Juliano Tatsch
GABRIELA DI BELLA/JC http://www.jornaldocomercio.com.br/
A chamada pós-modernidade trouxe junto no seu turbilhão de transformações a profusão de locais de acesso à informação. Hoje, obter informação é extremamente fácil; saber interpretá-la e transformá-la em conhecimento é um desafio. Quando se fala em ensino, então, esse desafio é elevado a uma grande potência e o papel do educador ganha destaque.Para a educadora Tracey Espinosa, emoções têm de ser consideradas pelos professores.
Reunir os conhecimentos de outros campos de estudo à pedagogia, avançando, assim, no desenvolvimento de processos de aprendizagem. Essa é a proposta da Ph.D em Educação e diretora do Instituto de Enseñanza e Aprendizaje (Idea) da Universidade de San Francisco de Quito, no Equador, Tracey Espinosa. A professora de Educação e Neuropsicologia foi uma das palestrantes do 11º Congresso do Ensino Privado Gaúcho, realizado pelo Sindicato dos Estabelecimentos do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS).
De acordo com ela, a pedagogia tem de andar de mãos dadas com a neurociência e com a psicologia. “É preciso unir isso. O professor tem de integrar a ciência à educação. Professores precisam ser cientistas educacionais. Esse é um novo campo que está surgindo, é um conceito novo em educação”, afirma.
Para Tracey, os professores precisam fazer mais do que apenas repassar informações e querer que os alunos as retenham. “O professor tem de formar bons pensadores para que eles aprendam durante toda a vida, e não só na sala de aula”, diz. A ideia de Tracey vai ao encontro do que o filósofo Immanuel Kant pregou em textos produzidos entre 1776 e 1787 e que foram reunidos no livro Sobre a Pedagogia. Para Kant, o ensino através da memorização de conteúdo é danoso, pois é limitador. “Não é suficiente treinar as crianças; urge que aprendam a pensar”, disse o filósofo. Percebe-se, pois, que a ideia de formar pensadores não é nova, apesar de pouco aplicada.
Para que isso seja feito, para que bons pensadores sejam formados, é necessário conhecer como a máquina que pensa funciona. Para a pesquisadora, aprender sobre os mecanismos de processamento das informações do cérebro é ponto-chave quando o que está em jogo é o ensino e a aprendizagem. “A educação precisa se utilizar do conhecimento dos neurocientistas e dos psicólogos para avançar. A possibilidade de sucesso no ensino cresce se isso for feito”, ressalta.
A estudiosa destaca que não existem dois cérebros iguais, nem no caso de irmãos gêmeos idênticos. Segundo ela, as experiências fazem os cérebros serem distintos, e isso tem forte impacto no ensino. “Esse é um conceito poderoso de diferenciação. É preciso ter flexibilidade para ensinar. Ensinar de formas diferentes para pessoas que aprendem de modos diferentes. O objetivo da aula não muda, é o mesmo para todos. O que muda é a metodologia”, enfatiza. Tracey frisa que quando as crianças chegam na escola, já o fazem em níveis distintos. Para ela, o trabalho do educador deve maximizar o potencial de cada aluno, sabendo que eles são diferentes. “É preciso ensiná-los e avaliá-los de formas diferentes”, diz.
Ambiente propício e motivação são fundamentais para a aprendizagem
Tracey, que é norte-americana nascida na Califórnia, defende que a existência de um ambiente que estimule é essencial para a aprendizagem. “A motivação é aliada no processo. O aluno motivado fica mais tempo envolvido e, no que se refere ao ensino, mais tempo significa melhor aprendizagem”, observa. Quando se refere ao ambiente, a pesquisadora enfatiza que não se refere somente ao espaço físico, mas também ao clima criado pelo professor dentro da sala de aula. Para ela, é preciso deixar espaço para que o aluno erre, pois, somente assim, ele não terá medo de aprender.Outro ponto que a estudiosa frisa como de suma importância é a percepção de que o ensino não deve ser baseado somente na razão. Conforme ela, não há como o aluno se desvincular de suas emoções para aprender. “Aprendemos através dos sentidos. É impossível julgar a informação de forma apenas racional. Nada do que fazemos passa pelo nível racional sem passar pelo emocional”, afirma.
A postura do professor frente aos alunos também tem grande influência junto ao aluno e a seu aprendizado. Segundo Tracey, professores motivados motivam seus pupilos. “A paixão que os professores têm pelo seu campo de ensino é contagiosa. Se o aluno vê que o professor ama o que faz, ele passa gostar mais daquilo. Se um professor de Matemática dá uma aula apaixonada, o aluno vai acreditar que tem de haver algo de bom na Matemática; do contrário, aquele professor não gostaria tanto”, ressalta.
A norte-americana enfatiza a importância da crítica do educador ao estudante, como forma de ele perceber que algo está sendo feito de forma errada. A crítica, porém, não deve ser ostensiva, não deve ser para constranger o aluno. “Elogiar em público e criticar em privado. É assim que se deve fazer”, observa.
Tracey destaca que o aprendizado não deve se restringir somente ao aluno. De acordo com ela, aprender tem de ser um objetivo primordial do educador. “Professores que param de aprender estão na profissão errada. Só se para de aprender quando se morre”, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário