20 de setembro de 2012

Manter viva a causa do PT: para além do “Mensalão”
Leonardo Boff* 

 Há um provérbio popular alemão que reza: “você bate no saco mas pensa no animal que carrega o saco”. Ele se aplica ao PT com referência ao processo do “Mensalão”. Você bate nos acusados mas tem a intenção de bater no PT. A relevância espalhafatosa que o grosso da mídia está dando à questão, mostra que o grande interesse não se concentra na condenação dos acusados, mas através de sua condenação, atingir de morte o PT. De saída quero dizer que nunca fui filiado ao PT. Interesso-me pela causa que ele representa pois a Igreja da Libertação colaborou na sua formulação e na sua realização  nos meios populares.

 Reconheço com dor que quadros importantes da direção do partido se deixaram morder pela mosca azul do poder e cometeram irregularidades inaceitáveis. Muitos sentimo-nos decepcionados, pois depositávamos neles a esperança de que seria possível resistir às seduções inerentes ao poder. Tinham a chance de mostrar um exercício ético do poder na medida em  que  este poder reforçaria o poder do povo que assim se faria participativo e democrático. Lamentavelmente houve a queda. Mas ela nunca é fatal.

 Quem cai, sempre pode se levantar. Com a queda não caiu a causa que o PT representa: daqueles que vem da grande tribulação histórica sempre mantidos no abandono e na marginalidade. Por políticas sociais consistentes, milhões foram integrados e se fizeram sujeitos ativos. Eles estão inaugurando um novo tempo que obrigará  todas as forças sociais a se reformularem e também a mudarem seus hábitos políticos.

Por que muitos resistem e tentam ferir letalmente o PT? Há muitas razões. Ressalto  apenas duas decisivas. A primeira tem a ver com uma questão de classe social. Sabidamente temos elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo, como soia repetir Darcy Ribeiro. Estão mais interessadas em defender privilégios do que garantir direitos para todos. Elas nunca se reconciliaram com o povo. Como escreveu o historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma no Brasil 1965,14) elas “negaram seus direitos, arrasaram sua vida e logo que o viram crescer, lhe negaram, pouco a pouco, a sua aprovação, conspiraram para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continuam achando que lhe pertence”. Ora, o PT e Lula vem desta periferia. Chegaram democraticamente ao centro do poder. Essas elites tolerariam Lula no Planalto, apenas como serviçal, mas jamais como Presidente. Não conseguem digerir este dado inapagável. Lula Presidente representa uma virada de magnitude histórica. Essas elites perderam. E nada aprenderam. Seu tempo passou. Continuam conspirando, especialmente, através de uma mídia e de seus analistas,  amargurados por sucessivas derrotas como se nota nestes dias, a propósito de uma entrevista montada de Veja contra Lula. Estes grupos se propõem apear o PT do poder e  liquidar  com  seus líderes.

 A segunda razão está em seu arraigado conservadorismo. Não quererem mudar, nem se ajustar ao novo tempo. Internalizaram a dialética do senhor e do servo. Saudosistas, preferem se alinhar de forma agregada e subalterna, como servos,  ao senhor que hegemoniza a atual fase planetária: os USA e seus aliados, hoje todos em crise de degeneração. Difamaram a coragem de um Presidente que mostrou a autoestima e a autonomia do país, decisivo para o futuro ecológico e econômico do mundo, orgulhoso de seu ensaio civilizatório racialmente ecumênico e pacífico. Querem um Brasil menor do que eles para continuarem a ter vantagens. Por fim, temos esperança. Segundo Ignace Sachs, o Brasil, na esteira das políticas republicanas inauguradas pelo PT e que devem ser ainda aprofundadas, pode ser a Terra da Boa Esperança, quer dizer, uma pequena antecipação do que poderá ser a Terra revitalizada, baixada da cruz e ressuscitada.

 Muitos jovens empresários, com outra cabeça, não se deixam mais iludir pela macroeconomia neoliberal globalizada. Procuram seguir o novo caminho aberto pelo PT e pelos aliados de causa. Querem produzir autonomamente para o mercado interno, abastecendo os milhões de brasileiros que buscam um consumo necessário, suficiente e responsável e assim poderem viver um desafogo com dignidade e decência. Essa utopia mínima é factível. O PT  se esforça por realizá-la. Essa causa não pode ser perdida em razão da férrea resistência de opositores superados porque é sagrada demais pelo tanto de suor e de sangue que custou.

 *Leonardo Boff é teólogo, filósofo, escritor e dr.h.causa em politica pela Universidade de Turim por solicitação de Norberto Bóbbio

15 de setembro de 2012

Marcus Tavares: Facebook e escola

Rio -  Uma das perguntas que a escola cada vez mais se faz é: como é possível estabelecer uma interface criativa e construtiva entre ela, os estudantes e as redes sociais? Como o Facebook, febre entre os jovens, pode favorecer esta relação? Isto seria recomendado? Ou as redes sociais não têm nada a ver com o cotidiano da escola, fazem parte apenas do universo particular dos alunos?

Por meio delas, é possível criar tendências, reiterar novos ou antigos valores, criticar, denunciar irregularidades. São vistas com tanta importância que, no âmbito profissional, muitas empresas traçam o perfil de seus funcionários e dos que vão contratar considerando o que postam e defendem nas plataformas.

Se as redes já ocupam parte de nossa vida com tanta importância, naturalmente devem, pelo menos, fazer parte das discussões da escola. Bem, de uma escola que contribuir com o crescimento de um jovem que está neste cenário de múltiplas vozes e tecnologias.

Sim, cabe às escolas — e aqui é bom que se diga que também cabe às famílias — pensar as redes sociais como espaço de informação, de constituição de conhecimentos e valores positivos ou negativos, de troca de saberes, ainda mais quando mais de 50% dos alunos, senão a turma toda, burlam idades e formulários, muitas vezes com o consentimento dos pais, para administrar as contas. Esta talvez seja a primeira grande discussão: crianças e jovens podem ter Orkut e Facebook?

As redes sociais, na perspectiva de ferramenta tecnológica e digital, são excelentes apoios do diálogo pós-sala de aula entre estudantes e professores. Mas a questão é que elas não são apenas ferramentas. São mídias, vitrines, megafones, espelhos e janelas. Qual é o limite? Quais são as regras? Tudo vale e é permitido?

O que fazer quando as redes são usadas para reiterar preconceitos, para a difamação, para o bullying? As palavras respeito e ética fazem parte do glossário dos usuários?

A ideia não é didatizar, cercear a liberdade e a criatividade dos jovens no uso das ferramentas nem violar a privacidade dos mesmos, mas pensar e refletir sobre quem somos, como agimos e de que forma nossas ações podem ser vistas, interpretadas e avaliadas.

Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia 

31 de agosto de 2012

10% do PIB para Educação e a necessidade de reformas estruturais

Por Jonatas Moreth
http://pagina13.org.br

Há um bom tempo que os Movimentos sociais não construíam uma pauta de tamanha unificação. Da UNE a CNTE, da CUT ao MST: todos saíram às ruas reivindicando que no novo PNE – Plano Nacional de Educação seja aprovada a meta de investimento mínimo de 10% do PIB para Educação Pública nos próximos 10 anos.

O PNE tem causado muitos debates e polêmicas e já tramita no Congresso Nacional há mais de um ano. No mês passado tivemos uma importante vitória nesta luta: Após muita pressão dos Movimentos Sociais e um ato organizado pela UNE no dia da votação do projeto na Comissão Especial da Câmara conseguimos aprovar por unanimidade a emenda do Deputado Paulo Rubem (PDT/PE). Esta emenda determina que nos primeiros 5 anos de vigência do PNE seja investido no mínimo 7% do PIB para a educação pública, e ao completar 10 anos alcancemos o patamar de 10%. Frise-se que é investimento na educação pública!

Foi uma vitória do movimento social diante da instansigência da área econômica do Governo Federal que defendia ser inviável o investimento maior do que 8% no próximo decênio. Na mesma linha, o Ministro da Educação Aloísio Mercadante concedeu declarações logo após a aprovação dizendo “que seria muito difícil alcançar essa meta. Seria como colocar um MEC dentro de outro MEC”. Neste debate o Governo foi derrotado. Foi tão derrotado que a Ministra das Relações Institucionais Ideli Salvati tem mobilizado a base governista para assinar um recurso que levaria o debate do PNE para o plenário, onde poderia ser apresentado novas emendas, ao invés de ir direto para o Senado.

No entanto, após reunião da UNE com a presidenta Dilma e o Ministro Mercadante parece que o Governo mudou de ideia e começou a ceder aos anseios do povo. Agora a posição oficial do Governo é a seguinte: Nós topamos os 10% do PIB desde que o Congresso aprove que 50% do fundo social do pré sal e 100% dos Royalties sejam destinados para Educação, alegando inclusive que esta é a única forma de alcançar a meta.

Em que pese ser um avanço devemos ver essa proposta com bastante ressalvas. Em primeiro lugar porque o Governo ao invés de se comprometer de fato com a proposta, condiciona isto a aprovação de medidas via Congresso Nacional. Aprovação esta muito difícil de ser alcançada tendo em vista que depende de negociações com Prefeitos e Governadores e com um Congresso heterogêneo e com vários interesses locais e temáticos.

Em segundo lugar porque a vinculação de 100% dos Royalties para Educação é proposta polêmica e não consensual. Em que pese a necessidade de se priorizar a educação, existem em nosso país áreas subfinanciadas e que são imprescindíveis para o nosso desenvolvimento soberano que contam com forte força social dificultando a ação unitária, das quais podemos citar a saúde, combate a miséria, ciência e tecnologia e investimento em infra-estrutura.

O que ocorre é que o Governo mais uma vez opta pelo caminho mais fácil e se recusa a mexer nos privilégios da nossa atrasada elite nacional fazendo profundas reformas estruturais, em especial no setor financeiro e tributário, alterando assim, os rumos de nosso desenvolvimento. Não, Ministro Mercadante! Os 50% do fundo social e 100% dos royalties do pré sal não são a única forma de alcançarmos a meta do PNE. Existem outras e passam pela diminuição do superávit primário, pela auditoria da dívida pública, por uma reforma tributária com taxação de heranças e grandes fortunas e uma agressiva política de redução de juros.
Que tomemos as ruas, escolas e Universidades em defesa da educação pública casado com a luta por reformas estruturais que mude os rumos de nosso desenvolvimento em vistas a obtenção de mais investimentos para o Estado cumprir o seu papel. Uma luta não está dissociada da outra. Pelo contrário, se complementam!

*Jonatas Moreth é Diretor da UNE e Coordenador de Movimentos Sociais da JPT

22 de agosto de 2012

Novo polo naval em Jacuí coloca RS como segunda maior indústria oceânica do Brasil

Evento de anúncio do Polo Naval do Jacuí contou com presença da presidente da Petrobras, Graça Foster | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Rachel Duarte

O Rio Grande do Sul passou a ser o segundo polo da indústria oceânica do Brasil, atrás somente do Rio de Janeiro. A consolidação se dá com a descentralização da produção naval no estado, confirmada em cerimônia oficial no Palácio Piratini, nesta terça-feira (21), na presença da presidente da Petrobras, Graça Foster. Na ocasião, o governador Tarso Genro assinou os contratos para instalação do Polo Naval do Jacuí, que começa a funcionar com a produção de 24 módulos para seis plataformas de exploração marítima pela empresa Iesa.

Há menos de um mês, a Iesa assinou contrato com a Petrobras, no valor de US$ 720,4 milhões. Para executar esses contratos, a empresa investiu R$ 100 milhões na unidade industrial em Charqueadas, às margens do Rio Jacuí. “A essência desta escolha pela Petrobras é a nossa atenção aos prazos contratuais. Tenho certeza de que não vamos decepcionar”, diz o presidente da Iesa, Valdir Lima Carreiro.

A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster confirma a preocupação do governo federal com os prazos. “Nós valorizamos na Petrobras questões de conteúdo local. Tudo que pode ser feito no Brasil, deve ser feito no Brasil, com preço, prazo e qualidade. Sempre que temos um grande ou pequeno projeto sendo assinado, independe a escala, trabalhamos rigorosamente com os prazos. É uma ação gerencial nossa”, afirma.

Em 2016 devem começar a ser entregues os módulos produzidos no Polo Naval de Jacuí. A produção é 60% local e a estimativa é gerar 1,2 mil empregos diretos e 5 mil indiretos na região. Os módulos serão empregados para compressão de gás, injeção de gás natural, e CO2 nos poços para incrementar a produção de petróleo e para exportação ao continente.

A mão de obra será qualificada com formação no Senai e outros parceiros. “O Polo Naval Jacuí tem toda condição de dar muito certo. A escolha do local foi muito acertada para que não fiquem todos polos no mesmo local, empacotados. Isso acaba criando alguma ineficiência. Quando pega uma nova região com capacidade de escoamento faz enorme diferença”, analisa a presidente da Petrobras, considerando a existência do polo de Rio Grande.

"Garantimos investimentos para uma região com potencial, mas que ainda não tinha desenvolvimento industrial", explica Mauro Knijnik | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A ligação entre os dois polos navais gaúchos será feita por meio de hidrovias. Além da logística, a proximidade com a Região Metropolitana facilita a contratação de mão de obra, um dos principais desafios para a indústria oceânica. “Com a estratégia de deslocamento da Indústria Oceânica, vamos utilizar de maneira inteligente e planejada o potencial hídrico do estado, promovendo a descentralização do desenvolvimento econômico e permitindo a ampliação da cadeia de fornecimento da indústria off-shore e de exploração de petróleo e gás no RS”, afirma o secretário de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (SDPI), Mauro Knijnik.

Além da Iesa e da UTC (investimento de R$ 118 milhões) que já assinaram a Licença de Instalação (LI) com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), empreendimentos como a Engecampo, Tomé Engenharia e Metasa, estão em processo de licenciamento. Outros municípios ao longo da bacia do Rio Jacui, banhadas pelo Rio Taquari, também dispõem de áreas voltadas para o desenvolvimento da indústria oceânica.

“Com o contrato entre a Iesa e a Petrobras, o setor ganha um impulso extraordinário no estado, e garantimos o deslocamento de investimentos para uma região com potencial, mas que ainda não experimentava um desenvolvimento industrial”, explica Knijnik.

Com a descentralização da produção naval no Rio Grande do Sul, segundo o governo gaúcho, nenhum outro estado brasileiro terá uma indústria tão diversificada, atuando desde materiais leves a pesados, do parafuso ao casco, o que é fundamental para a sustentação e fortalecimento de toda a cadeia do setor.

"Rio Grande do Sul não está estagnado aos fluxos e refluxos da economia global", acentuou governador Tarso Genro | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“Não falamos isso porque queremos ser melhores. Sabemos que estados têm políticas análogas as nossas, mas fazemos esta exposição para dizer que o Rio Grande do Sul não está estagnado aos fluxos e refluxos da economia global. Está interferindo nesta economia e de forma integrada com as regiões. Estamos sendo compreendidos pelo movimento social, empresários, trabalhadores e pela academia com na nossa política de desenvolvimento industrial para o estado, que galopa nos projetos condicionantes do governo Dilma, onde a Petrobras tem uma contribuição extraordinária”, disse o governador Tarso Genro.

Revitalização da indústria naval brasileira tem crédito petista

Os canteiros para construção de módulos e outros equipamentos continuarão crescendo no país, com as novas licitações previstas pela Petrobras, como as da P-74 e P-76. “Entendemos a indústria naval como estratégica pela capacidade de mobilização de mão de obra e capacidade de multiplicação da base produtiva”, explica a presidente da Petrobras, Graça Foster.

A produção naval servirá tanto para a construção de navios como nas encomendas de sondas e plataformas para exploração marítima de petróleo, na camada pré-sal. A frota brasileira contabiliza 397 embarcações (navios de longo curso, de cabotagem e de navegação interior), mas a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) estima demanda para mil embarcações até 2020.

Segundo ministra Graça Foster, objetivo é alcançar a meta de 2,5 milhões em barris de petróleo por dia até 2016 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Os números da Antaq mostram que o Brasil tem hoje a quarta maior frota do mundo e é o terceiro mercado em produção, já como resultado da reativação possibilitada pela estabilidade financeira e pela decisão política de recuperar a indústria naval. “Sou uma entusiasta da indústria naval desde o começo da minha carreira na Petrobras”, fala a presidente, com 33 anos de empresa.

Os estaleiros voltaram à ativa com mais investimentos e reativação da navegação de cabotagem (costeira), durante anos relegada ao abandono. “Queremos alcançar a meta de 2,5 milhões em barris de petróleo por dia até 2016. Construir 38 novas unidades de operação e 36 novas sondas de perfuração”, informa Graça Foster.

16 de agosto de 2012

SANTA CHATA
Quando guri, na década de 50 do Século passado, ouvi, muitas vezes, histórias da “ Santa Chata “ contadas por mineiros mais antigos. Talvez o valoroso e querido companheiro Cídio Jacobs também tebha ouvido e as conheça.

Eram histórias tristes, deprimentes, de desemprego, de queda nos rendimentos dos mineiros, de demissões, de angústias e depressão.

Naquela época já havia preconceito para com o carvão mineral. O petróleo entrara na concorrência. Muitas fábricas, como as de ladrilhos, tintas e outras, passaram a usar o novo combustível no lugar da hulha negra. A nossa tradicional e querida “Maria Fumaça” passou a ser substituída pela locomotiva a óleo. Houve enorme redução na utilização e as minas tiveram que reduzir as jornadas de trabalho.

O carvão era transportado por trens movidos a vapor, produzido pelo carvão mineral, até o Porto do Conde onde era transferido para barcaças que, ao receber a carga negra, quase submergiam. Daí seu apelido de “ Chatas”.

Com a redução do consumo do carvão, ao invés de atracarem no embarcadouro do Porto do Conde ( município de São Jerônimo ) todos os dias, como era antes, aparecia uma vez, ou duas  vezes, por semana. Quando isso ocorria era um rebuliço. O sorriso voltava aos rostos sofridos dos mineiros pois isso significava um dia, talvez dois dias, de trabalho naquela semana e uns “pilas” no bolso, mesmo que muito pouco. Essa era a SANTA CHATA. A Chata salvadora, que trazia, um pouco, de esperança, que diminuía, um pouco, a angústia e jogava, um pouco, de luz no tenebroso horizonte.

Encontrei, hoje, no Jornal do Comércio, um texto, na Coluna “Artigos”, de autoria do jornalista Isnar Ruas que faz lembrar daquelas histórias. Sob o título “ Carvão, um fracasso” ele conta um episódio dessa longa saga, turva, tortuosa e claudicante desse nosso Ouro Negro. ocorrido na década de 70, quando o mineiro Aureliano Chaves era o vice-ditador deste País. Abaixo vai o texto para conhecimento.

Carvão, um fracasso

Isnar Ruas

Nem todas as iniciativas dão certo, especialmente por falhas e total incompetência governamental. Nossa história teve início há cerca de 60 anos, quando surgiu a Companhia Riograndense de Nitrogenados (CRN), com a função principal de dar um destino nobre ao carvão, produto que despertava atenção mundial, enquanto aqui enfrentava bom índice de rejeição. A CRN, dirigida por dois técnicos de alto gabarito e ambos de projeção mundial, o economista e professor Roberto Pires Pacheco, e o engenheiro-químico Nissin Castiel, assessorados  pelo também competente advogado e jornalista Roberto Eduardo Xavier, deu  viabilidade ao projeto de produzir energia a partir do uso do carvão, dentro de um processo que eliminava o excesso de cinzas. A utilização inicial seria na indústria de Rio Grande. A estrutura foi edificada mesmo naquela cidade litorânea.

Lá estiveram visitantes técnicos de várias partes do mundo, aprovando o que estava sendo feito. A fábrica iniciou com êxito o seu trabalho, significando ampla possibilidade de economia de óleo. Mas, de repente, o governo federal, sem explicações, decidiu parar o empreendimento. O equipamento lentamente foi transformado em sucata.  A única coisa aproveitável foi o conhecimento que, se disse, seria comercializado com a Universidade da Índia. Esteve em Porto Alegre o vice-presidente Aureliano Chaves, desmentindo especulações de que teria havido pressão das Sete Irmãs (sete maiores fabricantes mundiais de combustível). Mas, na real, o vice-presidente nada explicou. Acentuou que o tema não teria volta. E, no mais, foi um sonho que acabou.                                                                                                                                        

Jornalista

27 de julho de 2012

Ser humano: espécie invasora?

artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Ser humano: espécie invasora?

O ser humano é fruto de uma longa evolução das espécies em meio à biodiversidade do Planeta. Isto não quer dizer que somos os animais maiores, mais fortes e mais rápidos da natureza. Ao contrário, o ser humano nasce de maneira bem débil e sem poder caminhar e procurar a sua própria comida. Em geral, o ser humano não pode nadar grandes distâncias e não pode voar. Também não possui em sua constituição física garras para se defender ou atacar e nem venenos para paralisar suas vítimas ou predadores. Não possui nem penas e nem pêlos para se proteger do frio. O ser humano é uma espécie bastante frágil.

Porém, esta espécie natural e biologicamente frágil desenvolveu uma arma poderosíssima que é o cérebro. O homo sapiens (homem sapiente) desenvolveu o raciocínio, a linguagem, a cultura e as civilizações. A inteligência humana também foi fruto de um longo processo de evolução que se aprimorou enfrentando as adversidades da natureza. Para superar suas fragilidades, o homo sapiens passou a construir ferramentas e se transformou em homo faber (homem fabricante). Uma coisa fortaleceu a outra, pois a inteligência permite construir ferramentas e utensílios e a construção destes aparelhos ampliou os limites da inteligência. O cérebro desenvolvido permite a resolução de problemas práticos e a postura ereta do homo erectus (bípede) possibilitara o uso dos braços para manipular objetos, especialmente com a capacidade prensil do polegar. Foi assim que o ser humano conquistou uma grande mobilidade espacial e social.

Primeiro, o ser humano aprendeu a usar a pedra lascada, depois a pedra polida, as lanças, o arco e flexa, as facas, etc. Aprendeu a controlar o fogo para cozinhar, gerar calor e luz. Depois juntou o fogo com o domínio da mineração para construir ferramentas e armas com os avanços da metalurgia. Inventou a roda e os meios de transporte. Criou o zero, o sistema decimal de números e o sistema binário (zeros e uns) que, hoje em dia, são a base da sociedade da informação. Aprendeu a plantar e a domesticar os animais para melhorar sua alimentação. Depois construiu cidades, fábricas, hospitais, escolas, carros, trens, aviões, navios, submarinos, etc. Com isto, o ser humano passou a andar, nadar e voar por todo o planeta e se tornou uma espécie onipresente na Terra. Hoje em dia, os homens e mulheres podem dizer: “está tudo dominado”.

Tudo começou há cerca de duzentos mil anos. Os estudos com o DNA mitocondrial de fósseis humanos mostram que a espécie teve origem na África oriental. A expansão e a migração do homo sapiens para fora do continente africano começou há cerca de cem mil anos.

A primeira diáspora bem sucedida aconteceu entre 90 mil e 85 mil anos, quando um grupo de homo sapiens atravessou o Mar Vermelho e seguiu em direção ao sul da Ásia. Entre 85 mil e 75 mil anos chegaram à Índia, Indonésia e ao sul da China. Entre 65 mil e 50 mil anos, um fluxo chegou à Austrália e outro ao Oriente Médio (até o Bósforo). Entre 50 e 45 mil anos, chegaram à Europa. Entre 45 e 40 mil anos, novos grupos de migrantes chegaram à Ásia Central, Tibet, interior da China, Córeia e Japão. De 40 a 25 mil anos, outros fluxos chegaram à Rússia, ao Circulo Polar Ártico, à Sibéria e ao estreito de Bering. De 25 a 22 mil anos um pequeno grupo chegou à América do Norte. Mas os rigores da Idade do Gelo restringiram a expansão humana. Entre 15 e 12 mil anos a diáspora que começou na África, se espalhou pela América do Norte e chegou à América Central e à América do Sul.

Com o fim da Idade do Gelo, entre 10 mil e 8 mil anos atrás, houve expansão da agricultura e o ser humano se espalhou pelo Globo, ocupando todos os continentes e todas as regiões do mundo. Estima-se que a população mundial passou de poucos milhares de indivíduos há 50 mil anos para 5 milhões de habitantes há 8 mil anos, cerca de 250 milhões de habitantes no ano 1 da era Cristã, algo em torno de 500 milhões no ano de 1500 (descobrimento do Brasil), 1 bilhão em torno do ano 1800 e 7 bilhões de habitantes em 2011. Estima-se que a soma de todas as pessoas nascidas desde o surgimento do homo sapiens chegue na casa de 110 bilhões de pessoas.

Diversos historiadores consideram que a migração humana foi um sucesso e que a humanidade criou uma grande civilização cheia de realizações e invenções geniais. Porém, existem outros historiadores que consideram que o ser humano, a despeito de ter realizado algumas obras geniais, tem causado muitos danos à natureza e ao Planeta. As migrações humanas desde a África trouxeram grandes destruições ambientais e a biodiversidade dos biomas foi alterada.

A natureza do continente americano sofreu muito com a chegada humana, especialmente após o crescimento do volume de pessoas. Por exemplo, as migrações humanas que chegaram à ilha de Páscoa (Rapa Nui), pertencentes atualmente ao Chile, acabaram por destruir a natureza local e a própria civilização da terra dos Moais. A civilização Nasca no Peru, além de fazer as famosas linhas de Nasca, contribuiram para a degradação ambiental ao cortar as árvores locais que resistiam à pouca precipitação pluviométrica.

Mas foi após a chegada de Cristóvão Colombo que os danos ao meio ambiente se intensificaram e a crise ambiental se agravou progressivamente. Em Galápagos, os equatorianos, durante mais de um século, mataram as tartarugas para fazer óleo e iluminar as cidades (como Guayaquil e Quito). Das diversas espécies de tartarugas, uma tem uma dramática extinção, pois só havia sobrado o “solitário George” (último exemplar daespécie), que morreu no mês passado. Além disto, houve a introdução de diversas espécies invasores de plantas e bichos que destruíram grande parte da riqueza natural do arquipélago. Em dimensão bem maior, os Estados Unidos da América (EUA) são campeões mundiais de destruição ambiental e estão afetando, não só o seu território, mas o clima do Planeta.

No Brasil, 93% da Mata Atlântica foi destruída a ferro e fogo. Outros biomas, como o Cerrado, os Pampas e a Amazônia estão indo pelo mesmo triste caminho. Os rios das grandes cidades foram destruídos ou simplesmente viraram canais de esgoto, como os rios Tietê, Carioca e Arrudas, respectivamente, em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os exemplos do impacto negativo da população humana são muitos e dramáticos. A destruição do solo, das águas e do ar se espalha com grande velocidade, destruindo a riqueza biológica e as espécies nativas e endêmicas.

Por isto, alguns pensadores estão reavaliando o papel das migrações e até considerando o ser humano uma espécie invasora. As espécies invasoras são aquelas oriundas de outra região ou bioma, e que se adaptam e proliferam muito bem no novo ambiente, competindo com as espécies nativas por nutrientes, luz solar e espaço físico. Em geral, elas modificam o ecossistema original e reduzem a biodiversidade. Por falta de predadores naturais, as espécies invasores multiplicam sua presença como uma praga.

Por exemplo, o filósofo britânico John Gray, em entrevista à revista Época (29/05/2006), apresenta um prognóstico pessimista sobre a humanidade: “A espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a existência dos outros seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o equilíbrio do planeta. E a Terra reagiu. O processo de eliminação da humanidade já está em curso e, a meu ver, é inevitável. Vai se dar pela combinação do agravamento do efeito estufa com desastres climáticos e a escassez de recursos. A boa notícia é que, livre do homem, o planeta poderá se recuperar e seguir seu curso”.

O homo sapiens utilizou o cérebro para construir uma avançada civilização planetária, mas tem utilizado a sua inteligência de maneira instrumental e egoísta. O impacto humano já ultrapassou a capacidade de regeneração de todos os continentes. Não há mais fronteiras para novas migrações. Será que o homo sapiens que se espalhou pelo Planeta (chegando por último ao continente americano) pode ser classificado como uma espécie invasora? Ou haverá uma forma evitar seus efeitos daninhos?

Referência: A jornada da humanidade

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

17 de julho de 2012

Quase 140 milhões de brasileiros vão às urnas nas eleições de outubro

TSE registrou 464.701 candidaturas para os três cargos até esta segunda - Foto: Nelson Jr./ASICS/TSE

Da Redação 
No dia 7 de outubro, 138.492.811 eleitores em 5.569 zonas eleitorais irão às urnas para escolher prefeitos, seus respectivos vices e vereadores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até a segunda-feira (16), o sistema do órgão registrou 464.701 candidaturas para os três cargos.

De acordo com a legislação eleitoral, nas cidades com mais de 200 mil eleitores e onde a disputa pela prefeitura tenha mais de dois candidatos há a possibilidade de segundo turno. Nesse caso, a nova votação está marcada para o dia 28 de outubro com os dois candidatos mais votados no primeiro turno.

Detentor do maior eleitorado do país, com 31.229 .000 de pessoas aptas a votar, São Paulo também é o estado com maior número de candidatos inscritos para concorrer nas próximas eleições. Segundo o TSE, 79.467 políticos fizeram o pedido de candidatura, sendo 2.012 para prefeito, 2.016 para vice-prefeito e 75.439 para vereador. Apesar de o prazo para formalizar as candidaturas já ter se encerado, o tribunal ainda está totalizando os pedidos.

Pelo calendário eleitoral, até o dia 4 de agosto poderá ser feito o pedido de impugnação de candidaturas. Isso, contudo, não impede que um candidato participe do pleito. Ele poderá concorrer sub judice até que a Justiça decida o caso. No entanto, se ao final do processo a impugnação for confirmada e o candidato tiver sido eleito ele terá que deixar o cargo.

Além disso, conforme o calendário eleitoral, no dia 6 de agosto os partidos políticos, as coligações e os candidatos são obrigados a divulgar na internet relatório discriminado dos recursos recebidos ou estimativa do financiamento da campanha eleitoral e os respectivos gastos. A Justiça Eleitoral irá disponibilizar um portal para divulgação dessas informações.

No dia 21 de agosto começará a propaganda eleitoral gratuita na rádio e televisão. A propaganda se estende até o dia 4 de outubro – três dias das eleições. Os partidos e candidatos poderão fazer campanha paga até o dia 5 de outubro.

Segundo o calendário eleitoral, a conclusão de processo de apuração deve ocorrer até o dia 12 de outubro. No entanto, desde a implementação do sistema informatizado de votação, com o uso da urna eletrônica, é possível conhecer o resultado da eleição na noite do dia da votação. Nos municípios onde houver a necessidade de segundo turno, a partir do dia 13 de outubro começa a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, que se estenderá até o dia 26.

Com informações da Agência Brasil