2 de abril de 2013

SOBRE O CONSUMISMO DESENFREADO


Preservar: um hábito em extinção

http://www.globalgarbage.org.br
© Global Garbage Brasil
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Gabriel Sousa Conzo Monteiro
Biólogo, mestre em Oceanografia Biológica

O consumo desenfreado é, hoje em dia, um comportamento comum da sociedade moderna. Alguns questionam a origem e as razões para a manutenção deste comportamento, e muitas respostas apontam tanto para o incentivo quanto para a “informação” provinda da indústria. Será que a alienação científica da sociedade contribui para um consumo cada vez mais excessivo e até desnecessário? Qual o papel e o que pode fazer a ciência para reduzir este problema? A sociedade sabe, com propriedade, quais desdobramentos ambientais tem seu comportamento de consumo?

A indústria visa vender seus produtos, e é claro que toda sua comunicação visa salientar as qualidades de seu produto. É esperado que assuntos polêmicos ou desdobramentos prejudiciais ao meio ambiente não sejam divulgados por este setor, que muitas vezes utiliza-se de influências políticas e financeiras passar uma boa imagem de seu produto. O plástico é um bom exemplo para ilustrar este cenário. As pessoas sabem que sacolas plásticas matam tartarugas marinhas (e ponto final). A ciência sabe que este problema não é nem a ponta do iceberg.

Os plásticos, quando vão parar no mar, são fragmentados por processos físico-químicos, no entanto não degradam, apenas reduzem de tamanho. Com o passar do tempo estes fragmentos adsorvem Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), como por exemplo, agrotóxicos, e são ingeridos por diversos animais: desde pequenos crustáceos, passando por peixes sendo encontrados até em estômagos de grandes cetáceos. Por processos de bioacumulação e biomagnificação, os níveis desses poluentes tendem a aumentar de acordo com o nível trófico, ou seja, quanto mais alto o nível trófico, maior é a concentração desses poluentes. Já foi comprovada a incidência de câncer, desregulação hormonal e até infertilidade em animais expostos a altas concentrações de POPs. Seres Humanos, topo da cadeia trófica, deveriam se preocupar mais com esta questão, não acham? Fica a pergunta: por que informações neste nível de detalhamento e simplicidade não alcançam a sociedade não acadêmica? A academia está careca de saber disso, por que não se manifesta?

Por uma questão cultural, a maioria dos pesquisadores acadêmicos não sabe se comunicar com o público não acadêmico. Isso acontece pela falta de prática em traduzir o conhecimento científico em linguagem mais simplificada ou então em saber como despertar a curiosidade das pessoas a respeito daquele determinado assunto ou pesquisa. Existem ferramentas como Blogs, YouTube e Facebook que permitem esta comunicação mais direta. Cabe aos acadêmicos, buscar auxílio para que a comunicação com as pessoas ocorra de forma efetiva, evitando a alienação científica da sociedade.

Muitos estudos desenvolvidos no Brasil têm seu financiamento vindo de contribuições públicas, ou seja, todos, de certo modo, colaboram com o desenvolvimento da pesquisa brasileira. Mas será que a sociedade sabe, de forma satisfatória, sobre os mais diversos resultados destas pesquisas? Se a maioria dos pesquisadores acadêmicos se dedicasse a compartilhar de forma simplificada seus estudos, sua vivência e seu conhecimento, estaria ajudando a preservar não só as diversas espécies de animais e vegetais, mas também um hábito que está na lista de extinção a muito tempo: o hábito de preservar. A informação faz com que as pessoas ponderem suas atitudes e sejam mais responsáveis por elas.

31 de março de 2013

OS AVANÇOS DO BRASIL

Delfim Netto

Delfim Netto é economista, formado pela USP e professor de Economia, foi ministro de Estado e deputado federal.
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O pessimismo no retrovisor
 
A divulgação dos números confirmando o fraco desempenho da economia em 2012 induziu à criação de um clima de pessimismo em relação à possibilidade de recuperação do crescimento neste ano, que somente agora começa a se dissipar com os sinais incipientes de retomada da produção industrial e da consolidação dos números do bom movimento do comércio embalado pelas festas de fim de ano.
 
O pessimismo foi, evidentemente, exagerado, na medida em que se ignorou o progresso social a gestar uma classe média mais educada e mais exigente de qualidade dos serviços públicos, sem a qual não se consolidam as instituições democráticas capazes de aumentar paulatinamente a igualdade de oportunidades.

Avanços importantes para a sociedade brasileira foram esquecidos durante o nevoeiro. Exemplos: a redução ordenada e consistente da taxa Selic; a bem-sucedida manobra de substituição dos juros reais de 6% nos rendimentos da poupança e o controle dos aumentos de salários no serviço público por três anos. Em outras frentes, a aprovação do sistema previdenciário do funcionalismo, o enfrentamento dos custos nos setores básicos da energia e portuário, o aprendizado nos leilões de concessões nos projetos de infraestrutura para atrair o investimento privado. E, ainda, a exoneração da folha de pagamento para setores industriais, que, combinada com a desvalorização da taxa cambial, recomeça a estimular a exportação de manufatura. E houve pequenos aperfeiçoamentos no sistema tributário, com reduções pontuais nos níveis de impostos.

Por último, mas não menos importante, registre-se a melhora do entendimento entre o poder incumbente e o setor privado, capaz de convencer o empresariado de que a política econômica do governo é amigável e objetiva o aumento da competição e da produtividade. Isso pode nos levar a retomar o ritmo de um crescimento do PIB entre 3% e 4%, em 2013, como reafirmou a presidenta em recente seminário na Europa, em um encontro de empresários brasileiros e estrangeiros.

É preciso lembrar que medidas “macroprudenciais” introduzidas no começo por seu governo haviam sido recebidas inicialmente com grande ceticismo. O desenvolvimento da conjuntura mostrou que essas medidas foram não apenas altamente efetivas como talvez tenham sido subavaliadas. Posteriormente abriu-se um espaço para a redução consistente da taxa de juro real, reclamada há décadas pela economia brasileira. A maior taxa de juro real do universo conhecido promovia um movimento de capitais especulativos a favor da supervalorização da taxa de câmbio real, acentuando os inconvenientes da redução da atividade global promovida pelo controle monetário.

Em um ano, o Banco Central trouxe a Selic a 7,25%, o que, com expectativa de inflação anual da ordem de 5,5%, nos deixou com uma taxa de juro real de cerca de 2%. Longe ainda da taxa de juro real do mercado internacional, hoje por volta de 2% negativos. O atual diferencial de juro interno e externo é próximo de 4%. Em um ambiente de política cambial defensiva, ele ainda deixa margem para a exploração de oportunidades lucrativas para o capital estrangeiro de curto prazo, principalmente diante da contínua enxurrada de liquidez produzida externamente.

Com o nível de atividade atual, é claro que a preocupação com o crescimento assumiu um peso importante nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), mesmo porque nossa política econômica é de “legítima defesa” contra as políticas monetárias externas que procuram desvalorizar suas moedas. É preciso ser muito desinformado para não saber que os EUA tentam abertamente reduzir seu déficit em conta corrente, não apenas aumentando sua oferta interna de energia, mas estimulando um dólar “fraco” para ampliar suas exportações.

As incertezas e as fragilidades da situação mundial serão mais prolongadas do que se supunha. E deverão nos ajudar com alguma redução da pressão inflacionária externa. Vemos que o dissenso foi mais uma questão subjetiva: como cada um vê a velocidade e a eficiência com que o mundo poderá se livrar das incertezas criadas pela crise financeira de 2007.

É difícil decidir quem, afinal, estará certo, porque o futuro continua mais opaco do que sempre foi e inexiste, de fato, uma liderança política mundial forte e bem informada. É necessária certa humildade e desconfiar das afirmações de alguns analistas supostamente portadores da verdadeira “ciência econômica”. Que na realidade não existe.

O GRANDE DILEMA DAS OPOSIÇÕES

Marcos Coimbra

Eleições 2014

31.03.2013 07:32
CARTA CAPITAL Nº 742

Nova pesquisa, velhas frustraçõe

Nada dá certo para as oposições faz tempo. Elas tentam, se esforçam, mobilizam seus vastos recursos e as coisas não acontecem. Seu pior pesadelo parece prestes a se materializar.

Mão pesada. Dilma vetou vários pontos do Código Florestal. Foto: Evaristo Sá/AFP
Dilma deve enfrentar eleição mais tranquila que em 2010. Foto: Evaristo Sá/AFP
 
A tomar pelo que dizem os eleitores, quando perguntados sobre como pretendem votar na próxima eleição, Dilma Rousseff se reelegerá sem grandes problemas. Prognosticar sua vitória não é difícil para quem conhece um mínimo da sociedade brasileira.

Ela tem tudo para vencer:

a) A “inércia reeleitoral”, que beneficia até governantes mal avaliados (quem não se lembra dos muitos governadores e prefeitos que, apesar de enfrentarem sérias dificuldades, terminaram vencendo?).

b) Faz um governo bem avaliado, aprovado por quatro em cada cinco brasileiros (quem preferiria mudar, estando satisfeito com o que tem? Se há uma coisa em que o eleitor acredita é que mais vale um pássaro na mão do que dois voando).

c) Tem uma imagem pessoal muito positiva, é querida pela ampla maioria dos eleitores, que gostam de seu jeito de ser e se portar como presidenta (algum de seus possíveis adversários chega sequer perto do que ela alcança no julgamento da atuação pessoal?).

d) É conhecida e aprovada pela quase totalidade do eleitorado, não precisa perder tempo para se apresentar ao País (qual de seus oponentes em potencial pode dizer o mesmo, uma vez que todos existem em nichos regionais ou ideológicos?).
Confirmado o favoritismo, Dilma será a quarta chefe de governo eleita pelo PT em sequência. Ao cabo de seu segundo mandato, chegaremos a 16 anos de hegemonia petista na política brasileira.

O que será da atual geração de lideranças oposicionistas em 2018? Quantas estarão ainda em condições de atrair a atenção dos eleitores? Quantos de seus jovens terão envelhecido? Quantos dos atuais “formadores de opinião”, na mídia conservadora, estarão ainda na ativa? (A maioria é tão velha que, entre aposentados e falecidos, é possível que restem poucos).

A gravidade do quadro que as oposições enfrentam voltou a ser confirmada na semana passada, quando uma nova pesquisa do Datafolha a respeito da sucessão presidencial foi divulgada. Ela não trouxe novidade em relação ao que se sabia desde o início de 2012. Exatamente por isso, foi uma ducha de água fria no ânimo dos partidos da oposição e nos segmentos “antilulopetistas” da opinião pública.

Apesar dos esforços diários e da militância radicalizada da mídia de direita, Dilma fica cada vez melhor na corrida eleitoral. Enquanto isso, seus adversários patinam ou retrocedem. Entre dezembro de 2012 e março deste ano, ela foi de 54% a 58%, na vizinhança dos 60%, patamar onde outras pesquisas já a haviam colocado. Marina Silva (sem partido) e Aécio Neves (PSDB-MG) perderam 2% cada um, ela de 18% para 16% e ele de 12% para 10%.

Mais frustrante para a mídia foi, no entanto, o modesto crescimento do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Depois de “bombado” incessantemente na mídia, foi de escassos 4% a escassos 6%.


Uma simples aritmética mostra que os três não mudaram seu tamanho total: somavam 34%, em dezembro, e foram a 32%, em março. No máximo, o que teria ocorrido seria uma pequena reacomodação no terço do eleitorado que não pretende votar na presidenta: Campos tirou uma lasquinha de Marina e de Aécio.

Em votos válidos (a conta relevante para especular sobre vitórias em primeiro turno), Dilma teria, hoje, perto de 64%. Muito próximo de alcançar, sozinha, o dobro da soma dos demais.

Significa que “já ganhou”, que vencerá no primeiro turno? Claro que não, e seria um equívoco se sua assessoria interpretasse assim a pesquisa. Mas que os resultados do Datafolha foram uma decepção para as oposições, disso não há dúvida.
O que lhes resta fazer?

O circo armado em torno do julgamento do “mensalão” foi inútil do ponto de vista eleitoral. O PT não perdeu espaço em 2012 e nada indica que será afetado em 2014.
A tese da incompetência gerencial da presidenta, à qual se dedicaram assim que perceberam o insucesso anterior, não tem adeptos na maioria da opinião pública. Ao contrário, os brasileiros se mostram cada vez mais satisfeitos com o desempenho do governo.

A valorização dos possíveis adversários não comove os eleitores de Dilma. Campos, seu mais dileto produto na atualidade, permanece com números de nanico.

Quando pesquisas como essa são publicadas, ficam tristes e devem pensar no “povinho” que Deus pôs no Brasil. O problema é que não podem trocá-lo. Ou será que vão procurar prescindir dele na hora de decidir quem vai mandar?