15 de junho de 2012

Na era do automóvel,

artigo de Aroldo Cangussu



trânsito

[EcoDebate]
 Na década de 60, para irmos de Janaúba para Montes Claros, tínhamos, à nossa disposição, dois trens diários, que pegávamos e íamos tranquilamente tomando guaraná quente e comendo farofa de frango. Para Belo Horizonte, era só embarcar no leito e ir dormindo sossegadamente.

A partir do momento que o governo resolveu mudar a política desenvolvimentista e aplicar tudo na indústria automobilística tudo isto mudou. Hoje a pressa fala mais alto e o automóvel iniciou seu reinado. As ferrovias foram abandonadas (servindo apenas para transporte de cargas, com raras exceções) e se investiu forte no transporte rodoviário.

Só que o crescimento da infraestrutura para esse modelo não acompanhou a necessidade do deslocamento. As ruas estão entupidas de carros, ônibus, caminhões e motocicletas não sobrando espaço para mais nada. Em São Paulo, muitos levam quatro horas para ir e voltar do trabalho. A velocidade média do trânsito paulistano é pouco mais que vinte quilômetros por hora. Lá existem mais de sete milhões de veículos, a maioria com apenas uma pessoa sendo transportada. Andar de ônibus lá, e em todas as capitais e cidades grandes do Brasil, é um tormento e o metrô, ainda a melhor solução, é insuficiente.

Até em Janaúba, o trânsito está se tornando um problema. Existe confusão, pois o número de motos está exponencialmente aumentando (uma pena que as bicicletas estão sendo deixadas de lado) e a disputa por espaço com os carros já é acirrada. Eis aí um importante tema para discussões nessa próxima campanha eleitoral.

O próximo prefeito deverá ser capaz, inquestionavelmente, de enfrentar esse problema e apontar soluções. Da mesma maneira, os candidatos a vereador terão que se preparar para propor medidas legais municipais que possam contornar esta questão.

O poder do automóvel é tão avassalador que, nas disputas eleitorais, pelo menos em Janaúba, a quantidade de asfalto executado na cidade é predominante na opinião do eleitor. Quem fizer mais asfalto ganha a eleição. As questões ambientais ficam em segundo plano.

Limpeza pública, recuperação de mananciais, plantio de árvores, planejamento urbano, construção de praças e jardins, abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto são quase irrelevantes para a massa eleitoral. Pelo menos é o que pensam os marqueteiros das campanhas políticas.

Andar de carro, principalmente se for camionete cabine dupla ainda é (que atraso!) sinônimo de status, assim como ter três ou quatro vagas na garagem. As pessoas quase não andam a pé, até para comprar o pão na padaria da esquina toma-se o carro, muitas vezes um veículo de quase três toneladas para transportar uma pessoa de setenta quilos em um trecho de 500 metros.

Este modelo, fatalmente, vai ter que ser mudado.

* Aroldo Cangussu é engenheiro e ex-secretário de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS AMBIENTAIS LTDA.

10 de junho de 2012

Brasil trará delegações de países da África e do Caribe para Rio+20

Da Redação

O governo brasileiro irá trazer delegações de dez países da África e do Caribe para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. A operação está sendo preparada pelo Ministério de Relações Exteriores (MRE), junto com o Ministério da Defesa e a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), e contará com dois aviões Legacy da Força Aérea Brasileira (FAB), mais um Legacy e um Embraer 190, com capacidade para 100 passageiros, cedidos pela empresa brasileira.

Os voos que trarão as delegações estrangeiras irão partir do Brasil e dos Estados Unidos. De acordo com o Ministério da Defesa, até o momento a estimativa é transportar 66 participantes – número que poderá aumentar de acordo com a demanda – dos seguintes países: São Tomé e Príncipe, Malawi, Serra Leoa, Libéria, Cabo Verde, Barbados, Granada, Antígua e Barbuda, São Cristóvão e Neves e Dominica. A população desses quatro últimos é inferior a 100 mil habitantes, menor do que a de cerca de 300 municípios brasileiros.

A cúpula dos chefes de Estado e de Governo começa no dia 18. No dia 19 deste mês, será feita uma demonstração do uso de biocombustível à base de cana-de-açúcar para motores de aeronaves em um Embraer 195.

A Rio+20 ocorrerá no período de 13 a 23 de junho e representantes de 102 países já confirmaram presença. Segundo o Ministério da Defesa, o esquema de segurança para a conferência contará com 15 mil militares trabalhando diretamente nos pontos do evento e mais 5 mil fazendo o reforço das bases aéreas do Galeão, Afonsos e Santa Cruz, no Rio. Alguns homens também reforçarão a segurança na Base Aérea de Guarulhos, em São Paulo, e no Aeroporto de Viracopos, em Campinas.

Com informações da Agência

 

Colapso na Espanha poderia causar “desinvestimento” na AL, diz consultor


Da Redação

A Espanha é o segundo país que mais investe na América Latina e o retorno desses investimentos tem dado fôlego a empresas espanholas que enfrentam dificuldades em casa. Com o aprofundamento da crise financeira no país, porém, a dúvida é se algumas companhias espanholas seriam obrigadas a se desfazer dessas “joias da coroa”. Para o analista Wilber Colmerauer, diretor da consultoria Brasil Funding, em Londres, a possibilidade de que empresas espanholas tenham de reduzir seus investimentos e vender ativos na América Latina não pode ser ignorada.

“Ninguém quer se desfazer de ativos lucrativos na região, mas esse é um cenário provável se a crise na Espanha descambar para um colapso financeiro. Primeiro, porque a União Europeia deve pressionar por uma reestruturação das instituições financeiras espanholas antes de ajudar o país. Segundo, porque deve ficar cada vez mais caro para empresas espanholas rolarem suas dívidas.”

A Espanha conseguiu vender, com êxito, 2,6 bilhões de euros em bônus do governo nesta quinta-feira (7), com juros de 6%. No mês passado, o Bankia, quarto maior banco do país, pediu uma ajuda de 19 bilhões de euros ao governo, o que tem gerado incertezas entre investidores sobre a solidez do sistema financeiro espanhol.

Recentemente, rumores de uma possível venda de 30% a 40% do Santander no Brasil para o Banco do Brasil, em um primeiro momento, e para o Bradesco, logo em seguida, repercutiram em jornais e sites brasileiros – apesar de as negociações terem sido negadas por executivos dessas instituições financeiras.
O Santander já vendeu uma parte de seus ativos no Chile e se desfez de sua filial colombiana, conseguindo cerca de US$ 2 bilhões para reforçar sua posição na Espanha – onde a inadimplência está crescendo. O banco BBVA anunciou, no mês passado, que pretende liquidar total ou parcialmente seus fundos de pensão no Chile, na Colômbia, no Peru e no México.

Para Colmerauer, tais iniciativas indicam que a América Latina e o Brasil, em especial, podem ser afetados por um possível acirramento da crise espanhola, não só por uma redução do comércio bilateral, como já vem sendo alardeado, mas também pela saída de divisas.

“É razoável esperar um aumento da remessa de lucros para as matrizes e uma venda de ativos na América Latina como resultado da reestruturação das empresas espanholas”, disse o analista, identificando o setor bancário e o de construção como os mais vulneráveis. “Para complicar, tal movimento de capitais poderia levar à desvalorização do câmbio”, completou.

Com informações da Agência Brasil

Rio+20: Em busca de um civismo planetário

O coordenador executivo da Rio+20, Brice Lalonde analisa, em entrevista especial, os desafios e obstáculos que estão colocados para a conferência. Apesar de todas as adversidades, ele não aposta em fracasso. "Uma das grandes dificuldades que temos hoje está em que dentro da cada país há pouquíssimos negociadores que pensam no planeta, na humanidade em seu conjunto. Eles pensam em seus países e em seus interesses nacionais. Há muito civismo nacional e pouco civismo planetário", diz Lalonde.

Paris - Um mês e meio antes do início da conferência Rio+20, as perspectivas de que se consiga no Rio de Janeiro uma mudança decisiva para combater os males ambientais do planeta e a pobreza não são muito animadoras. Especialistas de todo o planeta temem que a humanidade seja incapaz de colocar fim à destruição da Terra. Os cientistas que participaram de uma conferência prévia a Rio+20, realizada em Londres, em março passado, disseram que a meta da ONU de limitar o aquecimento global a dois graus Celsius – adotada há menos de 18 meses – já é inalcançável.

“Temos que nos dar conta de que estamos observando uma perda de biodiversidade sem precedentes nos últimos 65 milhões de anos. Estamos entrando claramente na sexta extinção em massa do planeta”, disse Bob Watson, ex-chefe do painel climático da ONU e principal assessor do ministério britânico do Meio Ambiente.

A conferência tem três objetivos: combater esta crise ambiental, erradicar a pobreza e colocar o crescimento em um caminho sustentável, com medidas para estimular a economia verde. Mas, ao contrário do que ocorreu em 1992, ninguém espera um plano global de amplo alcance. As crises financeiras no Ocidente, o quase fiasco da cúpula do clima de Copenhague, em 2009, e as mudanças geopolíticas, com a emergência de China, Índia e Brasil, antecipam um evento de baixo perfil.

No entanto, apesar de todas essas adversidades, Brice Lalonde não aposta em fracasso. Este político francês foi nomeado pelo secretário geral das Nações Unidas como coordenador executivo da Rio+20. Sobre ele recai a responsabilidade de tentar colocar todo mundo de acordo. A busca de consensos em um mar tão agitado está longe de ser um passeio. Militante ecologista, encarregado francês das negociações sobre o clima entre 2007 e 2011, ministro de Meio Ambiente nos governos socialistas entre 1988 e 1992, Brice Lalonde oferece aqui as pautas e os obstáculos de uma cúpula onde, diz, a “noção simplista” do capitalismo dificulta os possíveis progressos.

O Brasil organiza em junho a conferência Rio+20 sobre o desenvolvimento sustentável. A cúpula será realizada vinte anos depois da Cúpula da Terra, realizada também no Rio de Janeiro, em 1992, quando as Nações Unidas criaram dois fóruns para enfrentar a mudança climática e a perda de biodiversidade. Duas décadas mais tarde, o que é preciso fazer para evitar que esse encontro termine sem resultados?

A pergunta que devemos nos fazer consiste em saber se as instituições, a economia e o grande giro que se deu na proteção do planeta e na luta contra a pobreza podem seguir a evolução geopolítica. Em 1992, havia uma situação geopolítica muito especial: o Muro de Berlim acabava de cair e ainda não havia ocorrido a ascensão mundial de China, Índia e Brasil. Hoje, a situação geopolítica é muito diferente em função dessa novidade. Também temos agora o retorno de guerras e conflitos, assim como a crise econômica que nos afeta, o que mostra que as dificuldades são complexas no novo sistema mundial da economia. Outro elemento novo em relação a 1992 é a internet e a tecnologia. Em suma, trata-se de saber se podemos adaptar novas instituições às mudanças da geopolítica e responder as perguntas que são as mesmas que foram feitas em 1992: como vencer a pobreza e proteger o meio ambiente.

A Rio+20 suscita muitas expectativas. No entanto, os observadores mais atentos asseguram que a cúpula servirá apenas para propor algumas pistas. Você disse inclusive que o texto que estava sendo discutido carecia de ambição.

O que vamos fazer talvez seja abrir uma fase para um novo modo de desenvolvimento. Mas, sim, é verdade, falta ambição ao texto. Creio que devemos ir mais rápido, com mais força. Uma das grandes dificuldades que temos hoje está em que dentro da cada país há pouquíssimos negociadores que pensam no planeta, na humanidade em seu conjunto.

Essa é a grande dificuldade?


Sim. Os negociadores pensam em seus países, defendem seus interesses nacionais. Mas em todo esse processo não há um piloto para o planeta. Isso é o que me dá medo. Algum dia será preciso inventar algo para que nos ocupemos daquilo que temos em comum, ou seja, a atmosfera, os oceanos e até o próprio conhecimento. Há muitos, muitos temas que estão mais além da esfera dos interesses nacionais e que o sistema internacional atual não consegue tratar.

Isso significa que, apesar de todas as mudanças climáticas e da consciência cotidiana do que ocorre, ainda não há uma tomada de consciência global de que o planeta é uma história comum e não uma questão meramente territorial?

Não. Em muitos governos ainda não há um civismo planetário. Há muito civismo nacional, muita lealdade nacional, mas a lealdade planetária não está muito presente. No entanto, entre os jovens encontramos muitas pessoas muito comprometidas.

Uma pergunta sobressai deste cenário: a crise ou o planeta? Por acaso a crise carregará o planeta ou este salvará a crise?

O problema está talvez no fato de que esta crise provém de um sistema econômico que não responde à situação. Uma parte da resposta à crise está no que se chama de desenvolvimento sustentável.

Os temas fortes da cúpula são a economia verde e a luta contra a pobreza. Quais são as duas frentes antagônicas e em torno de que pontos gira a controvérsia?

Ah..Não há dois campos nítidos ou afirmados. Dependendo do tema, há maiorias, minorias e oposições. Mas há uma primeira divisão clássica entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. A isto se agrega agora um terceiro ator, que são os países emergentes. Por exemplo, as pequenas cidades africanas não defendem os mesmos interesses que os grandes países como a China defendem. No que diz respeito à economia verde, há vários países que não são nem um pouco entusiastas. Não gostam da expressão, preferindo desenvolvimento sustentável.

Em suma, muitos países querem evitar que a economia verde se transforme em uma forma de levantar obstáculos ao comércio internacional ou que estabeleça novas condições para a ajuda ao desenvolvimento. Associado a isso está o tema da governabilidade, mas esse ponto não traz demasiados problemas. Eu diria que a divisão mais clara está entre os partidários do desenvolvimento e os que afirmam que não pode se continuar assim, que é preciso salvar o planeta. Estamos em busca de uma fórmula que concilie o desenvolvimento e o meio ambiente. Esta é a discussão mais importante e mais difícil de resolver porque está em jogo o meio ambiente mundial e a possibilidade de chegar a um ponto sem retorno. A discussão envolve também aqueles que dizem que o prioritário é a luta contra a pobreza, ou seja, o crescimento econômico, e que não é possível seguir acumulando tantas desigualdades. Este campo argumenta que a questão do planeta tem que ser o passo seguinte.

Mas quem diz crescimento está dizendo consumo dos recursos do planeta. Além disso, no que diz respeito à economia verde, seus críticos advertem, e não sem razão, que isso equivale a introduzir o mercado na ecologia.

Ah! O mercado é um bom servidor, mas um mau chefe. Toda a questão está nisso, em nossa capacidade de organizar o mercado, de fixar regras. Não há mercado sem regras. No momento, há muitas coisas que não estão sendo feitas. Estamos tratando de terminar com os subsídios aos combustíveis fósseis, o que é uma forma de intervir nos mercados, mas não é nada fácil.

Por exemplo, quando se suspende um subsídio desses é preciso recuperar o dinheiro que o Estado dava e dirigi-lo para a ajuda aos mais pobres. O tema dos mercados implica saber como se administram os recursos mais escassos.
Na verdade, é preciso sair do capitalismo mais básico: é preciso dizer que o capital mais importante é o povo e a natureza. O povo e a natureza são os elementos número um do capital. Não se deve sacrificar esse capital em benefício do pequeno capital monetário das empresas. Como você sabe, existem muitas empresas que financiam campanhas contra o desenvolvimento sustentável. Há uma enorme batalha em torno disso. Existem interesses econômicos que trabalham no curto prazo e que devem ser combatidos.

Mas, 20 anos depois da conferência do Rio, hoje há um poderoso ator que antes não existia: a sociedade civil.

A sociedade civil é um grande aliado, tanto para mim como para o Brasil, que organiza a conferência. Temos uma necessidade absoluta da sociedade civil. Associações, cientistas, professores, em suma, todos aqueles que trabalham pelo planeta são essenciais. Mas também as regiões, as municipalidades e as cidades ocupam um lugar destacado neste trabalho. Quando uma cidade fixa as regras urbanistas, isso também é importante. A sociedade civil será então um ator muito importante, não só porque estará presente, mas também porque vai participar de um novo caminho de negociação. Trata-se dos “diálogos sobre o desenvolvimento sustentável”. O Brasil e a ONU fizeram um grande esforço para criar um novo tipo de conferência onde não estejam só os diplomatas de cada país, mas a sociedade civil em seu conjunto.

Tradução: Katarina Peixoto

3 de junho de 2012

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Os muito ricos e o mito de que seriam “criadores de empregos”

Em 1889, no seu artigo O Evangelhoda Riqueza [Gospel of Wealth], Andrew Carnegie ensinava que os norte-americanos deveriam considerar bem vinda a concentração da riqueza nas mãos de poucos, porque “a superior sabedoria, experiência e habilidade” dos ricos garantiria benefícios para todos.

Mais recentemente, Edward Conard, autor de Unintended Consequences: Why Everything You’ve Been Told About the Economy Is Wrong [Consequências indesejadas: por que tudo o que lhe contaram sobre a economia está errado], disse: “Como sociedade, não estamos a oferecer aos nossos raros talentos recompensa suficiente. Estamos pagando pouco aos que correm riscos”.  [1]
Será verdade? Será que, se dermos todo o dinheiro aos norte-americanos mais ricos, estará garantido que o empregarão sabiamente e que criarão empregos e estimularão os investimentos em pequenos negócios e, assim, beneficiarão toda a sociedade? Isso parece ser o que pensam os 18 altos executivos de grandes empresas que escreveram, em carta ao Secretário do Tesouro Timothy Geithner, que qualquer aumento nos impostos sobre ganhos de capital reduzirá o investimento, “quando precisamos formar capitais nos EUA para criar empregos e expandir nossa economia.”
Os 18 empresários e executivos que assinam a carta não listam qualquer prova a favor de suas ideias, porque não há o que prove esse tipo de delírio. Os factos são outros:

Os muito ricos não gostam de investimentos de risco

Analistas de mercado de Marketwatch estimam que mais de 90% do património acumulado pelos milionários está aplicado numa combinação de investimentos de baixo risco (bondse dinheiro), no mercado de ações e em propriedade imobiliária. Segundo o economista Richard Wolff, cerca de metade do patrimônio do 1% mais rico está aplicado em fundos não incorporados (contas comerciais pessoais). O  Wall Street Journal anota que cerca de mais de ¾ do patrimônio dos que valem individualmente mais de $20 milhões está investido em fundos hedge.

A parte do investimento aplicada em negócios iniciantes em 2011 não chegou a 1% dos investimentos dos ricos nos EUA.

A investigação de Mendelsohn Affluent Survey confirmou que os muito ricos gastam menos de 2% do próprio dinheiro para estimular negócios iniciantes. A última coisa que querem, pelo que se pode ver, é investir no arriscadíssimo negócio de contratar gente para inovar.

Os muitos ricos não gostam de arriscar em empregos

Os profissionais da alta gestão e da administração financeira representavam, em 2005, cerca de 60% do 1% de norte-americanos mais ricos. Os empresários empreendedores não chegavam a 3%.  Estudo recente constatou que menos de 1% de todos os empresários empreendedores vinham de ambientes muito ricos ou muito pobres.

A grande massa dos investimentos dos norte-americanos mais ricos toma o rumo do exterior – para fora dos EUA, onde os mais ricos aplicam 57% do próprio dinheiro e enchem suas fábricas com trabalhadores mal remunerados e superexplorados. Números do Departamento de Comércio mostram que as empresas norte-americanas cortaram cerca de 2,9 milhões de empregos nos EUA entre 2000 e 2009. Ao mesmo tempo, criaram 2,4 milhões de subempregos fora dos EUA.

O mais provável é que os muito ricos absolutamente nunca pensem em criar empregos, sejam quais forem, nos EUA. Pesquisas mostram que 60% dos investidores com patrimônio de $25 milhões ou mais estão investindo no exterior até 1/3 de tudo que têm. Nos EUA, a riqueza extra que teria sido criada pelos cortes de impostos da era Bush evaram aos “piores números do trabalho, de toda a história”. O grande criador de empregos nos EUA, como diria Nick Hanauer, [2]é o consumidor de classe média.

As empresas norte-americanas muito ricas não gostam de investir nos EUA

Como as empresas gastam o próprio dinheiro? Em larga medida, não gastam. Segundo a agência Moody’s, o caixa de empresas não financeiras norte-americanas subiu 3% entre 1980 e 2011 e chega hoje a $1,24 trilhões. A razão património/dinheiro  das empresas quase triplicou entre 1980 e 2010. Estima-se que o dinheiro paralisado como reserva de caixa nas empresas norte-americanas bastaria para manter empregados 3,5 milhões de pessoas a mais, durante cinco anos, com salário anual de $40 mil dólares.

As empresas que mais preservam suas reservas de caixa, entre as quais Apple, Google, Intel, Coca Cola e Chevron, gastam o seu dinheiro na recompra de ações (o que faz subir o preço das ações preferenciais), em dividendos para investidores e na compra de empresas subsidiárias. Segundo Bloomberg, a recompra de ações alcança hoje um dos mais altos picos dos últimos 25 anos.

A empresa Apple alega ter criado 500 mil empregos para a economia dos EUA, mas aí estão contados entusiastas da construção de aplicativos e os motoristas da Fedex que entregam iPhones a domicílio. A Apple emprega hoje nos EUA 47 mil pessoas: é 1/10 da força de trabalho da General Motors nos anos 1990s.

Os riquíssimos investem, isso sim, no exterior. Também investem mais em “drenar cérebros” para o exterior – empresários, cientistas, médicos – do que em apoiar a melhoria da educação nos EUA.
Há um campo no qual as grandes empresas gostam de gastar dinheiro: em bônus aos altos executivos. Bancos, sobretudo, cujos gastos extras são muitas vezes cobertos por empréstimos de juro zero que lhes garante o FED – Federal Reserve.

Os mais ricos – indivíduos e empresas – são muito bons em acumular fortunas. E são melhores ainda na arte de cultivar o mito de que seriam “criadores de empregos”.

O relatório Planeta Vivo e as projeções da Pegada Ecológica, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em junho 1, 2012 por

O relatório Planeta Vivo e as projeções da Pegada Ecológica

[EcoDebate] Um dos componentes centrais do relatório Planeta Vivo, da WWF, é a pegada ecológica, que é uma medida utilizada para avaliar a demanda que o ser humano exerce sobre a biosfera (nas diversas escalas), comparando a quantidade de recursos naturais renováveis que as pessoas estão consumindo em comparação com a capacidade de regeneração da Terra ou a sua biocapacidade, medida em área de terra efetivamente disponível para a produção dos recursos naturais renováveis e a absorção das emissões de CO2. A metodologia considera os impactos humanos nas áreas construídas (built-up land), pesqueiros (fishing), florestas (forest), pastagens (grazing), áreas de cultivo (cropland) e carbono (carbon).

Até meados da década de 1970 a humanidade vivia dentro dos limites renováveis do Planeta. Mas, a partir daí, a pegada ecológica da população mundial foi crescendo continuamente na medida em que crescia o número de habitantes e a renda per capita. Em 1961, a pegada ecológica per capita era de 2,4 hectares globais (gha) e a população mundial era de 3,1 bilhões de habitantes, sendo a biocapacidade per capita de 3,7 gha. Desta forma, a humanidade estava utilizando 63% da capacidade regenerativa da Terra, havendo sustentabilidade ambiental. Em 1975, a pegada ecológica e a biocapacidade per capita, respectivamente, passaram para 2,8 gha e 2,9 gha e a população mundial chegou a 4,1 bilhões de habitantes. A humanidade estava usando 97% da capacidade de regeneração, ainda cabendo dentro de um Planeta. A partir desta data as atividades antrópicas ultrapassaram os limites biológicos da Terra.

Em 2008 (último dado disponível) a pegada ecológica per capita ficou em 2,7 gha, a biocapacidade em 1,8 gha e a população chegou a 6,75 bilhões de habitantes. Portanto a humanidade estava usando 1,5 planetas, ou seja, um planeta e meio em 2008. Nota-se que a pegada ecológica per capita não cresceu nas últimas 3 décadas, mas sim o número de habitantes do globo.

As projeções do relatório Planeta Vivo, da WWF, indicam que a humanidade estará utilizando 2 Planetas em 2030 (com 8,3 bilhões de habitantes) e cerca de 3 Planetas em 2050 (com 9,3 bilhões de habitantes).
Os maiores fatores para o crescimento da pegada ecológica serão na emissão de carbono, nas áreas de cultivo e nas áreas de pastagem. Portanto, quase 2 planetas, em 2050, serão necessários apenas para absorver a quantidade de CO2 emitido pelas atividades antrópicas, em todas as suas dimensões.

Uma alternativa para reduzir a pegada ecológica é diminuir o uso de combustíveis fósseis e passar a usar fontes renováveis, como energia eólica, solar, geotérmica, das ondas, etc. Mas não basta alterar apenas a matriz energética, pois é preciso construir prédios sustentáveis, dar prioridade ao transporte coletivo, revolucionar a produção pecuária, com a captura de metano, incentivar a dieta vegetariana, fazer uma agricultura menos petroficada, com menos agrotóxicos e mais orgânica, apoiar a aquacultura, além de caminhar rumo a uma sociedade do conhecimento baseada em bens e serviços imateriais e intangíveis.

O fato é que já existe uma discrepância de 50% entre o padrão de vida da humanidade e a capacidade de regeneração da Terra. O ser humano está consumindo o capital natural (acumulado no solo e no sub-solo) ao mesmo tempo que degrada as fontes de vida e aquece o Planeta. Este caminho é insustentável pois a Terra é apenas um planeta e não três, como será a demanda da população mundial em 2050. A se manter esse rumo, o mundo vai dar com os burros n’água (salgada).

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

31 de maio de 2012

No Dia Mundial sem Tabaco, Brasil aborda danos à saúde e ao meio ambiente

31/05/2012
Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil


Brasília – O tema definido pelo governo brasileiro para o Dia Mundial sem Tabaco, lembrado hoje (31), é "Fumar: Faz Mal pra Você, Faz Mal para o Planeta". Dados do Ministério da Saúde indicam que o percentual de fumantes no país passou de 16,2% em 2006 para 14,8% no ano passado. É a primeira vez que o índice fica abaixo dos 15%.

A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada em abril, indica ainda que a frequência de fumantes continua maior entre os homens: 18,1% contra 12% entre as mulheres. Mesmo assim, a população masculina lidera os números sobre a redução do tabagismo no país, já que 25% deles declararam ter deixado de fumar, contra 19% entre pessoas do sexo feminino.

Humberto Fernandes dos Santos, 44 anos, é um dos brasileiros que conseguiram largar o vício. O aposentado começou a fumar aos 16 anos, por curiosidade. Depois disso, tentou parar por três vezes, mas só conseguiu abandonar o cigarro em 2008, aos 41 anos. “Apresentei alguns problemas de saúde, inclusive arritmia cardíaca. De lá para cá, não fumei mais”, contou.

As primeiras semanas na tentativa de cortar o vício, segundo ele, são as mais difíceis. “Você sempre se lembra do cigarro. Para me controlar, parei de beber café, comecei a fazer exercícios e passei a estudar regularmente para ocupar a mente. É uma luta diária, mas desde que parei de fumar, percebi que estou mais tranquilo e respirando melhor”.

As secretarias de Saúde em todo o país têm atividades agendadas para hoje, com o objetivo de reforçar o combate ao tabaco. No Distrito Federal, representantes da Coordenação do Programa de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer participam de ações na Ala Mário Covas da Câmara Federal. Servidores e visitantes poderão fazer exames, como o que mede a capacidade respiratória, o teste de dependência química, a aferição de pressão arterial e ocular e a avaliação odontológica para câncer de boca.

Na capital paulista, das 10h às 15h, profissionais do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas estarão no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) distribuindo folhetos informativos sobre o uso do tabaco, do álcool e de outras drogas. Serão realizados também testes de dependência, avaliação odontológica e testes para avaliar o índice de monóxido de carbono no pulmão de fumantes. As pessoas que apresentarem alto risco de dependência serão encaminhadas a serviços especializados para tratamento gratuito.

No Ceará, o Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes promoverá exposição das substâncias prejudiciais à saúde contidas no cigarro, das 11h às 14h. De acordo com a Secretaria de Saúde local, a fumaça do cigarro contém mais de 4.700 substâncias tóxicas, incluindo arsênico, amônia, monóxido de carbono (o mesmo que sai do escapamento dos veículos), além de substâncias cancerígenas, corantes e agrotóxicos em altas concentrações.

Edição: Graça Adjuto