7 de maio de 2013

PADRE JOSIMO, UMA VIDA PELAS VIDAS

Padre Josimo Tavares: 27 anos de martírio

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Padre Josimo Tavares: 27 anos de martírio
Foto: Adital

Padre Josimo Tavares: 27 anos de martírio.

Gilvander Moreira

Feliz de um povo que não esquece seus mártires.” (Dom Pedro Casaldáliga)

[EcoDebate] Dia 10 de maio de 2013, antevéspera do dia das mamães, celebramos 27 anos do martírio do padre Josimo Tavares. Por isso o recordamos. Após tentativa de assassinato contra padre Josimo Moraes Tavares, no dia 15 de abril de 1986, quando cinco tiros foram disparados contra a Toyota dele, profundamente ameaçado de morte e de ressurreição, incompreendido até por colegas padres e agentes de pastoral, padre Josimo foi “intimado” a elaborar um relatório de suas atividades e a esclarecer as circunstâncias que levaram a tantas ameaças de morte contra ele.

Em seu belíssimo Testamento Espiritual pronunciado durante a Assembleia Diocesana de Tocantinópolis, MA, no dia 27 de abril de 1986, poucos dias antes de seu assassinato, dizia Josimo que sua morte estava anunciada, encomendada e prescrita nos anais das correntes que desejavam ardentemente eliminá-lo. Novos Anás e novos Caifás já o haviam julgado. Mas Josimo se encontrava firme, pois havia assumido o seu trabalho pastoral no compromisso e na causa em favor dos pobres, dos oprimidos e injustiçados, impulsionado pela força do Evangelho. Josimo declarou:

“Pois é, gente, eu quero que vocês entendam que o que vem acontecendo não é fruto de nenhuma ideologia ou facção teológica, nem por mim mesmo, ou seja, pela minha personalidade. Acredito que o porquê de tudo isso se resume em três pontos principais.

-          Por Deus ter me chamado com o dom da vocação sacerdotal e eu ter correspondido.

-          Pelo senhor bispo, D. Cornélio, ter me ordenado sacerdote.

-          Pelo apoio do povo e do vigário de Xambioá, então Pe. João Caprioli, que me ajudaram a vencer nos estudos.

“O discípulo não é maior do que o Mestre. Se perseguirem a mim, hão de perseguir vocês também.” Tenho que assumir. Agora estou empenhado na luta pela causa dos pobres lavradores indefesos, povo oprimido nas garras dos latifúndios. Se eu me calar, quem os defenderá? Quem lutará a seu favor? Eu pelo menos nada tenho a perder. Não tenho mulher, filhos e nem riqueza sequer, ninguém chorará por mim. Só tenho pena de uma pessoa: de minha mãe, que só tem a mim e mais ninguém por ela. Pobre. Viúva. Mas vocês ficam aí e cuidarão dela. Nem o medo me detém. É hora de assumir. Morro por uma justa causa. Agora quero que vocês entendam o seguinte: tudo isso que está acontecendo é uma conseqüência lógica resultante do meu trabalho na luta e defesa pelos pobres, em prol do Evangelho que me levou a assumir até as últimas consequências.

A minha vida nada vale em vista da morte de tantos pais lavradores assassinados, violentados e despejados de suas terras. Deixando mulheres e filhos abandonados, sem carinho, sem pão e sem lar. É hora de se levantar e fazer adiferença
Morro por uma causa justa.”

Mas ele não imaginava que a morte viria tão cedo. Dia 10 de maio de 1986, dia das mamães, padre Josimo foi assassinado covardemente enquanto subia as escadas do prédio da Mitra Diocesana de Imperatriz, MA, onde funcionava o escritório da CPT Araguaia-Tocantins. Ainda teve forças para entrar no hospital andando. Isso foi o que fazendeiros deram a dona Olinda, mãe do padre Josimo, no dia das mães.

Padre Josimo era coordenador da Comissão Pastoral da Terra – CPT – no Bico do Papagaio. O pistoleiro Geraldo Rodrigues da Costa efetuou dois disparos com uma pistola de calibre 7,65. Para executar Josimo contou com a participação de Vilson Nunes Cardoso, que até hoje está foragido.

Em 1993, nova denúncia, apontou como mandantes do assassinato de Padre Josimo, Geraldo Paulo Vieira, Adailson Vieira, Osmar Teodoro da Silva, Guiomar Teodoro da Silva, Nazaré Teodoro da Silva e Osvaldino Teodoro da Silva e João Teodoro da Silva. Em 1998 Adailson Vieira, Geraldo Paulo Vieira (pai do Adailson) e Guiomar Teodoro da Silva foram julgados e condenados. Os dois primeiros foram condenados a 19 anos de reclusão e Guiomar, a 14 anos e 3 meses. João Teodoro da Silva faleceu antes de ser levado a julgamento. Geraldo morreu alguns meses depois da sentença. Osmar Teodoro da Silva ficou foragido durante anos, sendo capturado pela polícia somente em 2001, depois de ter sido alvo do programa Linha Direta, na TV Globo. Em setembro de 2003, ele foi condenado, por unanimidade, a 19 anos de reclusão.

Geraldo Rodrigues da Costa, o executor do crime, foi condenado, em 1988, a 18 anos e 6 meses de reclusão. Conseguiu fugir da penitenciária por três vezes, mas, depois da última fuga, nunca mais fora encontrado. Há informações de que faleceu durante fuga após um assalto na cidade de Guaraí, Tocantins.

Em 2006, Claudemiro Godoy do Nascimento, no artigo “20 anos com Josimo”, recordava:

Há 20 anos atrás, o Brasil vivia momentos de transformações políticas e econômicas que dinamizavam o cenário das relações políticas. Na região do Bico do Papagaio a situação não se diferenciava. Com o anuncio do fim do regime ditatorial havia uma rearticulação política das oligarquias rurais na chamada Nova República. A luta social se encontrava diante de fortes momentos de tensão e conflito por parte de fazendeiros e trabalhadores rurais que tinham na Igreja, na CPT, nos sindicatos e nos novos movimentos sociais do campo uma esperança em ver realmente a Terra partilhada para todos e todas. Josimo é a testemunha fiel e nos ensina de que vale a pena dar a vida pela causa do Reino, das comunidades e do povo. Sua morte significou o compromisso assumido em denunciar as estruturas de morte alimentadas pelas injustiças políticas de mandos e desmandos de uma oligarquia rural que ousava (ou ainda ousa) se estabelecer no poder da República. É neste sentido que Josimo se torna o padre mártir da Pastoral da Terra ao selar com seu sangue uma opção, um compromisso e um engajamento na defesa dos oprimidos, em especial, os trabalhadores rurais. Poderíamos relembrar os versos de Pedro Tierra escritos por ocasião do martírio de Padre Josimo em maio de 1986: Quem é esse menino negro / Que desafia limites? / Apenas um homem. / Sandálias surradas. /Paciência e indignação. / Riso alvo. / Mel noturno. / Sonho irrecusável. / Lutou contra cercas. / Todas as cercas./ As cercas do medo. / As cercas do ódio. / As cercas da terra. / As cercas da fome. / As cercas do corpo. / As cercas do latifúndio.

Diante de tanta fé e de uma teimosia do Reino inexplicável, Josimo sentia-se fortalecido pela experiência de Deus, pois se encontrava dentro do próprio Deus. Com certeza, Josimo fez a experiência de Deus que somente os grandes místicos da humanidade fizeram. Um homem que chega a ponto de saber que terá seu sangue derramado em defesa dos pobres e pela causa do Reino só pode ter tido a experiência concreta do Deus que se fez gente entre os homens e mulheres.

Para Josimo ser padre significava sentir a vida brotando como serviço justo a Deus e aos pobres, sobretudo. Para ele, o culto, a eucaristia, a teologia do sacrifício significava o agrado que fazemos a Deus no serviço aos pobres, aos doentes e marginalizados da sociedade. Percebemos nos escritos, nos poemas e nos registros de Josimo uma profunda intimidade com sua opção primeira, a saber: a Diakonia, ou seja, o serviço, o estar sempre servindo aos mais necessitados. Necessitados do Bico do Papagaio eram os trabalhadores rurais expulsos e espoliados da terra pelos grandes fazendeiros locais e pelos políticos ao estilo coronelista. Portanto, ser padre Josimo era ser Profeta na Justiça, Pastor na Caminhada e Sacerdote humilde que procurava oferecer a Deus oferendas justas. Josimo é a própria oferta. Tornou-se um ofertório vivo para nossas comunidades e para a construção do Reino.

Com certeza, a memória dos 26 anos do martírio de Padre Josimo nos traz à luz a experiência das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base -, da Igreja Povo de Deus, Igreja Povo Novo enquanto sinal do Reino de Deus no mundo. Novos Josimos só surgirão quando a Igreja novamente for sinal vivo do Reino de Deus, quando estiver ao lado dos pobres e oprimidos, dos fracos e perseguidos; quando denunciar as injustiças e as opressões cometidas contra o povo; quando anunciar a esperança, a fé, o amor e a alegria aos pobres.

10 de maio de 2012 são 26 anos com Josimo. Ele continua vivo. Vivo nas memórias do povo, nas experiências dos educadores populares, nos escritos da Teologia da Libertação e no compromisso dos poucos agentes de pastorais que continuam reafirmando o mesmo compromisso com o Reino, com a causa de um novo mundo, com a justiça social e a solidariedade para com os excluídos da sociedade. Vivo no martirológico latino-americano, alternativo por excelência, sem nenhuma ligação e reconhecimento por parte da estrutura eclesial oficial. A história não pode perder a figura de Josimo. Ele é importante na história porque promoveu com o povo a história. Com Josimo, os dominados contam suas histórias. Com Josimo, a história não é na lógica da classe dominante. Com Josimo, os dominados são os sujeitos históricos.”

O nome de Padre Josimo está hoje em centenas de Acampamentos de Sem Terra, de Assentamentos de Reforma Agrária e de Comunidades Eclesiais de Base. Ele está muito vivo e presente nos corações e na mente de milhões de pessoas que lutam para que a Mãe terra seja libertada das garras do latifúndio e partilhada com milhões de sem-terra através de uma reforma agrária popular, massiva e democrática.

Algumas pessoas nos alertam perguntando: “Por que valorizar tanto o martírio, o sofrimento…?” Devemos ser criteriosos para não incentivarmos um martírio voluntário. É claro que existem muitas pessoas que, de mil e uma formas, e não raro, de um jeito eficaz e abrangente, dão testemunho, dinamizam a vida, atuam na cidadania e constroem o bem comum. Não podemos também jamais esquecer a memória dos inúmeros mártires da caminhada. Ai de um povo que esquece os seus mártires.

José Vicente, compositor e cantor das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base – diz sobre Padre Josimo: “Padre Josimo sofreu várias ameaças, dois atentados e foi executado à bala, por um pistoleiro, a mando de um grupo de fazendeiros da região chamada Bico do Papagaio no Tocantins, onde ele acompanhava toda a situação de conflitos pela posse da terra e pelos direitos dos trabalhadores, como membro da coordenação da CPT.

Como cantor da caminhada, movido pelo testemunho de Josimo, Zé Vicente compôs a música “Renascerá” em sua homenagem.

Renascerá, renascerá, o teu sonho, Josimo,
De um novo destino renascerá!
E chegará, e chegará tempo novo sagrado
Há tanto esperado, pra nós chegará!

Dona Olinda, mãe de Padre Josimo ainda vive e mora na região do Bico do Papagaio. Ao contemplar sua imagem tão pequena, cabelos brancos, silenciosa, vestindo a camiseta comemorativa, com a frase do testamento do filho: “morro por uma Causa justa!”, o nosso coração arde de emoção. Quem conviveu com Josimo diz: ”Ele era um poeta, tocava violão, gostava de escutar as histórias das pessoas, tinha um jeito manso, gostava de usar aquelas chinelas havaianas…”

Ao contemplar o pôr-do-sol na beira do grande Rio Tocantins, sob a lua nova que também deu o ar de graça sobre os presentes, a última estrofe do Samba pra Josimo irrompe na lembrança, como utopia teimosa, assinada com seu sangue há 27 anos.

Cada rio formoso lá do Tocantins
Levará teu sonho a todos os confins
E cada braço erguido, conquistando o chão
Terá as energias do teu coração!

Assim seja! Amém, Aleluia, Auerê, Uai!

Belo Horizonte, MG, Brasil, 10 de maio de 2013, 27 anos com padre Josimo Tavares vivendo vida plena.
[1] Gilvander Moreira, Frei e padre carmelita, mestre em Exegese Bíblica, professor de Teologia Bíblica; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; articulista do Portal EcoDebate; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: gilvander.moreira
1Frei e Padre Carmelita; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, CEBs, SAB e Via Campesina; e-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br – facebook: gilvander Moreira
2 LE BRETON, BINKA; Todos Sabiam, a morte anunciada do Padre Josimo, Ed. Loyola, São Paulo, 2000, pp. 129-130.
EcoDebate, 07/05/2013

3 de maio de 2013

NÃO EXISTE VIDA NO ISOLAMENTO

Para viver além de Narciso

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Lia Diskin disseca ultra-individualismo das sociedade submissas aos mercados, mas aposta nos novos valores da juventude e numa política despartidarizada
Entrevista a Inês Castilho | Imagem: David RevoyNascissus & Echo (detalhe)
Fonte: Outras Palavras
A vida é um fenômeno que resulta de relações: “não existe vida no isolamento”, ensina a professora e conferencista argentina Lia Diskin – em entrevista realizada para o estudo Política Cidadã, produzido pelo instituto Ideafix para o IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade). Os valores que deveriam nos orientar são, portanto, interdependência, empatia, solidariedade, cooperação, partilhamento: “a compreensão de que estamos imersos em uma comunidade viva que nos sustenta”. Ao contrário, a ideologia dominante em nossa cultura é a do individualismo. “Mas nenhum de nós se fez sozinho, embora se tente fazer crer que a criação desta obra ou daquela ideia seja exclusivamente de fulano ou beltrano”, recorda ela.
Lia Diskin vive no Brasil desde 1972, quando fundou a Associação Palas Athena – organização sem fins lucrativos que adota a gestão compartilhada e atua nas áreas editorial, de educação, saúde, direitos humanos, meio ambiente e promoção social. Passou o ano de 1986 estudando budismo em Dharamsala, na Índia, terra dos exilados tibetanos, tendo o Dalai Lama como um de seus professores. Desde então tornou-se uma espécie de embaixadora do líder budista no Brasil, e organizou suas visitas ao país em 1992, 1999, 2006 e 2011. É também coordenadora do Comitê Paulista da Década da Cultura de Paz, da Unesco.

Especialista em técnicas de meditação, Lia observa que vivemos olhando para fora, em busca de aprovação, deixando assim de perceber o que se passa em nossa mente. “Estamos habitando uma casa da qual o único que conhecemos é a janela, e da janela para fora. O que acontece dentro da casa, quais são os outros integrantes desse espaço, qual é a dinâmica que se estabelece dentro desse espaço, a gente simplesmente ignora.” Mas a vida vai além disso, lembra.
Vivemos nos equilibrando sobre a crosta de um planeta que gira em alta velocidade em torno do sol, na periferia de uma dentre bilhões de galáxias do universo. Um planeta cuja estabilidade está sendo afetada por nós, que estamos colocando em risco o fenômeno da vida. “Não somos o centro da galáxia, dentro dela é tudo elíptico. O centro é o Sol, sem o qual não há vida. Nosso sistema é periférico, não é central”, ela lembra, nos devolvendo a humildade.
Admiradora de Gandhi, Lia observa que ainda não estudamos adequadamente as estratégias político-pedagógicas que o líder pacifista indiano colocou em marcha já em meados do século XX para, sem um único tiro, derrotar o Império Britânico e libertar a Índia. “Gandhi foi um dos primeiros a promover o poder local – do qual hoje falamos tanto. Insistia constantemente em fortalecer, nutrir, empoderar as aldeias.”
Ao falar sobre a necessidade de redefinir nossas prioridades, ela elege a educação como meio por excelência para o cultivo de outros valores. E aponta a televisão, grande instrumento de lazer do povo brasileiro, como o instigador da violência e do desrespeito ao humano. “É o deboche, a ridicularização do outro, em que todo mundo ri da desgraça alheia. Como achar graça de uma criança que está aprendendo a caminhar e cai? Como isso pode ser motivo de chacota?”
Sobre a atividade política, Lia entende que – ao contrário do que hoje se considera – talvez seja a mais elevada e mais nobre que podemos ter. “Porque nos erguemos acima dos interesses pessoais e passamos a contemplar o que atende às necessidades de uma parcela maior da população.” Ela defende que os interesses nacionais e coletivos devem estar acima de qualquer tipo de partidarismo. “Se a gente não entender que político é aquilo que atende a todos nós, independente do partido em que estamos engajados, vai ser muito difícil resgatar o princípio fundante da vida comunitária, da vida pública”, explica, ressalvando que apesar disso os partidos políticos devem ser fortalecidos, já que são eles que mantêm a roda dos espaços institucionais em funcionamento. A seguir, a entrevista. (I.C.)

Como você percebe a participação política do cidadão brasileiro?
Muito enfraquecida, pouco envolvida, pouco comprometida. Apesar de haver uma informação crescente, talvez por causa das redes sociais, numa perspectiva mais de longo prazo não vejo uma capacidade aglutinante de fazer propostas locais, pontuais, nem de uma macroestratégia de desenvolvimento do país.
Penso que isso se deve também à complexidade crescente da vida nas grandes cidades, nas quais os deslocamentos de um lugar para outro se tornam cada vez mais penosos e consomem mais tempo. Por outro lado, essa exigência prepotente de estar informado sobre todas as coisas: qual é o livro que acaba de ser lançado, qual é o filme que ganhou mais prêmios no festival, qual é o restaurante que está tendo uma promoção mais interessante, o último lançamento da moda? É tamanho o leque de informações sobre as quais há que se dar conta, “para ter respeitabilidade em diferentes meios da sociedade”, que isso simplesmente termina consumindo toda a energia do cidadão. Penso que perdemos o senso da prioridade e da essencialidade. Perdemos o senso do que é importante na vida familiar, na vida privada e na vida pública.
Nesse cenário, que temas mobilizariam a sociedade brasileira?
Neste momento, acredito que é tudo aquilo que esteja afeito ao universo financeiro, econômico, factível de tornar-se consumo ou de tornar-se produto. É assustador o espaço que ocupam as informações dessa esfera nas grandes mídias, Qual é o sentido de estar todos os dias nos principais jornais da televisão brasileira a subida ou a descida da bolsa da Nasdaq, de Frankfurt, de Hong Kong? Qual é o sentido disso para o cidadão médio? Aquele que realmente tem necessidade desse tipo de informação a obtém online a fim de fazer suas transações, portanto não precisa delas nos jornais televisivos.
Na Gestalt se fala muito a respeito de “não vermos que não vemos”. Há um ponto cego dentro de todos nós. Penso que o grande ponto cego da sociedade contemporânea é justamente não perceber que determinadas pautas são talvez interessantes ou indispensáveis para grupos muito pequenos da população. Mas essas pautas terminam ocupando a maior quantidade do tempo e do espaço nas mentes dos cidadãos.
Você falou da energia gasta no consumo, falou em mídia e em valores essenciais. Poderia discorrer sobre isso?
Infelizmente, na cultura dominante o consumo tornou-se um objeto de reconhecimento social. Você vê isso já em crianças pequenas, com o uso, por exemplo, de telefones celulares, iPods, iPhones e companhia. Todos nós precisamos de reconhecimento, é inerente à condição humana. Precisamos ser legitimados pelo outro. Quando tal atitude transborda e se torna quase uma compulsão, e o fator de inclusão são as questões de ordem material, de ordem objetiva, aquilo que posso ostentar na presença dos outros – isso se torna extremamente perigoso, porque a pessoa passa a colocar todo o seu capital de tempo e criatividade a serviço do reconhecimento social, apenas. O cultivo, o conhecimento de si mesmo, a possibilidade de acessar um potencial latente para outras áreas fica totalmente obliterado, porque a pessoa não tem mais energia.
Estamos habitando uma casa da qual o único que conhecemos é a janela, e da janela para fora. O que acontece dentro da casa, quais são os outros integrantes desse espaço, qual é a dinâmica que se estabelece dentro desse espaço, a gente simplesmente ignora. Utilizamos as coisas para obter reconhecimento dos outros, e esse reconhecimento parece conferir a nós a sensação de termos direito, de sermos merecedores da vida. E tudo fica encapsulado entre o teto de nossos cabelos e o chão de nossos sapatos. Mas a vida é algo que vai além disso. A vida não acontece apenas entre nossos cabelos e nossa planta do pé.
Fale desses valores essenciais, daquilo que está dentro da casa e que a gente não conhece…
Para que haja a vida – a gente hoje sabe muito bem, porque temos trabalhos extraordinários no campo da biologia, da neurociência – é preciso uma teia de relações. Não existe vida sem relação. Não existe vida no isolamento. Ou seja, o individualismo, por si só, é uma contradição da vida. A vida existe enquanto há uma dinâmica constante de manutenção, sustentação das relações e promoção de novas relações. Um ecossistema é tanto mais rico quanto mais variedade de vida exista dentro dele e quanto maior conectividade possa existir entre essas vidas.
Quando falamos num repertório de valores essenciais, estamos nos referindo a um repertório de valores sustentados por essa teia, e que por sua vez a sustentam. Quanto mais nos distanciamos disso, mais repercussões dolorosas e ruídos no sistema irão acontecer. No humano, a relação se manifesta não apenas pela vinculação imediata de afetos, mas também pelos princípios de empatia, de solidariedade, de cooperação; pelos princípios do partilhamento, da compreensão de estarmos imersos em uma comunidade viva que nos sustenta.
Nenhum de nós se fez sozinho. A espécie humana, dentre os seres vivos, é a que mais demora a adquirir autonomia e independência. Para nos movermos no berço, precisamos de três ou quatro meses. Se não houver alguém dando conta da nossa existência, sequer conseguimos nos virar no berço. Para ficar em pé, quase um ano. Para ter minimamente um discernimento do que posso e o que não posso ingerir – aquilo que põe em perigo a minha vida e aquilo que sustenta a minha vida –, serão seis ou sete anos. Para adquirir maturidade biológica, ou capacidade de procriar, 11, 12, 13 anos. E para ter maturidade psicológica nos vão minimamente 16, 17 anos, se é que alguma vez a atingimos. Muitas vezes a gente vê criançonas de cabelos brancos, no sentido de não serem capazes de se responsabilizar pelos efeitos dos próprios atos.
Então somos uma espécie que demora muito a aprender, simplesmente porque não nascemos equipados para dar conta de nossa existência. Uma tartaruga nasce e já consegue ser autossuficiente. Uma tartaruga marinha sabe onde está o mar, e vai se dirigir para este mar. Ela já vem com um repertório de saberes que lhe permite satisfazer as necessidades desta vida que ela mesma constitui, que ela mesma é.
Não é o caso do humano. Damos conta de nossa vida aprendendo. E aprendemos, obviamente, do meio que temos no entorno. Não podemos dizer que somos 100% fruto do meio, porque senão todos seríamos iguais, mas grande parte de nossas referências internas se constituiu a partir do meio que nos nutriu, nos alimentou e nos deu parte da identidade que afirmamos ser. Nesse sentido, quando se tem uma sociedade na qual os valores que estão sendo promovidos são sempre secundários com referência à vida, ao que é essencial, alguma coisa está errada. A solidariedade e a cooperação não podem ser uma excepcionalidade no humano, são constituintes do humano. A excepcionalidade teria que ser justamente o contrário: negar-se à solidariedade, negar-se à cooperação, negar-se ao compartilhamento.
E temos que ser realistas: o que nos está mostrando uma grande parte dos elementos constituintes daquilo que chamamos cultura – seja a mídia, seja a arte – são rupturas, rupturas, rupturas. Você liga uma TV, passa pelos canais abertos e pelos canais privados, 80% da programação é confronto bélico, é confronto nutrido de raiva, de ressentimento, é busca de uma competição absurda pelos poderes. Os outros 10% são muitas vezes de uma precariedade e de uma indignidade psicológica muito dolorosa: é o deboche, a ridicularização do outro, aquela coisa das pegadinhas, situações em que todo mundo ri, literalmente, da desgraça alheia. Como achar graça de uma criança que está aprendendo a caminhar e cai. Como isso pode ser motivo de chacota? A primeira reação ante algo inusitado é, muitas vezes, o riso. Mas de maneira alguma isso pode ser uma celebração coletiva. Então, o que sobra? Uns 10%, em que se encontram fontes de inspiração na vida animal, em recortes históricos ou releituras de fatos do passado, programas sobre astronomia. São também os que têm menos audiência.
E aí está o grande nó górdio que temos de desatar, porque está fazendo sofrer a todos, sem exceção: ninguém hoje está em uma situação na qual possa desfrutar da vida que lhe está sendo oferecida a cada instante. Penso que é momento de revisitar premissas. Para onde estamos nos dirigindo, qual é o porto a que queremos chegar, e de onde estamos partindo? Não podemos saber com clareza onde queremos chegar se não sabemos de onde estamos partindo. E estamos partindo de um cenário de bilhões e bilhões de anos, que é a vida, que tem uma experiência acumulada extraordinária e provoca admiração – porque também é natural do humano admirar os feitos, não apenas belos, mas também sábios. A gente reconhece intimamente quando há sabedoria. E tudo isso está sendo colocando em perigo pelo estado de arrogância, de prepotência em que a espécie humana terminou se refugiando. Então, penso que são necessários mecanismos urgentes de redefinição das prioridades.
Que mecanismos seriam esses?
A educação, sem sombra de dúvida. Em toda a minha formação escolar, não recebi uma única aula a respeito de questões ambientais. Aliás, a palavra ecologia sequer existia. Hoje já se veem crianças assinalando, dentro de casa: “mamãe, a torneira está aberta; papai, olha a luz acesa; fulano, não jogue papel na rua”. Há uma capacitação das novas gerações para dar conta de uma consciência à qual a minha geração esteve totalmente alheia. As novas gerações também vão ter que criar todo um novo repertório de conciliação com a vida – porque parece que estivemos brigando com ela, dando-lhe as costas, querendo criar um mundo paralelo independente da natureza – o que é impossível. É esquizofrênico.
Que papel as redes sociais podem ter nessas mudanças?
Vai depender do conteúdo com o qual estiverem preenchidas. O instrumento em si é extraordinário, a gente fica até orgulhoso pela capacidade do ser humano de criar instrumentos de ligação. Mas sem uma vinculação, sem criar um nexo com outros, não funciona. Se isso não se sustenta, se isso é líquido, como fala Zygmunt Bauman, a sociedade líquida que não tem raiz, não tem profundidade, não consegue criar sustentabillidade e, consequentemente, promover mecanismos de continuidade. Se não tenho isso, as redes sociais podem se tornar mais um objeto de consumo do tempo e da energia das pessoas. Para mais uma vez fugir do importante e do essencial, que é o compromisso, a relação – com todo o risco que isso acarreta.
Você acha então que as redes sociais precisam se enraizar nas relações pessoais, para ter alguma efetividade?
Sim, e devem estar profundamente aliadas com a compreensão do que são as redes de vida, de como a vida se comporta dentro de macrossistemas e de microssistemas, como em nossa espécie.
A natureza é o nosso espelho?
Sem sombra de dúvida, sem ela não somos nada. Uma coisa que me parece absurda é que todos somos capazes de distinguir carros pelas suas marcas, pelo ano e pelos insumos que trazem. Contudo, se você pergunta a diferença que há entre um ipê e uma paineira, ou ainda quais são as árvores que há em sua rua, a pessoa não sabe. Como podemos distinguir modelos de carros e ser incapazes de distinguir duas árvores? As crianças não sabem diferenciar uma abobrinha de uma berinjela, não sabem diferenciar batata de cará ou inhame – isso é preocupante, porque elas podem viver sem saber a marca dos carros, mas não podem viver sem árvores e sem vegetais.
É sobre isso que falo: de nos referirmos ao importante, ao essencial. Estamos embevecidos, quase narcotizados pelas criações humanas, e nos esquecemos de que tudo isso é possível unicamente porque há um substrato dado pela natureza, dado pela vida, pela terra, a terra que nos nutre e nos sustenta, sem o qual nada vai ser possível. Todas as inovações no campo da sustentabilidade energética, seja energia eólica, seja dos mares, são pensadas a partir de um recurso natural. Não há como sair disso. A energia que inventamos, que foi a energia nuclear, está sendo repensada: será que somos suficientemente responsáveis para dar conta de um instrumento cujas consequências sequer conseguimos prever?
Algum movimento social te chamou atenção, aqui no Brasil ou fora dele?
Para mim o Greenpeace continua sendo uma referência, pela continuidade. Valorizo muito a continuidade em uma ação, esse estardalhaço de projetos fogueteiros, que criam um grande evento e terminam, não leva a nada. Há movimentos interessantes trabalhando seriamente na questão da sustentabilidade, mas penso que isso tem que entrar mais no cotidiano das pessoas, não apenas as discussões sobre sacolinha de plástico. Tem que perguntar: “Como eu, como indivíduo, estou afetando a vida dos outros seres? Qual é a minha pegada ecológica, como é meu consumo?” Em última instância: sou eu que escolho, ou me deixo escolher pela sedução das referências externas? Essas questões têm que passar necessariamente pelo indivíduo.
Gandhi tinha uma frase radical: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Comece por si mesmo. Você não pode começar pelo mundo, mas pode começar por você. Gandhi tinha essa capacidade de apontar com clareza questões relevantes, acessíveis à participação de todos. Penso que devemos resgatar essa capacidade.
Gandhi esteve vivo em várias manifestações recentes, por sua não-violência.
Sem dúvida. Mas ele é uma referência ainda pouco estudada. Admiramos muito Gandhi, mas não o estudamos. Não estudamos o que está por trás da estratégia que ele utilizou para desmontar o enorme maquinário de colonização – estou falando do Império Britânico, não de um império passageiro – em um país tão populoso e tão rico em recursos naturais quanto a Índia. Sem uma única arma, sem necessidade de disparar um único tiro… como aconteceu isso? Nós ainda não estudamos as estratégias pedagógico-políticas que Gandhi colocou em cena já em meados do século XX – a independência da Índia foi em 1947 e em 1948 Gandhi morreu. Ele escreveu muita coisa, não é que ele seja um ativista sem reflexões nem metodologia. Criou todo um processo estratégico para desmontar o poder e, fundamentalmente, robustecer as massas indianas. Que eu me lembre, Gandhi foi um dos primeiros a promover o poder local – do qual hoje falamos tanto. Insistia constantemente em fortalecer, nutrir, empoderar as aldeias. É nas aldeias que vive o indiano, dizia ele. É nas aldeias que devemos pensar quando falamos da construção de uma nação, de uma identidade nacional.
Diante de tudo isso, você consegue enxergar novas formas de ação política?
Primeiro, temos que despartidarizar as questões políticas. Se a gente não começa a limpar o terreno do político, entendendo que político é aquilo que atende a todos nós, independente do partido em que estamos engajados, vai ser muito difícil resgatar o princípio fundante da vida comunitária, da vida pública. A palavra idiota, em grego, refere-se justamente àquele que não se interessava pelo público, tão apequenado estava por seus interesses pessoais que não conseguia enxergar o cenário do público, do coletivo. Então, se a gente não despartidariza as questões de ordem pública, não vai resgatar a dimensão extraordinária que tem a política.
Talvez a atividade política seja a mais elevada e mais nobre que cada um de nós pode ter. Porque nos erguemos acima de nossos interesses pessoais e passamos a contemplar o que atende às necessidades de uma parcela maior da população. É um ato de generosidade, quando você abre mão de seu espaço para refletir sobre algo maior. A minha perspectiva é despartidarizar questões de ordem pública, o que não quer dizer que os partidos políticos não tenham que ser fortalecidos. São eles, no fim das contas, que vão manter a roda da política em funcionamento. Mas os interesses nacionais, os interesses coletivos têm que estar, muito claramente, acima de qualquer tipo de partidarismo.
Pensando no futuro, como você vê as novas gerações convivendo nesse planeta tão pequeno?
Quando a gente se põe a pensar onde estamos, na periferia de uma galáxia… Não somos o centro da galáxia, dentro dela é tudo elíptico. Em nosso sistema o centro é o Sol, sem o qual não há possibilidade de vida. Nosso sistema é periférico, não é central. E nossa galáxia, dentro do universo, é uma dentre bilhões. Não sabemos se o fenômeno vida, ou alguma coisa semelhante àquilo que chamamos vida, existe em outra parte do universo. O que sabemos é que estamos na crosta de um planeta cuja estabilidade depende de milhões de fatores, e que estamos intervindo em alguns desses fatores, o que provoca alterações que colocam em risco todo o fenômeno da vida.
O fenômeno vida tem três ou quatro bilhões de anos de existência. Isso teria que criar em nós um senso de responsabilidade muito, muito grande. O que possibilita a uma jabuticabeira saber que chegou o tempo de dar fruto? Existe aí toda uma experiência acumulada. Você pode dizer “mas ela não é consciente disso”. A jabuticabeira pode não ser consciente disso, entretanto ela cumpre o seu papel no processo. Aparentemente, somos os únicos que temos consciência de que temos consciência. A espécie humana tem esse diferencial de saber que sabe ou saber que ignora. Isso teria que aumentar o nosso senso de responsabilidade, e não diminuí-lo.
Penso que as novas gerações hoje estão muito mais sensíveis a isso. Você vê uma geração inteligente, capaz, talentosa, em marcha. Por exemplo: está abrindo mão de ter carro para se deslocar na cidade de bicicleta, ainda que esta cidade não ofereça facilidades para tanto. Jovens que estão abrindo mão de ter cargos de liderança em multinacionais porque querem trabalhar em instituições de cunho social, ou ainda dedicar-se mais à família acompanhando a educação de seus filhos. Jovens que deixam de fazer pós-graduações nas universidades legitimadas pelo senso acadêmico e empresarial para ir a trabalhar em uma comunidade de um país asiático, africano, latino-americano. Ou seja, estamos vendo sinais muito evidentes de uma geração que já é muito mais sensível a toda essa rede que eu chamo de as coisas importantes da vida.
Você imagina uma governança global?
Você está vendo a dificuldade que têm as Nações Unidas. A ONU é a arquitetura política mais interessante que tivemos no século XX, e 50 anos não são nada para uma instituição criar seus mecanismos. Mas não acredito na centralidade de um poder. Acredito muito na pluralidade, no poder da diversidade adquirir competência para manter vinculações sem perder sua identidade. Isso de homogeneizar, de ter um discurso único, um repertório de valores únicos, não penso que seja saudável para a humanidade.
Acredito que a humanidade tem que preservar essa capacidade extraordinária de ter diversas representações e compreensões de mundo, mas colocá-las para dialogar. Não para uma convencer a outra, não para uma domesticar a outra, mas, pelo contrário, para se fecundarem mutuamente. Para que cada uma possa potencializar na outra o que tem de melhor. É a diversidade que nos vai permitir ampliar a percepção da realidade. Se fico monocorde, em um único modelo de percepção, simplesmente encurto a minha capacidade de enxergar a realidade. Mas se acoplo cada um com sua característica e essencialidade, amplio a percepção que posso ter da realidade, e isso é muito saudável.
O que não é saudável, hoje, é a insaciabilidade que parece ter o homem contemporâneo: ele quer tudo, quer mais de tudo. Gosto muito daquela frase de Confúcio: “nada é o bastante para quem considera pouco o que é suficiente”. Há aí uma grande lucidez, da qual precisamos nos nutrir e iluminar. A gente perdeu totalmente a noção: nada é suficiente, a gente quer sempre mais, mais, mais e mais. Mas há um limite para o que é saudável desejar. Não há como sentir mais, não há como comer mais.

TRIPALIUM

O TRABALHO E A CRIAÇÃO


(HD)-Agostinho da Silva foi adversário de Salazar em tudo: como filósofo, desmentiu o ditador, que afirmava não ser a sua raça (e a nossa) incapaz de abstrações filosóficas. É desse pensador, que passou grande parte de sua vida no Brasil como exilado político, a idéia de que o homem não nasceu para trabalhar, e, sim, para criar. Não é por acaso que o vocábulo “trabalho” vem do latim “tripalium”, que era um instrumento de tortura na Antiguidade.
            Os artesãos não “trabalham”, uma vez que criam suas peças; a elas, sem que percam o fim útil a que se destinam, acrescentam alguma coisa de si mesmos, do seu engenho e do seu sentido estético. Assim, são “obras de arte”.
          No mundo industrial de nossos dias já não existem artesãos, a não ser os que, por decisão própria, vivem à margem do sistema, embora por ele sejam também explorados. Os desenhistas industriais podem criar, mas o seu trabalho está sempre submetido às razões do mercado, o que lhes retira a liberdade. Só dele conseguem escapar plenamente os artistas, em estrito senso, quando não se deixam levar pela ambição do dinheiro.
          Ao fazer a crítica do sistema industrial moderno, Marx acertou no centro do alvo, ao afirmar que o trabalhador de nosso tempo se transformou em “complemento vivo de um organismo morto”. Os trabalhadores são obrigados a acompanhar o ritmo das máquinas; não podem sujeitá-las às exigências de sua atenção e de seus músculos.
         Em Tempos Modernos, Charles Chaplin, com seu talento, conseguiu dar à idéia de Marx as belas imagens que mostram a servidão do operário à máquina e, por extensão, às engrenagens do capitalismo.
        Quando os tecelões ingleses se revoltaram no fim do século 18, aparentemente sob a liderança de Ned Ludd, contra os teares a vapor, não manifestavam apenas seu mal-estar com o desemprego que a força motriz provocava: rebelavam-se pelo fato de que a nova máquina lhes exigia atenção máxima e repetição exaustiva do movimento de corrigir as falhas da tecelagem, no parar e reiniciar das operações.
        O homem não nasceu para trabalhar, mas deve ser produtor, a fim de se afastar das duras condições da natureza bruta. O ato de produzir – e podemos pensar no coletor, no caçador e no agricultor em sua situação clássica – não é alienante em si mesmo. Exige destreza, atenção e criatividade. Mas, nos dias de hoje, sobram poucos agricultores livres. Ao chegar ao campo, o capitalismo aposentou os lavradores e criou um operariado rural para manobrar as grandes máquinas que preparam o solo, plantam e colhem.
       Essas novas realidades estão minguando o espírito de luta dos trabalhadores. O dia primeiro de maio lembra a sua dura resistência contra a brutalidade do liberalismo dos séculos 18 e 19.
      A ordem de domínio neoliberal de nossos dias transformou-o em dia de festas e piquenique.

2 de maio de 2013

BICICLETA PARA CEGOS

Bicicleta para deficientes visuais realiza sonhos em Venancio Aires RS


http://folhadomate.com/noticias/geral/9727-bicicleta-para-deficientes-visuais-realiza-sonhos

Mahara de Brito

O veículo tem um nome especial: 'ODKV'

Somente quem tem uma limitação física é capaz de dar valor às pequenas coisas, como andar de bicicleta. Mas a Organização Não Governamental (ONG) Embrião, com sede local em Alvorada, vem há algum tempo, com uma iniciativa, iluminando a vida de alguns adolescentes. Eles não veem, mas sentem. Sentem com os pés, com as mãos e principalmente com o coração, com a mesma, ou até mais, sensação de liberdade de quem enxerga.

De acordo com a ONG, o grupo se sentia excluído nos passeios ciclísticos realizados na cidade e os limites impostos pela deficiência visual os impedia de participar. “A partir disso, reunimos o grupo de voluntários e pensamos nesta proposta de geminar as bicicletas”, ressalta a presidente Janete Soares dos Santos.

Conforme a presidente, o início foi bem simples: “Pegamos duas bicicletas usadas que tínhamos em casa, conversamos com um serralheiro, que logo se prontificou em soldar nossa ideia.” A bicicleta, que tem um guidão fixo e outro móvel, além de ser um momento prazeroso, tem como ideia a de não poluir a cidade.

Os deficientes visuais, que chegam a fazer filas para pedalar, tem a ajuda de guias e, agora, participam dos passeis ciclísticos da cidade. Janete diz que já foram produzidas, aproximadamente, 16 bicicletas.

O triciclo tem um nome especial: 'ODKV'. A explicação é simples: 'o de cá vê' e 'o de lá não vê'. “O grupo que faz parte do nosso trabalho que escolheu este nome, assim fazendo uma brincadeira com um antigo carro alemão chamado DKW”, diz a presidente.

No dia 20 abril, um grupo de Venâncio Aires se dirigiu até Alvorada, para experimentar e registrar medidas das bicicletas especiais da Embrião. “Foi prazeroso contribuir nesta ação, assim tivemos a oportunidade de mostrar que este meio de transporte para cegos tomou o mundo”, diz Janete.

Para o venâncio-airense Alexandre Hertz que nasceu deficiente físico, e que nunca havia andado de bicicleta, a experiência foi única. “Foi a realização de um sonho”, relata, emocionado.

Hertz foi acompanhado de sua irmã Solange do Carmo Hertz, que também é deficiente visual de nascença, da mãe Marisa do Carmo Hertz e dos amigos Malkon Silva e Fabíola, que tiveram a iniciativa de levar os irmãos.

O jovem, de 31 anos de idade, tem outros sonhos. Está estudando para passar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e pretende, no fim do ano, fazer vestibular e assim que passar deseja começar, o quanto antes, a faculdade de direito. “Vou ser advogado”, diz, com convicção. Acrescenta, também, que logo terá uma bicicleta ODKV, pois o grupo em que participa está trabalhando em cima disso.

A entidadeFundada no dia 25 de dezembro de 2001 a Embrião, que tem sede local Alvorada, realiza atividades no estado do Rio Grande do Sul com o projeto pedagógico 'EducaAção EcoLógica' com jogos de xadrez nas escolas.

 Tem como principal objetivo a educação ambiental de crianças e adolescentes. Tem como ferramenta de trabalho o xadrez, incluindo assim de forma lúdica aos alunos. A organização já foi reconhecida com prêmios como a Medalha João Saldanha (entregue à incentivadores de esportes); Reconhecimento Ambiental - Borboleta Azul (reconhecido pelo Governo do Estado através da Secretaria Estadual do Meio Ambiente) e, por seis anos consecutivos, a Medalha de Responsabilidade Social (Assembléia Legislativa).

 Trabalha em parceria com outras instituições e organizações para promover a conscientização e a inclusão. Também recolhe pilhas, baterias e outros lixos tecnológicos, assim como óleo de cozinha usado. Além da ODKV, desenvolveu também bicicletas especiais para cadeirantes e muletantes.

 Colaboração

 No dia 11 de maio ocorre uma galinhada em Vila Mariante. O valor do cartão é de R$ 7,00 O evento terá início às 19h30min, além de bingo. “Toda a verba será utilizada para compra da primeira bicicleta adaptada na cidade”, dizem. Para maiores informações entrar em contato através do telefone (51) 3749-0049.

A Presidente da Associação de deficientes visuais de Venancio Aires – ADEVIVA, Deficiente Visual, também vai fazer um teste na ODKV e conhecerá um pouco sobre o jogo de xadrez pra Cegos.

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+55(51)3483-2914
+55(51)9986-7734
Temos de proteger as florestas para os nossos filhos, netos e as crianças ainda por nascer. Temos de proteger as florestas para aqueles que não podem falar por si, como as aves, animais, peixes e árvores.
~ Qwatsinas, Nação Nuxalk

2 de abril de 2013

SOBRE O CONSUMISMO DESENFREADO


Preservar: um hábito em extinção

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© Global Garbage Brasil
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Gabriel Sousa Conzo Monteiro
Biólogo, mestre em Oceanografia Biológica

O consumo desenfreado é, hoje em dia, um comportamento comum da sociedade moderna. Alguns questionam a origem e as razões para a manutenção deste comportamento, e muitas respostas apontam tanto para o incentivo quanto para a “informação” provinda da indústria. Será que a alienação científica da sociedade contribui para um consumo cada vez mais excessivo e até desnecessário? Qual o papel e o que pode fazer a ciência para reduzir este problema? A sociedade sabe, com propriedade, quais desdobramentos ambientais tem seu comportamento de consumo?

A indústria visa vender seus produtos, e é claro que toda sua comunicação visa salientar as qualidades de seu produto. É esperado que assuntos polêmicos ou desdobramentos prejudiciais ao meio ambiente não sejam divulgados por este setor, que muitas vezes utiliza-se de influências políticas e financeiras passar uma boa imagem de seu produto. O plástico é um bom exemplo para ilustrar este cenário. As pessoas sabem que sacolas plásticas matam tartarugas marinhas (e ponto final). A ciência sabe que este problema não é nem a ponta do iceberg.

Os plásticos, quando vão parar no mar, são fragmentados por processos físico-químicos, no entanto não degradam, apenas reduzem de tamanho. Com o passar do tempo estes fragmentos adsorvem Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), como por exemplo, agrotóxicos, e são ingeridos por diversos animais: desde pequenos crustáceos, passando por peixes sendo encontrados até em estômagos de grandes cetáceos. Por processos de bioacumulação e biomagnificação, os níveis desses poluentes tendem a aumentar de acordo com o nível trófico, ou seja, quanto mais alto o nível trófico, maior é a concentração desses poluentes. Já foi comprovada a incidência de câncer, desregulação hormonal e até infertilidade em animais expostos a altas concentrações de POPs. Seres Humanos, topo da cadeia trófica, deveriam se preocupar mais com esta questão, não acham? Fica a pergunta: por que informações neste nível de detalhamento e simplicidade não alcançam a sociedade não acadêmica? A academia está careca de saber disso, por que não se manifesta?

Por uma questão cultural, a maioria dos pesquisadores acadêmicos não sabe se comunicar com o público não acadêmico. Isso acontece pela falta de prática em traduzir o conhecimento científico em linguagem mais simplificada ou então em saber como despertar a curiosidade das pessoas a respeito daquele determinado assunto ou pesquisa. Existem ferramentas como Blogs, YouTube e Facebook que permitem esta comunicação mais direta. Cabe aos acadêmicos, buscar auxílio para que a comunicação com as pessoas ocorra de forma efetiva, evitando a alienação científica da sociedade.

Muitos estudos desenvolvidos no Brasil têm seu financiamento vindo de contribuições públicas, ou seja, todos, de certo modo, colaboram com o desenvolvimento da pesquisa brasileira. Mas será que a sociedade sabe, de forma satisfatória, sobre os mais diversos resultados destas pesquisas? Se a maioria dos pesquisadores acadêmicos se dedicasse a compartilhar de forma simplificada seus estudos, sua vivência e seu conhecimento, estaria ajudando a preservar não só as diversas espécies de animais e vegetais, mas também um hábito que está na lista de extinção a muito tempo: o hábito de preservar. A informação faz com que as pessoas ponderem suas atitudes e sejam mais responsáveis por elas.

31 de março de 2013

OS AVANÇOS DO BRASIL

Delfim Netto

Delfim Netto é economista, formado pela USP e professor de Economia, foi ministro de Estado e deputado federal.
tamanho da fonte minímo médio máximo
 
O pessimismo no retrovisor
 
A divulgação dos números confirmando o fraco desempenho da economia em 2012 induziu à criação de um clima de pessimismo em relação à possibilidade de recuperação do crescimento neste ano, que somente agora começa a se dissipar com os sinais incipientes de retomada da produção industrial e da consolidação dos números do bom movimento do comércio embalado pelas festas de fim de ano.
 
O pessimismo foi, evidentemente, exagerado, na medida em que se ignorou o progresso social a gestar uma classe média mais educada e mais exigente de qualidade dos serviços públicos, sem a qual não se consolidam as instituições democráticas capazes de aumentar paulatinamente a igualdade de oportunidades.

Avanços importantes para a sociedade brasileira foram esquecidos durante o nevoeiro. Exemplos: a redução ordenada e consistente da taxa Selic; a bem-sucedida manobra de substituição dos juros reais de 6% nos rendimentos da poupança e o controle dos aumentos de salários no serviço público por três anos. Em outras frentes, a aprovação do sistema previdenciário do funcionalismo, o enfrentamento dos custos nos setores básicos da energia e portuário, o aprendizado nos leilões de concessões nos projetos de infraestrutura para atrair o investimento privado. E, ainda, a exoneração da folha de pagamento para setores industriais, que, combinada com a desvalorização da taxa cambial, recomeça a estimular a exportação de manufatura. E houve pequenos aperfeiçoamentos no sistema tributário, com reduções pontuais nos níveis de impostos.

Por último, mas não menos importante, registre-se a melhora do entendimento entre o poder incumbente e o setor privado, capaz de convencer o empresariado de que a política econômica do governo é amigável e objetiva o aumento da competição e da produtividade. Isso pode nos levar a retomar o ritmo de um crescimento do PIB entre 3% e 4%, em 2013, como reafirmou a presidenta em recente seminário na Europa, em um encontro de empresários brasileiros e estrangeiros.

É preciso lembrar que medidas “macroprudenciais” introduzidas no começo por seu governo haviam sido recebidas inicialmente com grande ceticismo. O desenvolvimento da conjuntura mostrou que essas medidas foram não apenas altamente efetivas como talvez tenham sido subavaliadas. Posteriormente abriu-se um espaço para a redução consistente da taxa de juro real, reclamada há décadas pela economia brasileira. A maior taxa de juro real do universo conhecido promovia um movimento de capitais especulativos a favor da supervalorização da taxa de câmbio real, acentuando os inconvenientes da redução da atividade global promovida pelo controle monetário.

Em um ano, o Banco Central trouxe a Selic a 7,25%, o que, com expectativa de inflação anual da ordem de 5,5%, nos deixou com uma taxa de juro real de cerca de 2%. Longe ainda da taxa de juro real do mercado internacional, hoje por volta de 2% negativos. O atual diferencial de juro interno e externo é próximo de 4%. Em um ambiente de política cambial defensiva, ele ainda deixa margem para a exploração de oportunidades lucrativas para o capital estrangeiro de curto prazo, principalmente diante da contínua enxurrada de liquidez produzida externamente.

Com o nível de atividade atual, é claro que a preocupação com o crescimento assumiu um peso importante nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), mesmo porque nossa política econômica é de “legítima defesa” contra as políticas monetárias externas que procuram desvalorizar suas moedas. É preciso ser muito desinformado para não saber que os EUA tentam abertamente reduzir seu déficit em conta corrente, não apenas aumentando sua oferta interna de energia, mas estimulando um dólar “fraco” para ampliar suas exportações.

As incertezas e as fragilidades da situação mundial serão mais prolongadas do que se supunha. E deverão nos ajudar com alguma redução da pressão inflacionária externa. Vemos que o dissenso foi mais uma questão subjetiva: como cada um vê a velocidade e a eficiência com que o mundo poderá se livrar das incertezas criadas pela crise financeira de 2007.

É difícil decidir quem, afinal, estará certo, porque o futuro continua mais opaco do que sempre foi e inexiste, de fato, uma liderança política mundial forte e bem informada. É necessária certa humildade e desconfiar das afirmações de alguns analistas supostamente portadores da verdadeira “ciência econômica”. Que na realidade não existe.

O GRANDE DILEMA DAS OPOSIÇÕES

Marcos Coimbra

Eleições 2014

31.03.2013 07:32
CARTA CAPITAL Nº 742

Nova pesquisa, velhas frustraçõe

Nada dá certo para as oposições faz tempo. Elas tentam, se esforçam, mobilizam seus vastos recursos e as coisas não acontecem. Seu pior pesadelo parece prestes a se materializar.

Mão pesada. Dilma vetou vários pontos do Código Florestal. Foto: Evaristo Sá/AFP
Dilma deve enfrentar eleição mais tranquila que em 2010. Foto: Evaristo Sá/AFP
 
A tomar pelo que dizem os eleitores, quando perguntados sobre como pretendem votar na próxima eleição, Dilma Rousseff se reelegerá sem grandes problemas. Prognosticar sua vitória não é difícil para quem conhece um mínimo da sociedade brasileira.

Ela tem tudo para vencer:

a) A “inércia reeleitoral”, que beneficia até governantes mal avaliados (quem não se lembra dos muitos governadores e prefeitos que, apesar de enfrentarem sérias dificuldades, terminaram vencendo?).

b) Faz um governo bem avaliado, aprovado por quatro em cada cinco brasileiros (quem preferiria mudar, estando satisfeito com o que tem? Se há uma coisa em que o eleitor acredita é que mais vale um pássaro na mão do que dois voando).

c) Tem uma imagem pessoal muito positiva, é querida pela ampla maioria dos eleitores, que gostam de seu jeito de ser e se portar como presidenta (algum de seus possíveis adversários chega sequer perto do que ela alcança no julgamento da atuação pessoal?).

d) É conhecida e aprovada pela quase totalidade do eleitorado, não precisa perder tempo para se apresentar ao País (qual de seus oponentes em potencial pode dizer o mesmo, uma vez que todos existem em nichos regionais ou ideológicos?).
Confirmado o favoritismo, Dilma será a quarta chefe de governo eleita pelo PT em sequência. Ao cabo de seu segundo mandato, chegaremos a 16 anos de hegemonia petista na política brasileira.

O que será da atual geração de lideranças oposicionistas em 2018? Quantas estarão ainda em condições de atrair a atenção dos eleitores? Quantos de seus jovens terão envelhecido? Quantos dos atuais “formadores de opinião”, na mídia conservadora, estarão ainda na ativa? (A maioria é tão velha que, entre aposentados e falecidos, é possível que restem poucos).

A gravidade do quadro que as oposições enfrentam voltou a ser confirmada na semana passada, quando uma nova pesquisa do Datafolha a respeito da sucessão presidencial foi divulgada. Ela não trouxe novidade em relação ao que se sabia desde o início de 2012. Exatamente por isso, foi uma ducha de água fria no ânimo dos partidos da oposição e nos segmentos “antilulopetistas” da opinião pública.

Apesar dos esforços diários e da militância radicalizada da mídia de direita, Dilma fica cada vez melhor na corrida eleitoral. Enquanto isso, seus adversários patinam ou retrocedem. Entre dezembro de 2012 e março deste ano, ela foi de 54% a 58%, na vizinhança dos 60%, patamar onde outras pesquisas já a haviam colocado. Marina Silva (sem partido) e Aécio Neves (PSDB-MG) perderam 2% cada um, ela de 18% para 16% e ele de 12% para 10%.

Mais frustrante para a mídia foi, no entanto, o modesto crescimento do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Depois de “bombado” incessantemente na mídia, foi de escassos 4% a escassos 6%.


Uma simples aritmética mostra que os três não mudaram seu tamanho total: somavam 34%, em dezembro, e foram a 32%, em março. No máximo, o que teria ocorrido seria uma pequena reacomodação no terço do eleitorado que não pretende votar na presidenta: Campos tirou uma lasquinha de Marina e de Aécio.

Em votos válidos (a conta relevante para especular sobre vitórias em primeiro turno), Dilma teria, hoje, perto de 64%. Muito próximo de alcançar, sozinha, o dobro da soma dos demais.

Significa que “já ganhou”, que vencerá no primeiro turno? Claro que não, e seria um equívoco se sua assessoria interpretasse assim a pesquisa. Mas que os resultados do Datafolha foram uma decepção para as oposições, disso não há dúvida.
O que lhes resta fazer?

O circo armado em torno do julgamento do “mensalão” foi inútil do ponto de vista eleitoral. O PT não perdeu espaço em 2012 e nada indica que será afetado em 2014.
A tese da incompetência gerencial da presidenta, à qual se dedicaram assim que perceberam o insucesso anterior, não tem adeptos na maioria da opinião pública. Ao contrário, os brasileiros se mostram cada vez mais satisfeitos com o desempenho do governo.

A valorização dos possíveis adversários não comove os eleitores de Dilma. Campos, seu mais dileto produto na atualidade, permanece com números de nanico.

Quando pesquisas como essa são publicadas, ficam tristes e devem pensar no “povinho” que Deus pôs no Brasil. O problema é que não podem trocá-lo. Ou será que vão procurar prescindir dele na hora de decidir quem vai mandar?