o conteúdo a ser veiculado por meios de comunicação autoproclamados “livres, independentes e democráticos”, “a serviço do Brasil”.

Só mesmo a violência policial contra seus próprios repórteres para quebrar um pouco deste açodamento.

  Quanto à legitimidade e oportunidade dos protestos, muito menos massivos se comparados a tantos outros mundo afora, como os de hoje na Turquia, dos indignados espanhóis ou nos países árabes, saudados por essa mesma mídia, o jurista Jorge Luiz Souto Maior resume:

 “O Movimento Passe Livre tem o mérito de nos forçar a colocar a questão do transporte público em pauta, para que todos tenham, de fato, o direito de ir e vir. Nesta linha da visualização social, é importante perceber que, mesmo considerando todas as dificuldades, facilmente verificáveis nas vias da cidade, a saída do transporte privado (cada um em seu carro, buscando caminhos alternativos), ainda é melhor – muito melhor – que o transporte público. O que nos força a reconhecer que o direito de ir e vir daqueles que, em virtude do desenvolvimento de um processo excludente, advindo da desequilibrada divisão do trabalho e da especulação imobiliária, foram deslocados para periferias distantes e que dependem de transporte público, tem sido ainda mais agredido: é fila no ponto; é ônibus que não para; é fila no trem; é trem que não chega; são ônibus e trens lotados, nos quais, durante as longas viagens, se intensifica a supressão da dignidade humana”. 

 Haddad acena com uma possível busca de recursos federais, a fim de subsidiar o transporte coletivo. Ainda que sem tocar na atual lógica e no lucro privado, e fazer coro condenatório com Alckmin, mostra interesse mínimo em buscar soluções, não só contendo o reajuste como tentando elaborar novas fórmulas para o bilhete único e suas integrações para mais de uma viagem de ônibus e/ou sobre trilhos. 

 O Movimento Passe Livre recoloca, portanto, em questão a lógica do serviço público e universal, tal qual se reivindica na saúde e educação, por exemplo. Lógica outrora levada adiante pelos próprios governos petistas, como se pode lembrar na gestão de Erundina e seu secretário Lucio Gregori. Já no final dos anos 80, delinearam projetos com essa premissa, sempre bloqueada por uma política tão privatizada quanto outros bens e direitos públicos. Há quem ainda se levante contra tal quadro. 

 Gabriel Brito é jornalista.