22 de março de 2012

O gosto amargo do cigarro

Stephen Doral Stefani

A imprensa noticiou que a Anvisa proibiu a comercialização de cigarros com aditivos com sabor. Evidentemente, a indústria do cigarro sofreu um golpe. Alega-se que a proibição inviabilizaria economicamente uma série de negócios na cadeia produtiva e com desdobramentos sociais. Muito difícil de convencer pessoas ligadas à saúde – que vivem de perto esta epidemia - que este impacto social seja maior do que o espantoso número de pessoas que está pagando um preço pelo erro de terem iniciado o hábito. E não me refiro, evidentemente, ao preço da carteira de cigarro (que fui pesquisar e é realmente caro, considerando que o tabagista faz uso crônico do cigarro), mas o biológico. Milhões de pessoas superlotam o sistema de saúde. O mais cruel talvez seja que os fumantes passivos – crianças e adultos que não fumam mas convivem com fumantes – ocupem o mesmo lugar na fila.

 
No mundo, o tabagismo gera uma perda econômica de US$ 200 bilhões a cada ano, sendo a metade nos países em desenvolvimento. Esta estimativa é resultado da soma de fatores como o tratamento das doenças relacionadas ao tabaco, mortes em idade produtiva, aposentadorias precoces, absenteísmo e menor rendimento produtivo. Cabe ainda pautar estratégias para combater o hábito instalado em pessoas que não tiveram instrução e apoio para abandonar o cigarro. Não temos estrutura adequada para oferecer tratamento interdisciplinar indicado. Deve-se chamar a atenção, também, para outro fator significativo: o mercado ilegal de cigarros no País. Estatísticas apontam que até 1/3 do comércio do tabaco seja irregular! Em resumo, o tema é ainda mais complexo do que se imagina. Com aditivos ou não, o gosto do cigarro será amargo para o fumante e para toda sociedade.

Médico oncologista

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