15 de outubro de 2012

Getúlio e Lula,

artigo de Montserrat Martin

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 Mito maior da história política nacional, Getúlio Vargas é alvo de estudos e biografias, duas delas nas livrarias atualmente, sendo uma de um brazilianist, Richard Bourne, professor da Universidade de Londres, que também escreveu uma biografia de Lula. Evidentemente, é mais fácil estudar o personagem da história que o do presente, mesmo sendo possível estabelecer paralelos entre ambos – por alguns traços comuns que merecem ser comentados.

São representantes de projetos políticos que preconizam um papel ativo do Estado na economia e tem uma visão dos interesses nacionais diante da economia global. Edição de aniversário da revista Época, esse ano, relembrou o primeiro número da revista Globo e nela constava uma matéria contrária à criação da Petrobrás – como um erro que Vargas estaria cometendo, ao entrar em áreas que deveriam ser deixadas à iniciativa privada. Pois bem, a Globo estava errada e Getúlio certo, a Petrobrás é fundamental para a economia brasileira.

A intuição profunda sobre o povo e a visão estratégica da política parecem ser inegáveis em ambos. Eu, por exemplo, duvidei de Lula quando ele “inventou” Haddad para prefeito de SP, passando por cima de pré-convenções, fazendo outros postulantes abrirem mão, em nome de um ex-ministro que sequer conseguira sucesso na realização do Enem. Na época, escrevi que Lula estava sofrendo de “Complexo de Midas”; deixei registrado, porém, que “a tese de que estamos diante de um ‘complexo’ psicológico só se confirma, aliás, caso Haddad não emplaque, porque sua eleição significaria que o pretenso poder de Lula, de tornar ouro tudo que toca, não é ilusório, mas real”. Pois bem, é real: ele consegue coisas antes inimagináveis, que os seres comuns (como eu) duvidam.

Haveria a hipótese da “sorte”, já que Russomano era favorito e deixaria Haddad de fora do segundo turno. Se foi sorte ou estratégia, não saberemos, há detalhes inacessíveis aos humanos comuns. Sei apenas (e isso já é mais do que a maioria fica sabendo, pois a grande mídia não entra nessa análise) que o fator central da desestabilização de Russomano foi a contradição entre a imagem pessoal cultivada (de parceiro da população, em programa sensacionalista de TV) e a quebra dessa imagem, envolvida em crise de valores morais – leia-se andar com uma “assessora pessoal” enquanto a mulher está na maternidade tendo um filho dele. Pois bem, não temos como saber como a vida pessoal do Russomano ‘vazou’, se foi pura sorte da concorrência ou não, se foi por competência política mesmo.

Lula sempre foi um pragmático, desde seus tempos de sindicalista, quando era tachado de direitista pelos partidos de esquerda dos anos 70 e início dos anos 80, até a criação do PT. Tal como Getúlio, conquistou inegavelmente o coração das multidões, até hoje carentes de um Estado paternalista. Não existe um “petismo” porque o próprio PT aceita as indicações que Lula faz. O Lulismo sim, como o Getulismo, é um fenômeno político e sociológico, o que é uma verdade científica independente de interpretações morais, para o bem ou para o mal. Aliás, a tese do Roberto Jefferson só “pegou” porque foi muito bem contada na sua origem, preservando o mito Lula e o colocando inicialmente no papel de vítima de uma armação na qual “Ele” até chorou. Por último, Jefferson tentou mudar sua versão, mas deve o sucesso à tese original. Lula, assim como Getúlio, parece ter se enraizado no povo, “acima do bem e do mal”.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

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