21 de junho de 2012

PARA UMA TEORIA DE GOVERNO – DE ESQUERDA
Por: Lúcio da Costa (Advogado) e
Luiz Marques (Professor de Ciência Política da UFRGS)


Com a proximidade das eleições municipais assistimos à febril busca por alianças políticas com motivos pragmáticos, para expandir a receptividade do eleitorado e o tempo de propaganda na TV. Em Porto Alegre, a gincana do PDT e do PC do B pelo apoio do PP tornou-se o principal assunto dos noticiários. A estranheza midiática em face das investidas publicizadas mira a centro-esquerda, como de praxe.

Quanto ao PT, se este não logra ampliar as siglas existentes em torno de suas proposições, atribui-se a dificuldade a um atávico “radicalismo”, sem aludir ao fato de que, sozinho, representa 60% das identidades partidárias, aferidas de um percentual de 48% dos que declaram uma preferência política nacionalmente, de acordo com o instituto Vox Populi (Marcos Coimbra, “A força da imagem do PT”, Carta Capital, 30/05/2012). A enfadonha lenga-lenga sobre o isolamento petista repete-se em São Paulo “como língua de formiga”. Não existe, porém, é como se existisse.

As composições sem nitidez ideológica caracterizam a política desde a “Carta ao Povo Brasileiro”, assinada por Luis Inácio Lula da Silva (22/06/2002), no início da caminhada vitoriosa do ex-metalúrgico à Presidência em que fazia a apologia de uma “vasta coalizão, em muitos aspectos suprapartidária” visando “abrir novos horizontes para o País”. Diante do que, cabe perguntar se permanece viável uma teoria de governo – de esquerda, tendo por assoalho o aprofundamento da soberania popular. O presente texto tenta responder à indagação com uma esperança militante no futuro.

A razão das alianças

Com o processo de redemocratização do País e a consequente revitalização do papel das instituições parlamentares (Câmara de Vereadores, Assembléias Legislativas e Congresso Nacional), a questão da governabilidade ganhou centralidade na agenda política à medida que o ato de governar do Executivo passou a depender de uma negociação com o Parlamento, em cada esfera federativa.

A situação, comum aos regimes democráticos, seja sob o parlamentarismo, seja sob o presidencialismo, no Brasil é agravada porque as eleições majoritárias são dissociadas das eleições proporcionais, estimulando um quadro esdrúxulo onde o candidato a um posto executivo pode receber 70% dos votos e, apesar disso, contar com uma base de sustentação em minoria nas casas parlamentares. O problema resulta das distorções do sistema de representação política no Brasil, herdado da ditadura militar e referendado pela Constituição de 1988 que não fez a junção.

Não é o único óbice ao sistema de representação política em vigor.

Este limita em 8 o mínimo e 70 o número máximo de representantes na Câmara Federal por unidade da Federação, e em 3 o número de representantes o Senado. Com o que, rompe o princípio republicano baseado em “cada cabeça, um voto” para compor o coral legiferante da nação brasileira, fazendo com que o voto de um cidadão do Acre seja equivalente ao voto de 15 cidadãos gaúchos e 35 paulistas, em flagrante violação do primeiro mandamento da República: assegurar a igualdade formal de todos perante o Estado.

Assim como necessitamos de uma Reforma Política e Eleitoral que institua o financiamento público de campanha, a fidelidade partidária e o voto em lista para fortalecer os partidos políticos e seus respectivos programas na consciência do eleitorado, necessitamos também de uma Reforma do Sistema de Representação Política. Do jeito que está, a nação condena-se a um estágio institucional nebuloso em que já não se reconhece como uma Monarquia, mas ainda não ousa chamar-se de República. Chafurdamos em um hibridismo político.

Aos que contra-argumentam que os mecanismos casuísticos inscritos na Carta Magna bloqueia o afã hegemonista de São Paulo na definição dos rumos da política nacional é preciso lembrar que tal poderia ser levado a cabo pelo Senado, o local apropriado para o debate sobre temas federativos. Bastaria que os senadores dos estados menores se unissem para que SP não pudesse impor de maneira unilateral a sua vontade. No que concerne à Câmara dos Deputados, esta deveria contemplar a representação política proporcional do conjunto da população – sem tergiversações.

Os Estados Unidos contam com um modelo bicameral em que a Câmara Baixa é eleita em moldes tendencialmente proporcionais, enquanto a Câmara Alta é eleita por uma representação por área territorial. Há que ressaltar a diferença, embora as engrenagens de escolha dos representantes estadunidenses sejam talhadas pela lógica mercantil nas competições eleitorais. Para se ter ideia, a propaganda televisiva (que envolve recursos vultosos) fica a cargo da tesouraria dos candidatos, o que condiciona a representação possível pela exclusão das agremiações avessas ao status quo. Nesse quesito, possuímos dispositivos mais equânimes. Contudo, a equação final conduz por igual a uma intransponível maioria conservadora, reiterada pela ação interveniente do poder econômico através do financiamento privado de campanha.

Prevalece o vetor da democracia de massas, a saber, a desideologização da política com o objetivo de sinalizar uma assepsia de classe para justificar a opção por políticas de subordinação ao capital, diminuir a resistência das elites econômicas e magnificar, com a ajuda do marketing político, a receptividade das propostas em todas as camadas sociais. Muitos transformam a necessidade produzida pelas “regras do jogo” em uma suposta virtude, em um atestado de abertura à pluralidade para diferenciar-se dos que são considerados sectários, radicais. Interpretam a conjuntura na defensiva, substituindo o “partido-ônibus” que transportava as oposições durante o bipartidarismo pela “coligação-ônibus” no intuito de assegurar a governabilidade.

Nessa moldura, as coalizões partidárias se realizam, não como contingência, mas como um imperativo filosófico para desembocar em uma indigesta, indecorosa e incompreensível sopa de letrinhas.

 Não obstante, incontornável para evitar golpes do tipo daquele que, em Gravataí, foi armado com oportunismo e cinismo pela direita.
Urge que os movimentos sociais, os sindicatos e os partidos políticos do campo democrático e popular absorvam essa discussão em sua plataforma de reivindicações, erguendo a bandeira de uma Reforma do Sistema de Representação, ao lado da bandeira por uma Reforma Política e Eleitoral, para que a governabilidade não dependa do toma-lá-dá-cá, cujo famigerado ícone encontra-se nas emendas parlamentares individuais, sob a batuta do fisiologismo e do clientelismo. A “crise da ética na política” é fruto do bumerangue de favores materiais e conquistas simbólicas que compensam com o prestígio político a ausência de fidelidade partidária.

Se a luta para reverter tamanha subalternidade da política não ganhar as ruas, não há chance de vitória. Entre nós, a democracia política só poderá ser qualificada pela, democracia participativa, com a participação direta da cidadania organizada, o que tem sido com razão enfatizado por Maria Victoria Benevides (Cidadania ativa: referendo, plebiscito, iniciativa popular, 1991).

As figuras do governo

O governo central é uma parte do poder e está submetido a normas constitucionais anti-republicanas, que rebaixam a grande política aos desvãos da pequena política e dos interesses privados no aparato administrativo. De resto, abrindo caminho às ações ilícitas, de corrupção, que assaltam o Erário. Vale acrescentar, agora, que o governo move-se no âmbito de uma concepção liberal de Estado, construída sobre o equilíbrio entre os três poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário) preconizados por Montesquieu a partir de observações sobre o Reino Unido após a Revolução Gloriosa, no século 17. Instituições tipo os Tribunais de Contas, os Ministérios Públicos e outros órgãos de controladoria vieram na esteira para robustecer os ideais republicanos. Em priscas eras, justapostos aos anseios burgueses de representação nas Cortes monárquicas.

A esmagadora maioria dos países organiza-se tendo por inspiração a “teoria da separação de poderes”. A relação dos governados com os governantes foi regulada pelo sufrágio universal com a inclusão dos não-proprietários, das mulheres, dos jovens e dos analfabetos.

Diga-se de passagem, para gáudio do autor de As veias abertas da América Latina, Eduardo Galeano, o Uruguai foi o primeiro país a estender o voto às mulheres. Todos os direitos políticos (recorde-se a luta pela liberdade de expressão e organização no cenário mundial) foram produto de lutas, suor e lágrimas, nunca benesses dos dominadores. Para institucionalizar essas batalhas havia três poderes originalmente. Outros, no entanto, se desenvolveram nas sociedades modernas.

O enquadramento em uma realidade poliárquica – em que a soberania abarca um amplo rol de centros de poder na coletividade – confunde-se com o que denominamos democracia na contemporaneidade. Aliás, “democracia delegativa”, como apontou o politólogo argentino Guillermo O’Donnell, por converter depois das eleições o presidente e sua equipe na ômega da política. No mais, com total indiferença aos aportes do Congresso, dos partidos políticos e das organizações civis, fazendo os eleitores pós-pleito retornarem à condição de espectadores passivos do desenrolar político.

O ponto é: a democracia na acepção liberal clássica esgota as possibilidades de exercício da soberania popular? A participação da cidadania deve contentar-se com o voto em uma urna de quando em quando, sem avocar um poder decisório que extrapole a teoria da separação de poderes convencional no interregno dos períodos eleitorais? O teto da democracia exclui as iniciativas populares? O Estado de direito (estático, por definição) deve sufocar o Estado democrático (em movimento, por natureza)? A luta pela justiça deve render-se à ordem legal discricionária, em lugar de reinventar a distribuição de direitos políticos, sociais e econômicos na sociedade?

A resposta para todas essas indagações é “Não”. A soberania popular é o “trem da história”, no dizer de Alex de Tocqueville, que objetiva a emancipação social em face das estruturas de dominação.

A Comuna de Paris (1871), de curta duração mas de longo aprendizado para a narrativa emancipacionista, trouxe a prova de que a soberania popular não pode ser restringida a um ideário representativista. A democracia não suporta desacelerações em sua marcha. Ou anda ou pára.

É verdade que governos totalitários (Alemanha hitlerista, Itália mussolinista) e autoritários (França gaullista) lançaram mão de referendos e plebiscitos para recrudescer um poder monocrático e repressivo, na Europa. A democracia participativa, porém, não pode ser recriminada pelas manipulações que caracterizaram seu uso e excessivo abuso no hemisfério Norte. No hemisfério Sul, a democracia calcada na cidadania ativa que persegue os chamados direitos de primeira geração (políticos e civis) mas também os direitos de segunda geração (sociais), não tem feito a promoção demagógica e personalista do establishment. Os rótulos de “populistas” lançados aos expoentes da onda democratizante na América Latina não fazem jus aos fatos.

No Continente latino-americano socializa-se a distribuição do poder com considerável independência em face da influência dos agentes do dinheiro (com destaque para a Venezuela e a Bolívia). Os sujeitos sociais que se descobrem partícipes das deliberações que afetam as múltiplas dimensões da vida coletiva estão menos afeitos às determinações dos poderosos. Possuem mais autonomia para formular juízos.

Nascido no Brasil, a esperança suscitada pela experiência do Orçamento Participativo justifica-se. O OP traduz uma estratégia de consecução do poder em sociedades tidas por democráticas, em um ambiente politico não-revolucionário. O OP transfere a “guerra de posição” gramsciana para o interior do próprio aparelho de Estado, ao discutir a distribuição e aplicação dos recursos públicos com critérios igualitaristas, combatendo as desigualdades sociais e urbanas que formam cidadãos de primeira e segunda classe no sistema-mundo. Sob esse aspecto, constitui-se em uma pedagogia de politização e conscientização, logo, em uma formidável estratégia de construção de uma contra-hegemonia socialista.

A esquerda tem aprofundado o conceito de soberania popular, gerando um novo centro de poder por intermédio da participação presencial da cidadania nos debates de interesse público. Conselhos, colegiados, mesas redondas, conferências compõem com o OP uma forma inovadora de gestão por assimilar na esfera pública contingentes da população que antes não tinham vez nem voz. Trata-se de uma socialização da política que, para os ideólogos liberais, seria predicado exclusivo dos representantes eleitos no reduto do Parlamento municipal, estadual e federal.

Ainda reverbera a afirmação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por ocasião da greve dos petroleiros na década de 90, de que aquele movimento era “político”. Afora defender uma pauta trabalhista opunha-se à privatização da Petrobrás, pretendida pelo tucanato. Quer dizer, metia o bedelho em um tema da ordem do político, atinente ao Congresso e não às ruas. Dito o que, ato contínuo, FHC reprimiu com tanques das Forças Armadas o movimento paredista.

A figura do governo implementada pelas correntes de esquerda, em distintos níveis administrativos, aponta para a superação da teoria dos três poderes pela inclusão da participação direta mas também da participação digital, aproveitando as novas tecnologias de comunicação. Com a extensão da soberania popular, organizada pelo princípio do igualitarismo, a concepção liberal de Estado dá lugar a uma concepção socialista de Estado. As tensões decorrentes com a dinâmica do capitalismo são evidentes no dia a dia da administração, em cada área de atuação governamental.

O que confere caráter socialista ao Estado é a mobilização social e a repartição do poder de decisão por parte dos titulares da representação na gestão pública. Noutras palavras, para articular uma teoria e uma prática de governo – de esquerda – há que ter coragem política para transcender as herdadas distorções da representação política e os perversos limites da institucionalidade, de modo a sedimentar no povo uma nova subjetividade: emancipacionista, rebelde, militante.

O Rio Grande do Sul integra essa marcha libertadora, dá testemunho Carlos Pestana (“E agora?”, Zero Hora, 14/06/2012), Chefe da Casa Civil do governo Tarso Genro. No RS, “os poderes Executivo e Legislativo, aliados aos setores organizados da sociedade civil, uniram suas forças para conceber uma nova visão de Estado (grifo nosso), pautada pela promoção do desenvolvimento econômico e social com maior distribuição de renda e pela maior participação social na administração pública”.

Conclusão: é hora de avançar

Alianças amplas não impedem a configuração de um governo de esquerda. A ausência de instrumentos de participação e deliberação ao alcance da sociedade civil, sim. Como escreve Marta Harnecker (Cinco reflexões sobre o socialismo do século XXI, 2012), retomando a crítica de Che Guevara ao paradigma stalinista: “Não pode haver socialismo sem planejamento participativo”. A frase resume uma aguda crítica ao planejamento burocrático / tecnocrático em uma sociedade virtuosa, onde os interesses gerais se sobreponham aos interesses particulares. A premissa é válida para todo governo que tenha o firme propósito, no exercício do mandato, de enfrentar as desigualdades provocadas pela gramática da acumulação capitalista. A ampliação das prerrogativas da soberania popular permite que esse combate se realize com uma alta densidade democrática.

O poder instituinte popular pode criar novos regramentos nas relações sociais e econômicas, sendo que ao manifestar-se reatualiza a democracia frente às questões de inegável interesse coletivo, mesmo fora do calendário eleitoral e mesmo que implique alterações no plano jurídico-legal. A mobilização que legitima e sustenta o poder instituinte popular na sociedade, em simultâneo, politiza a economia ao confrontar suas diretrizes com as demandas civilizatórias das classes trabalhadoras.

Aqueles que recusam essa possibilidade para evitar a “insegurança jurídica” estão, na verdade, cerceando a liberdade de problematização e crítica aos entraves para o avanço do trem da história. Se tivessem o cuidado de ler o artigo 2° da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, (citado por Vladimir Safatle, em A esquerda que não teme dizer seu nome, 2012), documento em que os jacobinos registram metaforicamente a certidão de nascimento da modernidade, veriam que a “resistência à opressão” é um direito inalienável dos indivíduos e dos povos.

Ao invés de temerem a soberania popular, por extensão a política, deveriam temer a morte da liberdade. – Avante!

Junho/2012

15 de junho de 2012

Na era do automóvel,

artigo de Aroldo Cangussu



trânsito

[EcoDebate]
 Na década de 60, para irmos de Janaúba para Montes Claros, tínhamos, à nossa disposição, dois trens diários, que pegávamos e íamos tranquilamente tomando guaraná quente e comendo farofa de frango. Para Belo Horizonte, era só embarcar no leito e ir dormindo sossegadamente.

A partir do momento que o governo resolveu mudar a política desenvolvimentista e aplicar tudo na indústria automobilística tudo isto mudou. Hoje a pressa fala mais alto e o automóvel iniciou seu reinado. As ferrovias foram abandonadas (servindo apenas para transporte de cargas, com raras exceções) e se investiu forte no transporte rodoviário.

Só que o crescimento da infraestrutura para esse modelo não acompanhou a necessidade do deslocamento. As ruas estão entupidas de carros, ônibus, caminhões e motocicletas não sobrando espaço para mais nada. Em São Paulo, muitos levam quatro horas para ir e voltar do trabalho. A velocidade média do trânsito paulistano é pouco mais que vinte quilômetros por hora. Lá existem mais de sete milhões de veículos, a maioria com apenas uma pessoa sendo transportada. Andar de ônibus lá, e em todas as capitais e cidades grandes do Brasil, é um tormento e o metrô, ainda a melhor solução, é insuficiente.

Até em Janaúba, o trânsito está se tornando um problema. Existe confusão, pois o número de motos está exponencialmente aumentando (uma pena que as bicicletas estão sendo deixadas de lado) e a disputa por espaço com os carros já é acirrada. Eis aí um importante tema para discussões nessa próxima campanha eleitoral.

O próximo prefeito deverá ser capaz, inquestionavelmente, de enfrentar esse problema e apontar soluções. Da mesma maneira, os candidatos a vereador terão que se preparar para propor medidas legais municipais que possam contornar esta questão.

O poder do automóvel é tão avassalador que, nas disputas eleitorais, pelo menos em Janaúba, a quantidade de asfalto executado na cidade é predominante na opinião do eleitor. Quem fizer mais asfalto ganha a eleição. As questões ambientais ficam em segundo plano.

Limpeza pública, recuperação de mananciais, plantio de árvores, planejamento urbano, construção de praças e jardins, abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto são quase irrelevantes para a massa eleitoral. Pelo menos é o que pensam os marqueteiros das campanhas políticas.

Andar de carro, principalmente se for camionete cabine dupla ainda é (que atraso!) sinônimo de status, assim como ter três ou quatro vagas na garagem. As pessoas quase não andam a pé, até para comprar o pão na padaria da esquina toma-se o carro, muitas vezes um veículo de quase três toneladas para transportar uma pessoa de setenta quilos em um trecho de 500 metros.

Este modelo, fatalmente, vai ter que ser mudado.

* Aroldo Cangussu é engenheiro e ex-secretário de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS AMBIENTAIS LTDA.

10 de junho de 2012

Brasil trará delegações de países da África e do Caribe para Rio+20

Da Redação

O governo brasileiro irá trazer delegações de dez países da África e do Caribe para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. A operação está sendo preparada pelo Ministério de Relações Exteriores (MRE), junto com o Ministério da Defesa e a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), e contará com dois aviões Legacy da Força Aérea Brasileira (FAB), mais um Legacy e um Embraer 190, com capacidade para 100 passageiros, cedidos pela empresa brasileira.

Os voos que trarão as delegações estrangeiras irão partir do Brasil e dos Estados Unidos. De acordo com o Ministério da Defesa, até o momento a estimativa é transportar 66 participantes – número que poderá aumentar de acordo com a demanda – dos seguintes países: São Tomé e Príncipe, Malawi, Serra Leoa, Libéria, Cabo Verde, Barbados, Granada, Antígua e Barbuda, São Cristóvão e Neves e Dominica. A população desses quatro últimos é inferior a 100 mil habitantes, menor do que a de cerca de 300 municípios brasileiros.

A cúpula dos chefes de Estado e de Governo começa no dia 18. No dia 19 deste mês, será feita uma demonstração do uso de biocombustível à base de cana-de-açúcar para motores de aeronaves em um Embraer 195.

A Rio+20 ocorrerá no período de 13 a 23 de junho e representantes de 102 países já confirmaram presença. Segundo o Ministério da Defesa, o esquema de segurança para a conferência contará com 15 mil militares trabalhando diretamente nos pontos do evento e mais 5 mil fazendo o reforço das bases aéreas do Galeão, Afonsos e Santa Cruz, no Rio. Alguns homens também reforçarão a segurança na Base Aérea de Guarulhos, em São Paulo, e no Aeroporto de Viracopos, em Campinas.

Com informações da Agência

 

Colapso na Espanha poderia causar “desinvestimento” na AL, diz consultor


Da Redação

A Espanha é o segundo país que mais investe na América Latina e o retorno desses investimentos tem dado fôlego a empresas espanholas que enfrentam dificuldades em casa. Com o aprofundamento da crise financeira no país, porém, a dúvida é se algumas companhias espanholas seriam obrigadas a se desfazer dessas “joias da coroa”. Para o analista Wilber Colmerauer, diretor da consultoria Brasil Funding, em Londres, a possibilidade de que empresas espanholas tenham de reduzir seus investimentos e vender ativos na América Latina não pode ser ignorada.

“Ninguém quer se desfazer de ativos lucrativos na região, mas esse é um cenário provável se a crise na Espanha descambar para um colapso financeiro. Primeiro, porque a União Europeia deve pressionar por uma reestruturação das instituições financeiras espanholas antes de ajudar o país. Segundo, porque deve ficar cada vez mais caro para empresas espanholas rolarem suas dívidas.”

A Espanha conseguiu vender, com êxito, 2,6 bilhões de euros em bônus do governo nesta quinta-feira (7), com juros de 6%. No mês passado, o Bankia, quarto maior banco do país, pediu uma ajuda de 19 bilhões de euros ao governo, o que tem gerado incertezas entre investidores sobre a solidez do sistema financeiro espanhol.

Recentemente, rumores de uma possível venda de 30% a 40% do Santander no Brasil para o Banco do Brasil, em um primeiro momento, e para o Bradesco, logo em seguida, repercutiram em jornais e sites brasileiros – apesar de as negociações terem sido negadas por executivos dessas instituições financeiras.
O Santander já vendeu uma parte de seus ativos no Chile e se desfez de sua filial colombiana, conseguindo cerca de US$ 2 bilhões para reforçar sua posição na Espanha – onde a inadimplência está crescendo. O banco BBVA anunciou, no mês passado, que pretende liquidar total ou parcialmente seus fundos de pensão no Chile, na Colômbia, no Peru e no México.

Para Colmerauer, tais iniciativas indicam que a América Latina e o Brasil, em especial, podem ser afetados por um possível acirramento da crise espanhola, não só por uma redução do comércio bilateral, como já vem sendo alardeado, mas também pela saída de divisas.

“É razoável esperar um aumento da remessa de lucros para as matrizes e uma venda de ativos na América Latina como resultado da reestruturação das empresas espanholas”, disse o analista, identificando o setor bancário e o de construção como os mais vulneráveis. “Para complicar, tal movimento de capitais poderia levar à desvalorização do câmbio”, completou.

Com informações da Agência Brasil

Rio+20: Em busca de um civismo planetário

O coordenador executivo da Rio+20, Brice Lalonde analisa, em entrevista especial, os desafios e obstáculos que estão colocados para a conferência. Apesar de todas as adversidades, ele não aposta em fracasso. "Uma das grandes dificuldades que temos hoje está em que dentro da cada país há pouquíssimos negociadores que pensam no planeta, na humanidade em seu conjunto. Eles pensam em seus países e em seus interesses nacionais. Há muito civismo nacional e pouco civismo planetário", diz Lalonde.

Paris - Um mês e meio antes do início da conferência Rio+20, as perspectivas de que se consiga no Rio de Janeiro uma mudança decisiva para combater os males ambientais do planeta e a pobreza não são muito animadoras. Especialistas de todo o planeta temem que a humanidade seja incapaz de colocar fim à destruição da Terra. Os cientistas que participaram de uma conferência prévia a Rio+20, realizada em Londres, em março passado, disseram que a meta da ONU de limitar o aquecimento global a dois graus Celsius – adotada há menos de 18 meses – já é inalcançável.

“Temos que nos dar conta de que estamos observando uma perda de biodiversidade sem precedentes nos últimos 65 milhões de anos. Estamos entrando claramente na sexta extinção em massa do planeta”, disse Bob Watson, ex-chefe do painel climático da ONU e principal assessor do ministério britânico do Meio Ambiente.

A conferência tem três objetivos: combater esta crise ambiental, erradicar a pobreza e colocar o crescimento em um caminho sustentável, com medidas para estimular a economia verde. Mas, ao contrário do que ocorreu em 1992, ninguém espera um plano global de amplo alcance. As crises financeiras no Ocidente, o quase fiasco da cúpula do clima de Copenhague, em 2009, e as mudanças geopolíticas, com a emergência de China, Índia e Brasil, antecipam um evento de baixo perfil.

No entanto, apesar de todas essas adversidades, Brice Lalonde não aposta em fracasso. Este político francês foi nomeado pelo secretário geral das Nações Unidas como coordenador executivo da Rio+20. Sobre ele recai a responsabilidade de tentar colocar todo mundo de acordo. A busca de consensos em um mar tão agitado está longe de ser um passeio. Militante ecologista, encarregado francês das negociações sobre o clima entre 2007 e 2011, ministro de Meio Ambiente nos governos socialistas entre 1988 e 1992, Brice Lalonde oferece aqui as pautas e os obstáculos de uma cúpula onde, diz, a “noção simplista” do capitalismo dificulta os possíveis progressos.

O Brasil organiza em junho a conferência Rio+20 sobre o desenvolvimento sustentável. A cúpula será realizada vinte anos depois da Cúpula da Terra, realizada também no Rio de Janeiro, em 1992, quando as Nações Unidas criaram dois fóruns para enfrentar a mudança climática e a perda de biodiversidade. Duas décadas mais tarde, o que é preciso fazer para evitar que esse encontro termine sem resultados?

A pergunta que devemos nos fazer consiste em saber se as instituições, a economia e o grande giro que se deu na proteção do planeta e na luta contra a pobreza podem seguir a evolução geopolítica. Em 1992, havia uma situação geopolítica muito especial: o Muro de Berlim acabava de cair e ainda não havia ocorrido a ascensão mundial de China, Índia e Brasil. Hoje, a situação geopolítica é muito diferente em função dessa novidade. Também temos agora o retorno de guerras e conflitos, assim como a crise econômica que nos afeta, o que mostra que as dificuldades são complexas no novo sistema mundial da economia. Outro elemento novo em relação a 1992 é a internet e a tecnologia. Em suma, trata-se de saber se podemos adaptar novas instituições às mudanças da geopolítica e responder as perguntas que são as mesmas que foram feitas em 1992: como vencer a pobreza e proteger o meio ambiente.

A Rio+20 suscita muitas expectativas. No entanto, os observadores mais atentos asseguram que a cúpula servirá apenas para propor algumas pistas. Você disse inclusive que o texto que estava sendo discutido carecia de ambição.

O que vamos fazer talvez seja abrir uma fase para um novo modo de desenvolvimento. Mas, sim, é verdade, falta ambição ao texto. Creio que devemos ir mais rápido, com mais força. Uma das grandes dificuldades que temos hoje está em que dentro da cada país há pouquíssimos negociadores que pensam no planeta, na humanidade em seu conjunto.

Essa é a grande dificuldade?


Sim. Os negociadores pensam em seus países, defendem seus interesses nacionais. Mas em todo esse processo não há um piloto para o planeta. Isso é o que me dá medo. Algum dia será preciso inventar algo para que nos ocupemos daquilo que temos em comum, ou seja, a atmosfera, os oceanos e até o próprio conhecimento. Há muitos, muitos temas que estão mais além da esfera dos interesses nacionais e que o sistema internacional atual não consegue tratar.

Isso significa que, apesar de todas as mudanças climáticas e da consciência cotidiana do que ocorre, ainda não há uma tomada de consciência global de que o planeta é uma história comum e não uma questão meramente territorial?

Não. Em muitos governos ainda não há um civismo planetário. Há muito civismo nacional, muita lealdade nacional, mas a lealdade planetária não está muito presente. No entanto, entre os jovens encontramos muitas pessoas muito comprometidas.

Uma pergunta sobressai deste cenário: a crise ou o planeta? Por acaso a crise carregará o planeta ou este salvará a crise?

O problema está talvez no fato de que esta crise provém de um sistema econômico que não responde à situação. Uma parte da resposta à crise está no que se chama de desenvolvimento sustentável.

Os temas fortes da cúpula são a economia verde e a luta contra a pobreza. Quais são as duas frentes antagônicas e em torno de que pontos gira a controvérsia?

Ah..Não há dois campos nítidos ou afirmados. Dependendo do tema, há maiorias, minorias e oposições. Mas há uma primeira divisão clássica entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. A isto se agrega agora um terceiro ator, que são os países emergentes. Por exemplo, as pequenas cidades africanas não defendem os mesmos interesses que os grandes países como a China defendem. No que diz respeito à economia verde, há vários países que não são nem um pouco entusiastas. Não gostam da expressão, preferindo desenvolvimento sustentável.

Em suma, muitos países querem evitar que a economia verde se transforme em uma forma de levantar obstáculos ao comércio internacional ou que estabeleça novas condições para a ajuda ao desenvolvimento. Associado a isso está o tema da governabilidade, mas esse ponto não traz demasiados problemas. Eu diria que a divisão mais clara está entre os partidários do desenvolvimento e os que afirmam que não pode se continuar assim, que é preciso salvar o planeta. Estamos em busca de uma fórmula que concilie o desenvolvimento e o meio ambiente. Esta é a discussão mais importante e mais difícil de resolver porque está em jogo o meio ambiente mundial e a possibilidade de chegar a um ponto sem retorno. A discussão envolve também aqueles que dizem que o prioritário é a luta contra a pobreza, ou seja, o crescimento econômico, e que não é possível seguir acumulando tantas desigualdades. Este campo argumenta que a questão do planeta tem que ser o passo seguinte.

Mas quem diz crescimento está dizendo consumo dos recursos do planeta. Além disso, no que diz respeito à economia verde, seus críticos advertem, e não sem razão, que isso equivale a introduzir o mercado na ecologia.

Ah! O mercado é um bom servidor, mas um mau chefe. Toda a questão está nisso, em nossa capacidade de organizar o mercado, de fixar regras. Não há mercado sem regras. No momento, há muitas coisas que não estão sendo feitas. Estamos tratando de terminar com os subsídios aos combustíveis fósseis, o que é uma forma de intervir nos mercados, mas não é nada fácil.

Por exemplo, quando se suspende um subsídio desses é preciso recuperar o dinheiro que o Estado dava e dirigi-lo para a ajuda aos mais pobres. O tema dos mercados implica saber como se administram os recursos mais escassos.
Na verdade, é preciso sair do capitalismo mais básico: é preciso dizer que o capital mais importante é o povo e a natureza. O povo e a natureza são os elementos número um do capital. Não se deve sacrificar esse capital em benefício do pequeno capital monetário das empresas. Como você sabe, existem muitas empresas que financiam campanhas contra o desenvolvimento sustentável. Há uma enorme batalha em torno disso. Existem interesses econômicos que trabalham no curto prazo e que devem ser combatidos.

Mas, 20 anos depois da conferência do Rio, hoje há um poderoso ator que antes não existia: a sociedade civil.

A sociedade civil é um grande aliado, tanto para mim como para o Brasil, que organiza a conferência. Temos uma necessidade absoluta da sociedade civil. Associações, cientistas, professores, em suma, todos aqueles que trabalham pelo planeta são essenciais. Mas também as regiões, as municipalidades e as cidades ocupam um lugar destacado neste trabalho. Quando uma cidade fixa as regras urbanistas, isso também é importante. A sociedade civil será então um ator muito importante, não só porque estará presente, mas também porque vai participar de um novo caminho de negociação. Trata-se dos “diálogos sobre o desenvolvimento sustentável”. O Brasil e a ONU fizeram um grande esforço para criar um novo tipo de conferência onde não estejam só os diplomatas de cada país, mas a sociedade civil em seu conjunto.

Tradução: Katarina Peixoto

3 de junho de 2012

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Os muito ricos e o mito de que seriam “criadores de empregos”

Em 1889, no seu artigo O Evangelhoda Riqueza [Gospel of Wealth], Andrew Carnegie ensinava que os norte-americanos deveriam considerar bem vinda a concentração da riqueza nas mãos de poucos, porque “a superior sabedoria, experiência e habilidade” dos ricos garantiria benefícios para todos.

Mais recentemente, Edward Conard, autor de Unintended Consequences: Why Everything You’ve Been Told About the Economy Is Wrong [Consequências indesejadas: por que tudo o que lhe contaram sobre a economia está errado], disse: “Como sociedade, não estamos a oferecer aos nossos raros talentos recompensa suficiente. Estamos pagando pouco aos que correm riscos”.  [1]
Será verdade? Será que, se dermos todo o dinheiro aos norte-americanos mais ricos, estará garantido que o empregarão sabiamente e que criarão empregos e estimularão os investimentos em pequenos negócios e, assim, beneficiarão toda a sociedade? Isso parece ser o que pensam os 18 altos executivos de grandes empresas que escreveram, em carta ao Secretário do Tesouro Timothy Geithner, que qualquer aumento nos impostos sobre ganhos de capital reduzirá o investimento, “quando precisamos formar capitais nos EUA para criar empregos e expandir nossa economia.”
Os 18 empresários e executivos que assinam a carta não listam qualquer prova a favor de suas ideias, porque não há o que prove esse tipo de delírio. Os factos são outros:

Os muito ricos não gostam de investimentos de risco

Analistas de mercado de Marketwatch estimam que mais de 90% do património acumulado pelos milionários está aplicado numa combinação de investimentos de baixo risco (bondse dinheiro), no mercado de ações e em propriedade imobiliária. Segundo o economista Richard Wolff, cerca de metade do patrimônio do 1% mais rico está aplicado em fundos não incorporados (contas comerciais pessoais). O  Wall Street Journal anota que cerca de mais de ¾ do patrimônio dos que valem individualmente mais de $20 milhões está investido em fundos hedge.

A parte do investimento aplicada em negócios iniciantes em 2011 não chegou a 1% dos investimentos dos ricos nos EUA.

A investigação de Mendelsohn Affluent Survey confirmou que os muito ricos gastam menos de 2% do próprio dinheiro para estimular negócios iniciantes. A última coisa que querem, pelo que se pode ver, é investir no arriscadíssimo negócio de contratar gente para inovar.

Os muitos ricos não gostam de arriscar em empregos

Os profissionais da alta gestão e da administração financeira representavam, em 2005, cerca de 60% do 1% de norte-americanos mais ricos. Os empresários empreendedores não chegavam a 3%.  Estudo recente constatou que menos de 1% de todos os empresários empreendedores vinham de ambientes muito ricos ou muito pobres.

A grande massa dos investimentos dos norte-americanos mais ricos toma o rumo do exterior – para fora dos EUA, onde os mais ricos aplicam 57% do próprio dinheiro e enchem suas fábricas com trabalhadores mal remunerados e superexplorados. Números do Departamento de Comércio mostram que as empresas norte-americanas cortaram cerca de 2,9 milhões de empregos nos EUA entre 2000 e 2009. Ao mesmo tempo, criaram 2,4 milhões de subempregos fora dos EUA.

O mais provável é que os muito ricos absolutamente nunca pensem em criar empregos, sejam quais forem, nos EUA. Pesquisas mostram que 60% dos investidores com patrimônio de $25 milhões ou mais estão investindo no exterior até 1/3 de tudo que têm. Nos EUA, a riqueza extra que teria sido criada pelos cortes de impostos da era Bush evaram aos “piores números do trabalho, de toda a história”. O grande criador de empregos nos EUA, como diria Nick Hanauer, [2]é o consumidor de classe média.

As empresas norte-americanas muito ricas não gostam de investir nos EUA

Como as empresas gastam o próprio dinheiro? Em larga medida, não gastam. Segundo a agência Moody’s, o caixa de empresas não financeiras norte-americanas subiu 3% entre 1980 e 2011 e chega hoje a $1,24 trilhões. A razão património/dinheiro  das empresas quase triplicou entre 1980 e 2010. Estima-se que o dinheiro paralisado como reserva de caixa nas empresas norte-americanas bastaria para manter empregados 3,5 milhões de pessoas a mais, durante cinco anos, com salário anual de $40 mil dólares.

As empresas que mais preservam suas reservas de caixa, entre as quais Apple, Google, Intel, Coca Cola e Chevron, gastam o seu dinheiro na recompra de ações (o que faz subir o preço das ações preferenciais), em dividendos para investidores e na compra de empresas subsidiárias. Segundo Bloomberg, a recompra de ações alcança hoje um dos mais altos picos dos últimos 25 anos.

A empresa Apple alega ter criado 500 mil empregos para a economia dos EUA, mas aí estão contados entusiastas da construção de aplicativos e os motoristas da Fedex que entregam iPhones a domicílio. A Apple emprega hoje nos EUA 47 mil pessoas: é 1/10 da força de trabalho da General Motors nos anos 1990s.

Os riquíssimos investem, isso sim, no exterior. Também investem mais em “drenar cérebros” para o exterior – empresários, cientistas, médicos – do que em apoiar a melhoria da educação nos EUA.
Há um campo no qual as grandes empresas gostam de gastar dinheiro: em bônus aos altos executivos. Bancos, sobretudo, cujos gastos extras são muitas vezes cobertos por empréstimos de juro zero que lhes garante o FED – Federal Reserve.

Os mais ricos – indivíduos e empresas – são muito bons em acumular fortunas. E são melhores ainda na arte de cultivar o mito de que seriam “criadores de empregos”.

O relatório Planeta Vivo e as projeções da Pegada Ecológica, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em junho 1, 2012 por

O relatório Planeta Vivo e as projeções da Pegada Ecológica

[EcoDebate] Um dos componentes centrais do relatório Planeta Vivo, da WWF, é a pegada ecológica, que é uma medida utilizada para avaliar a demanda que o ser humano exerce sobre a biosfera (nas diversas escalas), comparando a quantidade de recursos naturais renováveis que as pessoas estão consumindo em comparação com a capacidade de regeneração da Terra ou a sua biocapacidade, medida em área de terra efetivamente disponível para a produção dos recursos naturais renováveis e a absorção das emissões de CO2. A metodologia considera os impactos humanos nas áreas construídas (built-up land), pesqueiros (fishing), florestas (forest), pastagens (grazing), áreas de cultivo (cropland) e carbono (carbon).

Até meados da década de 1970 a humanidade vivia dentro dos limites renováveis do Planeta. Mas, a partir daí, a pegada ecológica da população mundial foi crescendo continuamente na medida em que crescia o número de habitantes e a renda per capita. Em 1961, a pegada ecológica per capita era de 2,4 hectares globais (gha) e a população mundial era de 3,1 bilhões de habitantes, sendo a biocapacidade per capita de 3,7 gha. Desta forma, a humanidade estava utilizando 63% da capacidade regenerativa da Terra, havendo sustentabilidade ambiental. Em 1975, a pegada ecológica e a biocapacidade per capita, respectivamente, passaram para 2,8 gha e 2,9 gha e a população mundial chegou a 4,1 bilhões de habitantes. A humanidade estava usando 97% da capacidade de regeneração, ainda cabendo dentro de um Planeta. A partir desta data as atividades antrópicas ultrapassaram os limites biológicos da Terra.

Em 2008 (último dado disponível) a pegada ecológica per capita ficou em 2,7 gha, a biocapacidade em 1,8 gha e a população chegou a 6,75 bilhões de habitantes. Portanto a humanidade estava usando 1,5 planetas, ou seja, um planeta e meio em 2008. Nota-se que a pegada ecológica per capita não cresceu nas últimas 3 décadas, mas sim o número de habitantes do globo.

As projeções do relatório Planeta Vivo, da WWF, indicam que a humanidade estará utilizando 2 Planetas em 2030 (com 8,3 bilhões de habitantes) e cerca de 3 Planetas em 2050 (com 9,3 bilhões de habitantes).
Os maiores fatores para o crescimento da pegada ecológica serão na emissão de carbono, nas áreas de cultivo e nas áreas de pastagem. Portanto, quase 2 planetas, em 2050, serão necessários apenas para absorver a quantidade de CO2 emitido pelas atividades antrópicas, em todas as suas dimensões.

Uma alternativa para reduzir a pegada ecológica é diminuir o uso de combustíveis fósseis e passar a usar fontes renováveis, como energia eólica, solar, geotérmica, das ondas, etc. Mas não basta alterar apenas a matriz energética, pois é preciso construir prédios sustentáveis, dar prioridade ao transporte coletivo, revolucionar a produção pecuária, com a captura de metano, incentivar a dieta vegetariana, fazer uma agricultura menos petroficada, com menos agrotóxicos e mais orgânica, apoiar a aquacultura, além de caminhar rumo a uma sociedade do conhecimento baseada em bens e serviços imateriais e intangíveis.

O fato é que já existe uma discrepância de 50% entre o padrão de vida da humanidade e a capacidade de regeneração da Terra. O ser humano está consumindo o capital natural (acumulado no solo e no sub-solo) ao mesmo tempo que degrada as fontes de vida e aquece o Planeta. Este caminho é insustentável pois a Terra é apenas um planeta e não três, como será a demanda da população mundial em 2050. A se manter esse rumo, o mundo vai dar com os burros n’água (salgada).

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br